MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV
"Muitas vezes, compara-se Deus a um fogo, mas
não se sabe grande coisa desse fogo, exceto que a sua intensidade é impossível
de suportar. É o fogo do Espírito puro: em contacto com ele, todas as formas se
desfazem e se reduzem a nada. Todos os que receberam o beijo desse fogo
fundiram-se nele, numa mesma chama. Muitos espiritualistas têm escrito livros
muito complicados sobre as experiências dos místicos. Na realidade, é tudo
muito simples. A experiência dos místicos é a experiência do fogo, do fogo
sagrado que o homem alimenta em si, lançando nele, todos os dias, pedaços da
sua natureza inferior, exatamente como quando se põe lenha na lareira. Observai
um fogo a arder: todos os pedaços de madeira que até ali estavam separados,
dispersos, são reunidos numa mesma luz, num mesmo calor, e são obrigados a
pensar e a sentir como ele, o fogo."
"O momento em que o homem deixa a terra para
ir para o outro mundo é de uma importância capital. Por isso, a Igreja, que nem
sempre se preocupa em orientar as pessoas durante a vida, quando elas cometem
pecados e crimes, instituiu aquilo a que se chama os últimos sacramentos, a
extrema unção, a fim de preparar o cristão para a grande viagem que ele vai
empreender. O padre tenta pô-lo perante as questões essenciais: explica-lhe que
é altura de fazer uma revisão da sua vida, de encontrar, no mais profundo de si
próprio, a sua fé no Criador e de Lhe pedir perdão pelos seus pecados. Terá ele
razão? Sim, porque está a agir em conformidade com uma tradição extremamente
antiga, ainda que ele desconheça a sua razão exata. Aqueles que deixam o corpo
físico sem nunca se terem preparado para tal, nem terem acreditado na
existência de Deus e dos outros mundos, sofrem muito em consequência disso e
ficam a vaguear pelas regiões obscuras do além. Por isso, é muito grave
manter as pessoas no erro de que nada existe
depois da morte. Sob o pretexto de as ter libertado de crenças absurdas, muitas
vezes prepara-se para elas provações ainda mais terríveis do que as que tiveram
de enfrentar na terra."
"O amor é uma energia cósmica que está
espalhada por todo o Universo. Podemos encontrar o amor na terra, na água, no
ar, no Sol, nas estrelas... Podemos encontrá-lo nas pedras, nas plantas, nos
animais... E também podemos encontrá-lo nos humanos, claro; mas não apenas
neles. Por isso, não deveis sentir-vos privados de amor só porque não tendes um
homem ou uma mulher nos vossos braços. Não é o corpo, não é a carne, que vos dá
o amor, porque o amor não se encontra aí. O amor pode servir-se do corpo físico
como suporte, mas está para além dele, em toda a parte, é uma luz, um néctar,
uma ambrósia que preenche o espaço."
"O ser humano tem um corpo físico, é certo,
mas isso não é razão para vos deterdes a olhar apenas para os seus órgãos: o
estômago, os intestinos, etc. O que é que vos vem daí? Claro que direis que nem
o estômago nem os intestinos vos interessam, que o que procurais nos seres é a
beleza, e que essa beleza pode ser encontrada no olhar, no rosto, nas mãos,
etc. Sim, mas também não deveis ficar por aí, tentai ir mais longe, senão
ficareis expostos a deceções, porque vos limitais a aspetos, pormenores,
puramente materiais. Se quiserdes sentir-vos permanentemente inspirados e
felizes, deliciai-vos com a presença e as emanações subtis de todos os seres
que vos rodeiam, pensando que uma divindade invisível se encontra oculta neles.
Para além do corpo físico de um homem ou de uma mulher, há tudo o que emana da
sua alma, do seu espírito, e é isso o mais importante."
"As pessoas creem que, ao cederem às
tentações, é a si próprias que satisfazem. De maneira nenhuma; elas estão a
satisfazer outros. Infelizmente, só se apercebem disso no fim, quando se sentem
mais pobres, enfraquecidas, vazias. Então, compreendem que agiram para outros e
não para si próprias, ou seja, para essa parte de si próprias que deve,
continuamente, enriquecer-se, crescer, dilatar-se. E que “outros” são esses?
Entidades tenebrosas do plano astral que vêm constantemente alimentar-se e enriquecer-se
à nossa custa! Em contrapartida, existem outras criaturas do mundo invisível,
criaturas luminosas, para as quais podemos agir sem nunca deixarmos de ganhar
nós próprios com isso, porque, a cada um dos nossos esforços para as contentar
e as satisfazer, o nosso património, a nossa riqueza e a nossa força
aumentam."
