domingo, 8 de janeiro de 2017

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"Quer estejais sozinhos na natureza ou no vosso quarto, na verdade nunca estais sós: há entidades que participam na vossa vida. Uma pessoa que trabalha para o bem encontra por toda a parte entidades luminosas que se regozijam com ela e a ajudam nas dificuldades, fazendo-a entrever portas de saída, soluções para os seus problemas. A maior parte das vezes, isso passa-se sem ela se aperceber. Mas, se a pessoa se esforçar por tomar consciência dessas presenças benfazejas, beneficiará muito mais delas.
Como podeis atrair até vós essas entidades? Pelo vosso amor. Com a máxima frequência possível, pensai em enviar-lhes um sorriso, um olhar, um raio do vosso coração, dizendo-lhes: «Ó vós, que povoais a imensidão, eu amo-vos, quero compreender-vos, quero estar em harmonia convosco.» Talvez ninguém que esteja junto de vós se aperceba de que enviastes uma mensagem para o espaço, mas essas entidades aperceber-se-ão, elas receberão o vosso amor, regozijar-se-ão com ele e reenviá-lo-ão a vós multiplicado ao cêntuplo. São estas as verdadeiras trocas, é esta a verdadeira comunhão."

"Aprendei a servir-vos da água para o vosso trabalho espiritual. Por exemplo: lavai bem as mãos, pegai num copo de água pura, de preferência água de uma fonte, segurai no copo com a mão esquerda e mergulhai nele um ou dois dedos da mão direita, concentrando-vos numa qualidade que gostaríeis de adquirir, num progresso que gostaríeis de realizar, ou até, simplesmente, para melhorardes a vossa saúde. Bons curadores conseguiram melhorar o estado de certos doentes dando-lhes a beber água que eles tinham magnetizado. Contudo, não imagineis que, por este meio, ireis recuperar imediatamente a saúde ou curar pessoas com quem vos relacionais, isso seria uma grande presunção. Estou a ensinar-vos este método só como um exercício, para aprenderdes a ver na água um suporte para um trabalho do pensamento. Bebei depois essa água, se quiserdes, ou então usai-a para regar as vossas plantas."

"Já aconteceu a artistas, em momentos de desânimo, destruírem algumas das suas obras. É normal nunca estar totalmente satisfeito com as suas criações, mas porquê ir ao ponto de as destruir? Esses artistas não só fizeram mal a si próprios, como privaram a humanidade de grandes tesouros. O motivo do seu gesto foi que eles estavam demasiado centrados neles mesmos, nas suas dificuldades, nas suas angústias, nos seus tormentos. Não souberam sair dos limites do seu eu para se porem em contacto com tudo o que há de bom e de belo nos humanos e na criação. Só esta atitude poderia tê-los protegido, impedindo-os de virarem a sua insatisfação contra a sua obra.
Tal como esses artistas, os espiritualistas podem passar por períodos de desânimo, pois seguem por um caminho muito difícil e podem ser tentados a renegar o seu compromisso. Mas, se eles se maravilharem perante as obras de Deus e com os servidores de Deus, esse deslumbramento protegê-los-á da tristeza e do desespero que as suas próprias imperfeições podem inspirar-lhes."

"Todos os dias nós comemos. Mas não fiqueis chocados se eu vos disser que nós também servimos de alimento a outras entidades. As entidades luminosas usam os nossos bons pensamentos, os nossos bons sentimentos, tudo o que em nós é inspirado pela sabedoria e pelo amor, para se alimentarem disso. Elas consideram-nos como árvores que produzem flores e frutos. Quando vêm colhê-los, não partem os nossos ramos; pelo contrário, regam-nos, cuidam de nós, para que possamos dar frutos ainda mais suculentos. Mas existem igualmente entidades tenebrosas, os demónios. Também eles precisam de se alimentar e vão procurar o seu alimento nos humanos, de cujos maus propósitos e maus sentimentos se aproveitam como manjares suculentos; deste modo, tiram-lhes todas as suas energias e deixam-nos esgotados.
Nada é pior do que ser devorado pelos espíritos tenebrosos e nada é mais salutar do que servir de alimento às entidades celestes. Por isso os Iniciados nos dizem que devemos oferecer-nos todos os dias ao Senhor, para que Ele se alimente de nós. Com esta imagem, eles revelam-nos que o ideal espiritual do homem é ser absorvido pelo Senhor, a fim de ter n’Ele a sua morada."

