domingo, 3 de novembro de 2013

OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"O corpo do homem não é o próprio homem, é somente a sua casa,
o seu instrumento, o seu meio de transporte, um cavalo, um
automóvel... O homem verdadeiro, é preciso procurá-lo no
espírito omnisciente, omnipotente, que não tem qualquer limite.
Por isso, nós só podemos tornar-nos verdadeiramente imortais se
conseguirmos identificar-nos com o nosso espírito.
Tudo o que existe em baixo no mundo material, físico, tem a sua
origem em cima, no mundo do espírito. As pedras, as plantas, os
animais e os homens começaram por existir nas regiões
superiores, antes de descerem para se incarnarem aqui em baixo. A
matéria física não é senão uma condensação do espírito. O
espírito está na origem de todo o mundo criado, por isso é
essencial para o ser humano ter esta filosofia que põe em
primeiro lugar o espírito: é com esta condição que ele pode
progredir."

"Por vezes, é impossível não se sentir exasperado com o
comportamento de certas pessoas, sobretudo se se tem de estar
frequentemente com elas. Mas, em lugar de explodir ou de ficar a
roer-se por dentro, é preferível procurar compreender por que
é que elas agem daquele modo e até ajudá-las. Tentai:
descobrireis que tendes muitos mais recursos em vós do que
imaginais. Quando se faz um esforço para refletir, para pensar,
é-se obrigado a acalmar.
E eis outro método: concentrai-vos na imagem de um ser que amais
e entregai-vos à alegria e ao encanto que essa imagem suscita em
vós. Impregnai-vos dela e em breve conseguireis olhar para a
pessoa que vos exaspera sem sentir irritação. Ainda não
notastes que as pessoas que ficam apaixonadas têm tendência a
gostar de toda a gente? Quando se ama verdadeiramente, envolve-se
todo o universo na luz e no calor desse amor."

"De manhã, assim que vos levantais, ides à janela do vosso
quarto, afastais as cortinas e olhais para o céu, pois precisais
de perceber como está o tempo. Depois, se ides trabalhar, fazer
compras, visitar amigos, etc., no momento de sair olhais em
frente e depois para a direita e para a esquerda, para ver se o
caminho está livre. Aquilo que assim fazeis no plano físico é
ainda mais importante fazê-lo nos planos psíquico e espiritual.
Portanto, de manhã, ao despertar, a primeira coisa a fazer é
olhar para o Céu, de onde vos vem a luz, para serdes bem
inspirados em tudo o que tereis de fazer durante o dia. Depois,
no momento de agir, deveis sempre olhar para ver se o caminho
está livre. É perigoso agir precipitadamente, pois talvez se
ganhe alguns minutos, mas comete-se erros, pronuncia-se palavras
infelizes, e assim perde-se o dia inteiro, sem falar nas
consequências que daí advêm. Portanto, começai cada dia
virando o vosso olhar para as entidades luminosas; elas
indicar-vos-ão a direção a tomar e acompanhar-vos-ão no caminho."

"Ensina-se aos cristãos que, ao sacrificar a sua vida na cruz,
Jesus os salvou, e isso dá a alguns um imenso orgulho, um
sentimento de grande segurança. Os seus amigos e os seus
parentes talvez não deem um cêntimo por eles, mas o filho de
Deus em pessoa deu a sua vida para os salvar. Como é que eles
não hão de sentir-se orgulhosos? Infelizmente, basta ver o
estado da cristandade para constatar que os cristãos não estão
mais salvos do que os crentes das outras religiões. Eles cometem
as mesmas desonestidades, os mesmos crimes, pois é sempre a
mesma natureza humana egoísta, gananciosa, vingativa, que se
manifesta neles.
Cada grande filho de Deus que vem à terra traz aos humanos
verdades e métodos novos para os salvar, mas cabe a eles
compreendê-los e utilizá-los, cabe a eles trabalhar para a sua
própria libertação. Vós direis: «Mas o Mestre está a
diminuir o valor do sacrifício de Jesus!» De modo nenhum. A
grandeza do sacrifício de Jesus não fica diminuída se eu vos
disser que sereis salvos pelo vosso trabalho. Deus quer só uma
coisa: o aperfeiçoamento da criatura humana. E, para alguém se
aperfeiçoar, tem de fazer esforços. O nosso caminho pode ser
aberto por santos, profetas, Iniciados, eles podem dizer-nos como
caminhar, mas ninguém pode fazer o caminho por nós, nós é que
temos de avançar."