"Os Iniciados não leem muitos livros escritos
pelos humanos. Para eles, o verdadeiro livro é o grande Livro da Natureza Viva;
é sobre esse Livro que eles se debruçam continuamente para interpretarem os
seus símbolos, as suas estruturas e as suas formas. E o Livro da Natureza Viva
não é apenas o inventário dos minerais, das plantas, dos insetos, dos animais,
não, mas toda a vida, em todas as criaturas e em todos os mundos. Trata-se de
conhecer, não o lado exterior da Natureza, mas a vida no seu jorrar, no seu
fluir, e as suas correspondências subtis entre os diferentes planos do
Universo."
"Um Mestre só se permite instruir discípulos
porque, durante anos e anos, noutras encarnações, já trabalhou demoradamente
sobre si próprio. Também vós podereis, um dia, instruir discípulos, mas quando?
Quando tiverdes conseguido dominar-vos e corrigir todas as vossas fraquezas. Entretanto,
fazei tudo o que puderdes para vos aperfeiçoardes, a fim de exercerdes a melhor
influência possível sobre as pessoas com quem vos relacionais. E isto aplica-se
não apenas aos educadores, aos professores, aos diretores, aos pais, mas também
aos patrões e a todos os responsáveis pelo que quer que seja."
"É normal terdes ambições e fazerdes
projetos... Mas, atenção! Estai vigilantes, porque são as vossas aspirações que
determinam o vosso futuro. A partir do momento em que começais a alimentar um
projeto, é como se vos pusésseis a caminho para um determinado lugar, e deveis
saber que, antes de chegardes ao fim, passareis necessariamente por
determinadas estações. Por isso, é muito importante conhecerdes as relações, as
afinidades, que os vossos desejos têm com tal ou tal aspeto do mundo físico e
do mundo psíquico. Um projeto é já como se colocásseis o vosso comboio sobre
carris e, se não tiverdes sido lúcidos e vigilantes no momento da decisão,
muitas vezes esse comboio levar-vos-á onde não pensáveis ir e, sobretudo, onde
não desejáveis ir. É assim que, por vezes, os seres encontram as trevas, os
conflitos e as tribulações onde julgavam encontrar a luz, a paz e a
felicidade."
"Como procedem os homens e as mulheres para
conquistarem a amizade e o amor uns dos outros? Eles sabem instintivamente que
devem usar palavras agradáveis, tecer elogios, oferecer presentes, etc., ou
seja, alimentar a vaidade. Evidentemente, ao fazerem isso, não é à natureza
superior dos outros que se dirigem, mas à sua natureza inferior; é essa que
eles acarinham, que alimentam. Não é de admirar que uma relação nascida nestas
condições prossiga no meio de mal-entendidos, tensões e confrontos. Este amor
humano, muito humano, só pode exprimir-se de um modo instintivo. E será assim
até os homens e as mulheres aprenderem a ter em conta a natureza superior que
também existe neles e a dirigir-se a ela, para suscitarem manifestações
verdadeiramente nobres e luminosas.
Amar um ser não é querer atraí-lo com um fim
interesseiro, mas sim procurar constantemente esclarecê-lo, reforçá-lo,
torná-lo cada vez mais consciente da sua predestinação divina."
"Todas as criaturas são obrigadas a comer e a
beber, mas depois têm de eliminar os detritos. E o que são os detritos? Todos
os elementos que já não são úteis ao organismo. No entanto, esses elementos
encontravam-se numa alimentação e em bebidas que eram boas, uma vez que lhes permitiram
continuar a viver. Sim, eis um facto da vida quotidiana sobre o qual vale a
pena refletir. Qualquer que seja a qualidade da alimentação que comemos, há
sempre detritos a eliminar, e esses detritos são enviados para um determinado
lugar. Este fenómeno é encontrado em todos os planos e a todos os níveis do
Universo. Por isso se pode dizer que o Inferno, com os seus habitantes, deve
ser considerado como o local onde se acumulam as impurezas de todas as
criaturas. O Inferno de que os cristãos falam há séculos e que eles têm pintado
com as formas e cores mais fantásticas é, na realidade, o reservatório para
onde é despejado “o mal”, isto é, as impurezas que todas as criaturas
eliminam."