"Pelo facto de verem e ouvirem tantas coisas, a maior parte das pessoas acabam por ficar saturadas, enfadadas. Ficam com a impressão de que já nada têm a aprender: permitem que a sua atenção vagueie sem se deter em parte nenhuma e já nada se regista nelas. Dizem: «Isto, eu já sei… Isto, eu já vi… E aquilo também, aquilo também…» Ou seja, elas olham sem ver, escutam sem ouvir. Sim, é o hábito… Mas não há nada mais pernicioso do que deixar-se governar pelo hábito: o cérebro vai perdendo capacidades.
Na realidade, o único hábito a adquirir é o de não se habituar a nada e ter sempre um olhar novo, uma atenção nova, para as ideias, para os seres, para os objetos. Observai-os, estudai-os, como se contactásseis com eles pela primeira vez: descobrireis, então, as ligações que existem entre eles, e algo da vida do universo se revelará a vós. De vez em quando, esforçai-vos também por respirar e por comer como se fosse a primeira vez."
 
"Enquanto criaturas humanas, nós estamos ligados a tudo o que, como nós, foi criado no universo. Cada um de nós tem laços invisíveis, etéricos, com toda a criação, desde as pedras até às hierarquias angélicas. Mesmo que não tenhamos consciência disso, todo o nosso ser está continuamente em ligação com todo o cosmos e é nisso que reside o fundamento da magia.
Claro que a palavra “magia” evoca imediatamente fórmulas e rituais estranhos e complicados. Mas eu afirmo-vos que o segredo da magia está na atitude. Se adotardes sempre a atitude correta, possuireis o verbo mágico graças ao qual entrais em comunicação não só com os humanos, os animais, as plantas, as pedras e os objetos, mas também com os astros e as entidades invisíveis. Cada um de nós deve encontrar por si mesmo esta atitude e encontrá-la-á aprendendo a cultivar o respeito por tudo o que existe."
 
"Há muitas pessoas que decidem fechar definitivamente os seus corações aos outros, porque eles as desiludiram ou lhes fizeram mal. Pois bem, é uma má decisão! Qualquer que seja o sofrimento por que passeis, nunca deveis parar de amar, pois o amor em vós é uma fonte e, se decidirdes impedi-lo de correr, vós é que começareis por ficar secos. É claro que, então, ninguém poderá abusar de vós, desiludir-vos, mas a água da vossa fonte espiritual já não correrá e assim perdereis a vida. Sim, porque, quando deixais a vossa fonte secar, o mundo divino fecha-se para vós e tornais-vos pobres e vazios.
De um ponto de vista educativo, por vezes é útil fechar-se por um tempo em relação a alguém, para lhe dar uma lição que lhe faz falta, mas é muito nocivo fechar-se em relação aos humanos em geral. Quer as pessoas mereçam, quer não, deixai correr em vós a fonte do amor. Vós direis que, se elas não merecem que as amem, é justo não as amar. Não vos preocupeis assim tanto com o que é justo ou injusto: praticai esta magnífica injustiça que é o amor, senão tornar-vos-eis um deserto!"
 