"Existem pessoas dotadas de faculdades mediúnicas: elas captam no
invisível mensagens, imagens, correntes de forças. Muitos
invejam esse dom, sem terem a noção de que ele comporta riscos
se essas pessoas que o têm se limitam a transmitir o que
receberam sem se questionar sobre a natureza daquilo que assim
captaram. Essas mensagens são verídicas ou não? Vêm do mundo
da luz ou do mundo das trevas?... Eis questões que tais pessoas
deveriam colocar a si próprias.
Quem possui faculdades mediúnicas deve, mais do que qualquer
outra pessoa, fazer um verdadeiro trabalho pelo pensamento. Só
com esta condição é que as faculdades ditas extrassensoriais
serão úteis para a própria pessoa e para as outras. Até aí,
ela será apenas uma espécie de tubo que deixa passar,
indiferentemente, água limpa ou água suja. Mas, no dia em que
ela se tornar um médium consciente, será como o ramo de uma
árvore, que sabe transformar a seiva bruta que recebe e com ela
formar folhas, flores e frutos."

"O modelo para todas as organizações é o nosso próprio
organismo. O homem não pode inventar nada que não exista já na
criação. Ele pode imitar, pode reproduzir, mas não pode
inventar. O organismo humano já é, por si mesmo, um mundo
organizado, construído segundo as leis do alto. Ele traz
inscrita nele toda a filosofia da vida.
Esta organização, de que o nosso próprio organismo é o
modelo, deve refletir-se em primeiro lugar na família. A
família é uma instituição divina, porque é um organismo onde
se aplica, em larga medida, a lei da gratuidade, e é esta
gratuitidade que constitui a sua unidade, a sua harmonia.
Evidentemente, existem famílias que parecem ser compostas por
membros que são muito distintos uns dos outros, como se,
psiquicamente, espiritualmente, fossem de origens diferentes. Com
efeito, eles podem ter origens diferentes, e, se for o caso, não
há que ficar surpreendido: eles estão juntos precisamente para
aprenderem as leis da gratuidade, ou seja, as leis da paciência,
da indulgência, do amor, do sacrifício. São também estas leis
que devem reger a família que os humanos formam na terra inteira."

"O cérebro humano está construído para absorver infinitamente
mais conhecimentos do que aqueles que de momento lhe são dados
para assimilar, mas isso só é possível em certas condições.
As capacidades cerebrais dependem de numerosos fatores: em
primeiro lugar, fatores fisiológicos, tais como a respiração e
a alimentação; e também é necessário evitar as tensões. Mas
o essencial é o propósito com que se adquire os conhecimentos,
o que se quer fazer com esse saber que se está a adquirir.
É preciso estudar por razões nobres, desinteressadas, para se
beneficiar os outros com o seu saber. Aqueles que se instruem
para se impor aos outros, para os explorar, se pavonear diante
deles, seja qual for a matéria que estudam, limitam as
capacidades do seu cérebro."

"À medida que os anos passam, a maior parte dos humanos perdem o
gosto pelas coisas: respiram, comem, bebem, caminham, veem,
ouvem, sem que a sua consciência participe grande coisa nessas
atividades. Dir-se-ia que os seus sentidos se atrofiaram. Mas,
quando uma pessoa fica gravemente doente, o que é que se passa?
Ela é obrigada a viver, durante meses, imóvel e isolada num
quarto, onde leva uma vida vegetativa. Depois, finalmente, entra
em convalescença, e aí, de repente, os alimentos e o ar são
para ela um deleite. E que alegria é poder de novo caminhar
livremente, sair para contemplar o céu, o sol e toda a natureza
na primavera, escutar o vento e o canto das aves!
Eis o lado bom de certas doenças. Mas será razoável esperar
até ter um acidente ou ficar gravemente doente para ter de novo
gosto pelas coisas?"