"É uma felicidade, para um discípulo,
encontrar um Mestre que nunca abusará do seu amor, porque, graças a esse amor,
ele irá avançar e enriquecer-se. O amor faz milagres no discípulo, porque gera
trocas, uma osmose, entre o seu Mestre e ele, mas na condição, bem entendido,
de ser um amor desinteressado. Quantos discípulos dizem amar o seu Mestre, mas,
na realidade, atormentam-no, sobrecarregam-no. Que bênçãos vos trará o vosso
amor, se não souberdes amar o vosso Mestre? Ireis roer-vos por dentro, porque o
Mestre não poderá responder às vossas exigências, e ele ficará esmagado pelos
fardos que atirais para os seus ombros. Ora bem, amar não é isso. Será que os
discípulos que afirmam amar o seu Mestre pensaram, ao menos uma vez, em
proporcionar-lhe algo de bom com o seu amor? Não, são sempre fardos e mais
fardos. O verdadeiro amor deve trazer a luz, a beleza e a paz àquele que amais.
Assim, esse amor também vos fará progredir a vós."
"Como procedem os homens e as mulheres para
conquistarem a amizade e o amor uns dos outros? Eles sabem instintivamente que
devem usar palavras agradáveis, tecer elogios, oferecer presentes, etc., ou
seja, alimentar a vaidade. Evidentemente, ao fazerem isso, não é à natureza
superior dos outros que se dirigem, mas à sua natureza inferior; é essa que
eles acarinham, que alimentam. Não é de admirar que uma relação nascida nestas
condições prossiga no meio de mal-entendidos, tensões e confrontos. Este amor
humano, muito humano, só pode exprimir-se de um modo instintivo. E será assim
até os homens e as mulheres aprenderem a ter em conta a natureza superior que
também existe neles e a dirigir-se a ela, para suscitarem manifestações
verdadeiramente nobres e luminosas.
Amar um ser não é querer atraí-lo com um fim
interesseiro, mas sim procurar constantemente esclarecê-lo, reforçá-lo,
torná-lo cada vez mais consciente da sua predestinação divina."
"Todos os espiritualistas que mantêm o olhar
fixo no Céu e desprezam a terra, com o pretexto de que ela é um lugar de
perdição e o corpo físico é um instrumento do diabo, não compreenderam nada.
Eles desagregam-se, definham, mumificam-se, não se sente vida neles. Vós
conheceis pessoas assim: elas dizem-se algures nas alturas, mas aqui em baixo
já não há nada delas e no Alto também não há grande coisa!
A era do Aquário, que está a chegar, traz outra
filosofia. O Aquário ensina que o homem deve contemplar o Céu, mas não se
desligar da terra. Ele deve contemplar o Céu para dele fazer descer tudo o que
é belo, puro, luminoso, eterno. Então, ele próprio se transformará num espelho
do Céu, num condutor do Céu, num jardim, num pomar, num Sol. Porque é que tem
de haver Paraíso apenas lá em cima, e aqui, na terra, sempre miséria, pobreza,
fealdade? Não, de agora em diante será diferente: a beleza é que descerá à
terra, e tudo será radioso – as pedras, as plantas, os animais e os
humanos."
"Quando eu critico os intelectuais e a
importância dada aos estudos universitários, não é por achar os intelectuais
ridículos ou malfeitores e os estudos inúteis ou nocivos. Não, o que eu critico
é a tendência para se crer que os estudos e os trabalhos intelectuais
representam o suprassumo do conhecimento e do pensamento. Como se não houvesse
nada para além disso! Se a Inteligência Cósmica deu um intelecto ao homem, foi
para ele o utilizar, e para o utilizar fazendo pesquisas, análises, medições,
comparações. Mas o intelecto é um instrumento insuficiente; o domínio que os
humanos podem explorar graças a ele é limitado e, por vezes, até contraditório;
por isso, eles devem levar as suas investigações mais longe, ao domínio da alma
e do espírito, senão sentir-se-ão sacudidos de um lado para o outro, sempre
insatisfeitos e sem certezas."
"Quando conheceis um homem ou uma mulher, o
que procurais saber primeiro a seu respeito é se têm um coração e uma
inteligência sólidos, se têm um ideal espiritual? Não. Se fordes sinceros,
reconhecereis que tudo isso não conta muito para vós e que procurais perceber,
antes, se eles têm um físico agradável ao ponto de vos dar vontade de os
abraçar, ou se são bastante ricos, para vos aproveitardes disso. Sim, é essa a
atitude de toda a gente. Mas aqui, num ensinamento espiritual, compreendei que
essa é uma atitude de que deveis libertar-vos, porque só com o que é honesto,
bom, sábio e puro nos seres é que se poderá formar uma verdadeira fraternidade
e trabalhar. Que farão a beleza e a fortuna, se ainda não estiverem ao serviço
do mundo divino? Só servirão para provocar paixões, que destruirão a
Fraternidade. E não me compreendais mal. Eu não digo que a miséria e a fealdade
é que são desejáveis, digo que deveis acautelar-vos em relação às seduções
que podem
exercer sobre vós o dinheiro e a beleza física, porque vos farão esquecer
qualidades muito mais importantes do que eles para o que nós queremos construir
aqui."