"Por vezes, encontram-se verdades da Ciência Iniciática sob a forma de regras ou costumes instaurados pelos humanos. Eles não conhecem a sua origem, mas respeitam-nas, pelo menos em certas circunstâncias e por um certo tempo. O direito de asilo é um exemplo disso.
Na Antiguidade, se um culpado que estava a ser perseguido conseguia penetrar no santuário de uma divindade, ficava sob a sua proteção, ninguém tinha o direito de o capturar. Este costume ainda existia na Idade Média. Aí, eram as igrejas que serviam de refúgio, e isso ainda pode ocorrer hoje em dia. Esta tradição está baseada num saber relativo à vida espiritual: aquele que, pelo pensamento, pela oração, consegue refugiar-se junto de Deus, mesmo que seja perseguido por inimigos, interiores ou exteriores, está protegido. Enquanto ele permanecer no alto, nos cumes da alma e do espírito, os seus perseguidores serão mantidos à distância. "
 
"O que é mais desanimador nos humanos é que eles aceitam viver uma vida limitada. Sentir-se fraco, doente, infeliz, para eles é normal. É claro que ninguém pode escapar totalmente a certas limitações que a natureza impõe, mas pode-se fazê-las recuar, não se é obrigado a estar sempre prisioneiro ou a ser sempre vítima. Cada um tem não só a capacidade para prolongar os seus bons estados, mas também para retardar o aparecimento de estados negativos… desde que, evidentemente, acredite que isso é possível!
Infelizmente, quando se observa os humanos, vê-se que eles se comportam como se estivessem hipnotizados, como se alguém tivesse traçado uma linha diante deles, dizendo-lhes: «Daqui não podes passar!» E eles acreditam, acreditam que essa limitação deve ser a sua situação normal. É que eles não se conhecem, não têm consciência de todos os seus recursos, de todos os poderes que o Criador inculcou neles, e ficam ali a marcar passo. Se eles se esforçarem por rejeitar esses limites, constatarão que são muito mais capazes do que aquilo que imaginam."
 
"A maior parte das religiões ensinam que os nossos sofrimentos vêm de Deus: é Deus que envia provações aos justos, porque os ama, e é também Deus que persegue os maus, para os punir pelos seus erros e os obrigar a voltar ao caminho certo. Como é, na realidade?
Existem leis imutáveis que regem o universo criado por Deus, assim como o seu funcionamento. Como o ser humano faz parte do universo, se ele transgride as leis, vai contra as forças cósmicas e sofre as consequências disso. Num certo sentido, pode-se dizer, pois, que Deus o pune. E, se ele se esforçar por compreender e respeitar sempre melhor as leis, as dificuldades que necessariamente encontra também são para ele uma causa de sofrimentos; mas estes sofrimentos que cada um encontra no caminho da evolução contribuem para o seu desenvolvimento interior. Por isso, pode-se dizer, igualmente, que Deus faz sofrer os justos: Ele fá-los sofrer porque é o seu amor que quer que eles cresçam, que eles se desenvolvam. Este amor também faz parte das leis cósmicas."
 
"Por que é que haveis de dizer a uma determinada pessoa que a amais? Vós amai-la e isso basta. O amor sente-se, vê-se, é mesmo a coisa mais difícil de esconder: manifesta-se pelo olhar, pelos gestos, pela atitude. Não é preciso declará-lo. Os humanos contam demasiado com a expressão verbal ou escrita do seu amor. Depois de terem falado nele, acham que a questão ficou resolvida. Mas não! Eles falam, repetem e, muitas vezes, a partir desse momento o seu comportamento revela que o seu amor está a enfraquecer.
Há que preservar o amor como uma coisa muito preciosa, a mais preciosa, e exprimi-lo o mínimo possível por palavras. É assim que, pouco a pouco, ele cria na alma a maior liberdade, o maior encanto. Se falardes dele, depressa ocorrerão, de um lado e de outro, reações que criarão mal-entendidos, e será pena. Não faleis do vosso amor e ele viverá eternamente em vós."
 