"«Não podeis servir Deus e Mammon», disse Jesus, como referem
os Evangelhos. O que significa que não se pode satisfazer
simultaneamente as exigências da terra e as do Céu.
Para se ser reconhecido pelos seus amigos celestes, muitas vezes
é preciso renunciar a ser reconhecido pelos humanos, é verdade,
mas que importa isso?... Quantos anos durará aquilo que ganhais
da parte dos humanos? Mesmo que sejais aprovados, elogiados,
festejados por milhões de pessoas, em breve elas deixarão a
terra, e vós também; então, como vos sentireis quando
chegardes ao outro mundo? E como vos sentireis já nesta vida se
estiverdes privados do bem-querer e do amor das entidades luminosas?
Ao colocardes-vos ao serviço do Céu, não espereis que os
humanos venham manifestar-vos a sua estima e o seu
reconhecimento: eles nem sequer sabem o que se passa em vós.
Limitai-vos a trabalhar. Quando sentirdes que esse trabalho vos
enche de uma vida nova, será que tereis necessidade de que
outros venham aplaudir-vos e felicitar-vos?"

"A curiosidade é uma qualidade muito boa, é certo, foi ela que
levou os humanos ao seu grau de civilização atual. Mas esta
curiosidade deveria ser um pouco esclarecida e orientada, pois,
muitas vezes, o que é que se vê? Homens e mulheres que querem
conhecer tudo da vida e que se encorajam uns aos outros a fazer
as experiências mais audaciosas. Eles não se questionam sobre
onde é que isso acabará por levá-los, em que dificuldades, em
que sofrimentos irão cair por se terem lançado nessas
experiências imprudentemente e sem reflexão.
Observai uma mosca: ela também é curiosa, quer saber o que é
aquela teia que ali está, tão bem construída, diante dela. Ela
não se apercebe de que a teia é obra de um ser muito manhoso,
uma aranha, que, escondida no seu centro, aguarda, à espreita...
Então, aventura-se na teia, fica presa nos seus fios e ei-la
apanhada na armadilha, para grande satisfação da aranha, que
fará dela a sua refeição. É o mesmo tipo de curiosidade que,
muitas vezes, faz com que os humanos se percam. Então, em vez de
se porem a sentir, tocar, provar, escutar ou olhar seja o que
for, com o pretexto de que desejam conhecer tudo, se não
quiserem ser devorados devem começar por identificar todas as
teias de aranha que estão construídas diante deles."

"A linha reta é o caminho mais curto entre dois pontos, isso é
bem sabido. Mas será aconselhado seguir sempre em linha reta? Se
quereis atravessar uma cidade, por exemplo, dificilmente podereis
fazê-lo em linha reta sem embater em prédios, carros e peões;
do mesmo modo, neste imenso território que é a vida, onde
multidões de criaturas apressadas se deslocam, será raro
conseguirdes atingir diretamente um objetivo sem chocardes com
interesses contrários aos vossos.
Portanto, por vezes é preferível escolher a linha curva, isto
é, não se apresentar diante dos outros dizendo imediatamente:
«Aqui estou eu. Tenho projetos, deixai-me realizá-los.» Muitas
vezes, é preferível desviar caminho, começando por passar por
lugares onde só encontrareis obstáculos. E, como as ocasiões
não são todas igualmente favoráveis, esperai também o melhor
momento para passar. Isso significa que, para realizar todos os
seus bons projetos, é preferível não se impor imediatamente e
dar mostras de psicologia, de paciência, de maleabilidade.
Seguir a linha curva é isso. "