"Tenho-vos dito sempre que deveis aprender
com os enamorados. Um rapaz conhece uma moça. Mas tiveram de se separar, porque
ela mora muito longe. Ele já não pode vê-la, mas, desde o primeiro encontro,
ela está no seu coração, na sua alma; ele vive com ela, ela é para ele uma
ligação ao mundo da poesia, da beleza, da inspiração. Muito bem, interiormente,
este rapaz já fez a experiência do discípulo, porque lhe basta uma ideia, uma
imagem, não tem necessidade de uma presença física para ser feliz, para estar
inspirado. Na realidade, a ideia que se faz das coisas e dos seres pode ser
mais poderosa do que as coisas e os seres em si. Precisais de conhecer esta
verdade e de saber utilizá-la; ela é muito importante para o vosso
aperfeiçoamento espiritual."
"O casamento, o verdadeiro casamento, é um
fenómeno cósmico: ele celebra-se primeiro no Alto, entre o Pai Celeste e a sua
esposa, a Mãe Divina. Os humanos, que são à imagem de Deus, repetem
inconscientemente este acontecimento cósmico. Eis uma verdade que o
cristianismo ainda está longe de compreender; os cristãos apresentam Deus como
um celibatário. Mas isso é um erro. O homem, que foi criado à imagem de Deus,
não pode fazer nada diferente daquilo que o próprio Deus faz. Se o homem
procura uma mulher para se unir a ela e criar, é porque também Deus tem uma
esposa à qual se une para criar. Essa esposa é a Mãe Divina. O cristianismo não
aceita a Mãe Divina. Todas as religiões a aceitam, exceto o cristianismo. Mas
este cristianismo não é o verdadeiro ensinamento do Cristo.
Os cristãos pensam que dizer que o Senhor também é
casado diminui-O. Então, porque permitiu Ele aos homens fazerem-no? Onde foram
os homens buscar essa ideia do casamento? Na realidade, tudo o que se faz no
Alto faz-se também aqui em baixo."
"Mesmo quando um malfeitor consegue escapar,
a sua consciência é constantemente visitada por inquietações: será que alguém o
viu?; será que ficaram indícios que permitirão identificá-lo?; etc. Ele
desencadeou certos processos que agora se refletem na sua consciência, e já não
consegue estar tranquilo. Tudo é, pois, muito claro: assim que cometeis
qualquer desonestidade, a vossa paz fica perturbada, pois a vossa consciência
recebe imagens inquietantes de todos os lados. O homem culpado que quer
apaziguar a sua consciência não o consegue, porque isso não depende da consciência,
que apenas reflete a realidade que é o seu comportamento, mas da dívida que
continua registada. Enquanto ele não tiver reparado os erros que cometeu, a sua
consciência não estará tranquila."
"Antes de casar, tem-se o direito de
escolher, mas, quando se está casado, não se tem o direito de mudar quatro ou
cinco vezes de parceiro. Uma vez casado, deve-se ser fiel. Da mesma maneira,
antes de seguirdes um Mestre, tendes o direito de refletir, de estudar a
questão, até de ser desconfiados; é normal que vos interrogueis sobre se esse
Mestre corresponde à vossa mentalidade, às vossas aspirações, ao vosso ideal,
se o seu ensinamento vai ao encontro da vossa natureza profunda. Mas, quando
vos tiverdes comprometido com um Mestre, é muito mau para a vossa evolução não
lhe permanecerdes fiéis. Que quereis construir interiormente de sólido e de
estável, se andardes a saltar de um lado para o outro, ao sabor dos vossos
caprichos e da vossa curiosidade? A experiência espiritual não consiste numa
série de encontros, uma vez com um Mestre hindu, outra vez com um Mestre sufi,
outra, ainda, com um Mestre zen, etc. A experiência espiritual é um sulco que a
pessoa cava e
m si e que
nunca mais deixa de aprofundar. Ora, o que é que se pode aprofundar mudando
constantemente de guia ou de orientação?"
