quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O TEMPO DE VIDA


Ele era um homem muito observador.

Certa feita, sentiu vontade de visitar a cidade de Kammir. Um pouco antes de chegar, chamou-lhe a atenção uma colina que se encontrava à direita do caminho.

Estava coberta de um verde maravilhoso, com numerosas árvores, pássaros e flores encantadoras.

Tudo rodeado por uma cerca envernizada. Uma pequena porta de bronze convidava a entrar.

Ele resolveu conhecer aquele lugar. Entrou e foi caminhando, lentamente, entre as brancas pedras distribuídas no meio das árvores.

Permitiu que seu olhar pousasse, como borboleta, em cada detalhe daquele paraíso multicor.

E descobriu, sobre uma daquelas pedras, a inscrição: Abdul Tareg viveu oito anos, seis meses, duas semanas e três dias.

Sentiu-se um pouco angustiado ao perceber que aquela pedra era uma lápide. Olhando ao redor, se deu conta de que a pedra seguinte também tinha uma inscrição: Yamir Kalib viveu cinco anos, oito meses e três semanas.

O homem sentiu-se transtornado.

Aquele belo lugar era um cemitério. Cada pedra era uma tumba. Uma a uma, leu as lápides e todas tinham inscrições similares: um nome e o exato tempo de vida do falecido.

Porém, o que lhe causou maior espanto foi comprovar que quem mais tinha vivido apenas ultrapassara os onze anos.

Invadido por uma dor muito grande, sentou-se e começou a chorar.

A pessoa que tomava conta do cemitério aproximou-se e perguntou-lhe se chorava por alguém da família.

Não, ninguém da família. - Respondeu o visitante. Mas, o senhor pode me responder o que se passa nessa cidade? Que coisa tão terrível acontece aqui? Qual a horrível maldição que pesa sobre essas pessoas que as obrigou a construir um cemitério só para crianças?

O interlocutor sorriu e explicou:

Não existe nenhuma maldição. Aqui temos um antigo costume, uma tradição.

Quando um jovem completa quinze anos, ganha de seus pais uma caderneta, como esta, que eu mesmo levo aqui, pendurada no pescoço.

A partir dessa idade, cada vez que desfrutamos intensamente de alguma coisa boa, anotamos na caderneta. À esquerda o que foi desfrutado e à direita, o tempo que durou.

Se conhecemos uma moça e nos apaixonamos por ela, quanto tempo durou essa paixão e o prazer em conhecê-la: uma semana? Duas? Três?

A emoção do primeiro beijo, quanto durou: um minuto e meio? Dois dias? Uma semana? E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho?

E a tão desejada viagem, por quanto tempo desfrutamos integralmente? E o encontro com o irmão que retorna de um país distante?

Assim, vamos anotando na caderneta cada momento bem aproveitado, cada minuto que valeu a pena.

Quando alguém morre, abrimos a caderneta e somamos o tempo bem desfrutado, para gravá-lo sobre a pedra, porque esse é, de fato, para nós, o único tempo que foi vivido.

*   *   *

No balanço final desta curta existência na Terra, o que terá verdadeiramente valido a pena, será o que de bom e útil tivermos vivido.

Pensemos nisso!


Redação do Momento Espírita, com
base em história de autoria ignorada.
Em 11.1.2018