"Rir não significa, necessariamente, ser descuidado, ligeiro, não levar as coisas a sério. O riso pode mesmo agir mais beneficamente sobre o mental do que a expressão grave que muitos julgam ser uma característica dos sábios, pois há no riso energias vivas que alimentam o cérebro.
O riso também permite às pessoas reerguerem-se, ganharem novo fôlego. Todos passam na vida por acontecimentos que, à partida, não se prestam ao riso, é verdade, há que reconhecer isso, e é normal começar por ficar perturbado ou desgostoso; mas é mais fácil não se deixar ir abaixo se se estiver habituado a ver o lado cómico de certas situações. Então, nunca vos priveis deste meio poderoso que o riso é para manterdes o vosso equilíbrio interior e tornardes a vossa existência mais leve. Não é por se ter razões para estar contrariado, triste, desanimado, que se deve aceitar permanecer nesse estado."
 
"A pedra filosofal, o elixir da vida imortal, a panaceia universal, o espelho mágico e a varinha mágica são cinco símbolos do trabalho que o discípulo deve realizar para ser digno de receber a Iniciação.
Quando ele transforma os seus pensamentos e os seus sentimentos egoístas, mesquinhos, em pensamentos e sentimentos generosos e desinteressados, prepara a pedra filosofal, que transmuta os metais vis em ouro.
Quando, por uma vida pura, ele regenera as células do seu organismo, destila o elixir da vida imortal.
Quando ele espalha à sua volta a luz e o calor, trabalha com a panaceia universal.
Quando ele aprendeu a projetar-se até às regiões mais elevadas do mundo espiritual, recebe mensagens do espaço, e os objetos e os seres vêm refletir-se na sua alma como num espelho mágico.
Finalmente, quando ele adquire o domínio pleno de si mesmo, fica na posse da varinha mágica, que dá todos os poderes."
 
"A pureza não consiste em fechar-se num recipiente, protegido de qualquer contacto. Não, essa pureza que só pensa em proteger-se é inútil e até nociva. A verdadeira pureza é o amor divino, porque o amor divino é a vida, é a água que jorra da fonte, e este jorro repele tudo o que é sujo, baço, obscuro. Uma pureza onde não há amor não é, verdadeiramente, pureza.
Muitos religiosos acreditaram – e ainda acreditam – que a pureza consiste em preservar-se de amar! Talvez eles sejam brancos como a neve, mas também são frios como a neve e a sua pureza é estéril. Não é o amor que se deve evitar, nem o contacto com os outros, mas sim o egoísmo, a possessividade; no momento em que tais sentimentos entram num ser, ele já não é puro. A verdadeira pureza é a da água cristalina que jorra, que corre e vai regar os campos e os jardins na alma e no coração de todos os seres."
 
"Páscoa, São João, São Miguel, Natal… O modo como estas quatro festas estão distribuídas ao longo do ano deve fazer-nos refletir sobre a importância dos acontecimentos que, nesses períodos, ocorrem no universo. A cada uma destas festas corresponde um ponto cardeal, uma estação, um arcanjo, um planeta.
A festa da Páscoa coincide com a chegada da primavera, à qual preside o Arcanjo Rafael; este Arcanjo está ligado ao planeta Mercúrio e reina sobre o Sul. O São João, com os seus fogos, marca o início do verão; é a estação do Arcanjo Uriel, que está ligado à Terra e reina sobre o Norte. O São Miguel marca o início do outono; está sob a influência do Arcanjo Miguel, que está ligado ao Sol e reina sobre o Este. Por fim, o Natal marca o início do inverno; está sob a influência do Arcanjo Gabriel, que está ligado à Lua e reina sobre o Oeste.
Em cada um destes quatro períodos do ano, há determinadas forças e entidades que se põem a trabalhar. E nós também podemos participar nesse trabalho, pelo menos por intermédio da nossa consciência."
 