"Não digais que não tendes tempo para dedicar aos exercícios
espirituais, porque de manhã precisais de ir para o trabalho,
tendes muitas coisas a fazer antes de sair de casa e ao fim do
dia, quando regressais, é a mesma coisa... porque eu
responder-vos-ei que, se não tendes tempo para estar na harmonia
e na luz, tê-lo-eis sempre para estar nas perturbações, nas
desordens e nas trevas.
Se há uma coisa na vida que acontece de certeza é ficar triste,
fraco e desanimado; e o que é menos certo é estar feliz, forte
e sereno. Porquê? Por causa dessa frase que todos gostam tanto
de usar: «Não tenho tempo!» Eis uma forma cómoda de
justificar a preguiça e a inércia. Não tendes tempo para vos
concentrar, para meditar, para orar, para fazer exercícios, para
vos tornar mais resistentes, mais esclarecidos? Que destino
estais a preparar para vós assim?"

"Vós gostaríeis que muitas coisas na vossa vida melhorassem e
dizeis: «Senhor, faz com que... Senhor, dá-me...» Para que as
vossas preces sejam atendidas, têm de estar apoiadas numa fé
inabalável e em esforços contínuos. O Céu não quer outra
coisa a não ser atender às vossas preces, mas um desejo que vos
limitais a exprimir de vez em quando dilui-se e acaba por se
perder no espaço. Se não obtendes aquilo que pedis, é em vós
que deveis procurar a causa disso: certamente vos faltou
estabilidade e perseverança no esforço.
Muitas pessoas, se se comportassem na sua vida profissional como
se comportam na sua vida espiritual, não manteriam por muito
tempo o seu posto de trabalho. Com o pretexto de que as
realidades do mundo espiritual são invisíveis, imaginam que
basta projetarem de vez em quando alguns desejos titubeantes. Mas
não basta. Mais ainda do que no plano físico, os sucessos que
se obtém no plano espiritual exigem uma prática e esforços contínuos."

"Tentai convencer os humanos que é da maior importância estar
atento, vigilante... Eles procuram desenvolver toda a espécie de
outras faculdades, mas a atenção nem por isso... No entanto, em
imensos casos é a atenção, mais do que inteligência, que
permite obter sucessos, e muitos acidentes devem-se à falta de vigilância!
Na Índia, conta-se que um homem condenado à morte suplicava que
o deixassem viver. O juiz disse-lhe: «De acordo, vamos dar-te
uma oportunidade. Estás a ver aquela taça cheia de água? Se
conseguires dar a volta à cidade sem verter uma gota, a tua vida
será poupada. Senão, serás decapitado.» O homem partiu com a
taça cheia até à borda... e, quando voltou, não tinha perdido
uma só gota! O juiz perguntou-lhe: «Então, o que é que viste
na cidade, o que é que ouviste?» Ele não tinha visto nem
ouvido nada, toda a sua atenção estava concentrada na taça. A
atenção é isto. E, apesar de não vos encontrardes na mesma
situação deste condenado, ela pode salvar-vos a vida."

"Os números não são abstrações, são realidades vivas e
atuantes. Consideremos o número 10, por exemplo, que é um
símbolo da totalidade: ele é composto pelo 1 e pelo 0; mas este
1 e este 0 não devem ser considerados somente ao lado um do
outro, há que ligá-los e pô-los em movimento. O 1 representa o
espírito, o 0 representa a matéria, e o espírito penetra na
matéria para a animar, para a vivificar. Podemos dizer que todo
o ato que contribui para manter a vida em nós corresponde ao
número 10. Comer é abrir a boca, o 0, para nela introduzir o
alimento, o 1, e este encontro produz uma energia. E o que é
ver? Uma ação da luz, o 1, que vem embater no olho, o 0. Isto
também se aplica ao som que vem embater no nosso ouvido.
A cabeça, que é esférica, também é um 0, e é sobre este 0
que deve descer o 1, o espírito. Enquanto não tiver recebido o
espírito, a nossa cabeça não pode dar nada de bom. Mas, no dia
em que é visitada por um raio celeste, ela gera um filho divino
e nós tornamo-nos o 10. Até lá, não passamos de um 0. Vós
direis: «Mas isso são interpretações!» Sim, são
interpretações..."