 "Para a Ciência Iniciática, a oração é um encontro da nossa alma com o Espírito Cósmico e do nosso espírito com a Alma Universal. São estes dois encontros que dão força à nossa oração. Quem imagina que orar é pedir ao Senhor que lhe dê tudo aquilo de que necessita para o seu conforto material ou moral não será atendido, certamente; mas, sobretudo, ele nunca encontrará as verdadeiras dimensões do seu ser profundo.
O sentido da oração é o de provocar o encontro de um princípio espiritual em nós com uma entidade da mesma natureza no universo, que lhe é complementar. A alma humana (feminina) procura o Espírito Divino (masculino) e o espírito humano (masculino) procura a Alma Universal (feminina). A nossa alma é fertilizada pelo Espírito Cósmico e o nosso espírito fertiliza a Alma Universal. É esta união que faz de nós criadores no mundo da luz e é isso, verdadeiramente, orar."
 
"Pode-se sentir a presença de Deus, mas não se pode dizer quem Ele é. Mesmo os maiores Iniciados nunca poderão dizê-lo. E, se lhes perguntardes, eles responderão com o silêncio, pois só o silêncio pode exprimir a essência da Divindade. Não basta tentar dizer tudo o que Deus é, e dizer o que Ele não é também não é suficiente. Dizer que ele é amor, sabedoria, poder, justiça… corresponde à verdade, mas estas palavras passam ao lado da realidade divina, não expressam nada do infinito, da eternidade, da perfeição de Deus. Não se pode, pois, conhecer Deus falando ou ouvindo falar d’Ele. A única maneira de O conhecer é penetrar profundamente em si mesmo para ir até essa região que é o silêncio.
Fazer o silêncio é, de algum modo, fazer o vazio em si, e neste vazio recebe-se a plenitude, pois, na realidade, o vazio não existe na natureza: cada matéria que se retira é imediatamente substituída por outra, mais subtil. Quando conseguis fazer o silêncio em vós, isto é, dominar o barulho e a agitação dos pensamentos e dos sentimentos inferiores, é a luz do espírito que toma posse de vós. E a presença divina é isso, é essa luz."

"Por que é que se festeja a Natividade, o nascimento do Cristo, no começo do inverno? A resposta encontra-se no livro da natureza. Toda a vida começa por uma semente posta na escuridão da terra ou nas entranhas de uma mulher. E o inverno é a estação na qual é feito um longo trabalho de germinação nas sementes que foram postas na terra, e que, na primavera, se concluirá com a eclosão de uma multiplicidade de novas existências. Ocorre um trabalho idêntico no psiquismo de cada ser: na terra negra que é a sua natureza inferior, a semente do seu Eu divino, o Cristo, começa a germinar.
É este acontecimento que os cristãos celebram na noite de Natal… Sim, precisamente à noite, à meia-noite, no momento de maior escuridão, ocorre um nascimento. É por isso que, apesar do frio e da escuridão, o Natal também é a festa da luz."

"Todos os anos, no dia 25 de dezembro, os cristãos festejam o nascimento de Jesus, e em todas as igrejas foi preparado um presépio. Está lá o menino, deitado nas palhas, Maria e José velam por ele, e há também um burro e um boi. O burro e o boi nunca são esquecidos! Mas estes dois animais são símbolos que devem ser interpretados; eles correspondem a processos que se desenrolam no próprio ser humano. O estábulo é o corpo físico e o boi é a força sexual. Quanto ao burro, esse representa aquele que a tradição designa por velho Adão, egocêntrico, teimoso, obstinado, mas bom servidor, isto é, a natureza inferior, a personalidade.
O ser humano que decide trabalhar para fazer nascer o Cristo nele mesmo começa por entrar em conflito com as forças da sua natureza inferior e da sua sexualidade. São essas forças que ele deve dominar para as pôr ao serviço do Menino divino. Por isso se diz que, no estábulo, o boi e o burro respiravam para cima do menino e aqueciam-no com o seu bafo… Portanto, quando o ser humano consegue transmutar os instintos que nele são representados pelo burro e pelo boi, estes vêm aquecer e servir o menino recém-nascido. Todos os que conseguiram fazer nascer o Cristo neles terão o apoio das forças da sua natureza inferior e da sua sexualidade, pois estas forças são extraordinariamente benéficas se se souber pô-las a trabalhar."
 
"A tarefa do discípulo de um ensinamento iniciático é construir o seu corpo espiritual, graças ao qual nascerá uma segunda vez. Ele tem a ideia – o Reino de Deus e a sua Justiça, a perfeição, a harmonia celeste – e agora deve reunir os materiais para construir o edifício.
Na realidade, a partir do momento em que a ideia estiver lá, os materiais chegarão automaticamente. A partir do instante em que tendes a ideia, o plano, e o instalais no vosso coração, na vossa alma, ele atrai do cosmos todos os elementos necessários, que vêm distribuir-se segundo as diretrizes já desenhadas, já gravadas. A vós só cabe manter o plano firmemente na vossa alma e orientar todas as vossas atividades segundo as indicações que nele são dadas. É assim que formais o vosso corpo espiritual: o corpo de glória, o corpo do Cristo. Aquilo a que se chama o segundo nascimento é a construção, pelo ser humano, deste corpo luminoso que lhe permite viver e agir no plano espiritual."

"As almas humanas vêm encarnar-se na terra, depois vão embora, e os seus destinos são comparáveis aos de uma gota de chuva. Cada gota cai exatamente no lugar previsto para ela pelos decretos da Inteligência Cósmica, a fim de aí cumprir a sua tarefa. De uma maneira ou de outra, cada uma deve sacrificar-se para dessedentar quem tem sede, refrescar quem tem calor, lavar quem ficou sujo pelo trabalho do dia, regar o campo semeado…
E são muitos mais os sacrifícios que podem ser pedidos à água: entrar no fabrico do pão, servir para cozer os alimentos ou, ainda, diluir substâncias tóxicas para as tornar inofensivas, etc. E em nenhum dos casos ela deve revoltar-se; deve, sim, aceitar o sacrifício, mesmo que a poluam, mesmo que a desperdicem, mesmo que abusem dela. Quando ela tiver cumprido a sua missão, poderá voltar para o céu, a fim de aí recuperar a sua transparência. Acontece o mesmo com a alma humana."
 
"O sentimento, que por vezes temos, de que a imensidão, o ilimitado, é a verdadeira pátria da nossa alma não é uma ilusão, tem origem na nossa estrutura psíquica. Por isso, aqueles que recusam tomar em consideração essas necessidades da sua alma sentirão sempre, no fundo de si mesmos, uma espécie de insatisfação. Mesmo tendo fortuna e vivendo rodeados de honrarias, de sucessos, de glória, terão sempre a sensação de que lhes falta qualquer coisa. E é inútil tentarem negar ou recalcar essa sensação, seja por que meio for, pois ela está lá para os obrigar a seguir pelo caminho que os conduzirá até à Fonte da luz.
Deus não pode ser visto, nem ouvido, nem tocado, nem explicado, nem alcançado. Ora, nós somos habitados pela necessidade irresistível de partir em busca d’Ele. E foi o próprio Deus que pôs em nós esta necessidade, para que nunca parássemos de avançar. O essencial é nunca parar."
 
"Um ano termina e outro vai começar… É o período em que todos formulam votos para si mesmos, para a sua família, para os seus amigos, para o mundo inteiro. Existe o costume de as pessoas se encontrarem, se abraçarem, se convidarem umas às outras, esperando que o novo ano traga a cada um muitas coisas boas.
Mas, antes de pensar no novo ano, focai-vos por um momento no ano que está a acabar e dirigi-vos a ele… Estais admirados… «Como? Falar a um ano?»… Sim, a Cabala diz-nos que um ano é um ser vivo; por isso, pode-se falar-lhe. Sim, dirigi-vos a esse ano que se afasta e pedi-lhe que se recorde de vós. Como ele é vivo, não fica inativo; ele registou não só os vossos atos, como os vossos desejos, os vossos sentimentos, os vossos sentimentos e os vossos pensamentos. No último dia, ele fará o seu relatório aos Senhores dos destinos e ligar-vos-á ao ano novo. Sabei saudá-lo antes de o deixardes."