"O nosso presente é o resultado do nosso
passado. É por isso que não temos quase nenhum poder sobre o presente: ele é a
consequência, a sequência lógica do passado. Os pensamentos, sentimentos e
desejos que tivémos nas encarnações anteriores acionaram no Universo forças e
poderes da mesma natureza que eles, que determinaram as nossas qualidades, as
nossas fraquezas e os acontecimentos da nossa existência atual. Por isso, é
quase impossível modificar, ao longo da presente encarnação, o que foi assim
determinado pela nossa vida passada. A única coisa que está em nosso poder é
preparar o futuro. E preparar o futuro é o que os Iniciados ensinam aos
discípulos que vão para as suas escolas."
"A cruz é um símbolo que nunca aprofundaremos
completamente. Entre muitas outras interpretações, podemos ver nela uma
representação do ser humano, síntese dos dois princípios, masculino (o espírito
e o intelecto) e feminino (a alma e o coração). A união desses dois princípios
produz um movimento. Sim, quando se junta o pensamento ao sentimento, nasce o
movimento, isto é, a ação. Quando se põe a cruz em movimento, ela engendra um
círculo, o Sol; e, quanto mais intenso for o movimento, mais luminoso se torna
o Sol. O Sol resume os dois princípios, é a cruz em movimento."
"Só o trabalho conta, e, quando o discípulo
encontra o verdadeiro trabalho, nunca mais o abandona. Eu lembro-me de que o
Mestre Peter Deunov tinha o hábito de repetir estas três palavras: «Rabota, rabota,
rabota. Vremé, vremé, vremé. Véra, véra, véra...», o que quer dizer: «O
trabalho, o trabalho, o trabalho. O tempo, o tempo, o tempo. A fé, a fé, a
fé...» Ele nunca me explicou porque repetia estas três palavras, mas isto
fez-me pensar muito e eu compreendi que ele condensara nelas toda uma
filosofia. Ora vejamos: o trabalho, sim, mas também a fé que é necessária para
o empreender e o continuar, e, sobretudo, o tempo. É preciso tempo. Não basta
desejar ardentemente alguma coisa para que ela se realize rapidamente. Sim,
agora eu sei o que é vrémé. Anos e anos se passaram, e eu vejo que vrémé é
muito importante!"
"Estudai as forças que tendes por hábito
considerar como más e aperceber-vos-eis de que elas talvez não o sejam tanto
como julgais. Quantos exemplos nos mostram que o que é mal para uns não é
obrigatoriamente mal para os outros! Alguns animais resistem extraordinariamente
ao fogo, outros ao frio, outros ao veneno, outros à falta de alimentos. Outros,
ainda, não morrem mesmo quando lhes cortam o corpo em dois... As ideias que os
homens forjaram a respeito do mal são suas, não são universalmente válidas. Eles
não podem saber o que é o mal enquanto o julgarem segundo as suas fraquezas ou
as suas limitações. Quando se aproximarem da perfeição, mudarão de opinião.
Como os Iniciados, que, para além do aspeto aterrador do mal, que causa medo
aos fracos, sabem encontrar nele uma força benéfica ou até um amigo."
"Por vezes, gostaríeis muito de resistir a
certas tentações, porque sentis que, se não resistirdes, sereis arrastados para
aventuras deploráveis; mas, apesar do vosso desejo, não conseguis dominar-vos e
sucumbis. Porquê? Porque não desenvolvestes em vós um amor por algo mais belo,
mais grandioso, que poderia opor-se aos vossos instintos. Se possuísseis esse
amor, seria ele a combater e a permitir-vos vencer. Para se lutar, não basta a
vontade; num momento ou noutro, ela acaba por capitular. Não basta dizer: «Não
me deixarei arrastar, resistirei...» Para resistirdes ao que vos arrasta para
baixo, precisais de ser ajudados por uma força que vos eleve para um mundo
superior: um alto ideal."
"Interrogai um homem de negócios que fez
fortuna: julgais que ele vos dirá que é feliz? Nada é menos certo. Ele
queixar-se-á, dizendo que está estafado, que a mulher aproveita as suas
ausências para o enganar, que o filho é um incapaz e os seus operários são
preguiçosos, que as suas ações baixaram na bolsa, que vai ficar arruinado com a
concorrência, etc. Vós escutai-lo e, pouco tempo depois, sentis-eis tão
abatidos como ele. Apesar de todas as suas posses, ele nunca poderá fazer-vos
sentir como a vida é bela, porque vive com medo de perder isto e aquilo...
Então, como podeis ver, não só ele nunca vos dará nada, pois já tem medo de
perder o que tem, como ainda vos tirará a paz e a alegria de viver. Ao invés
dele, um homem que trabalhou para adquirir riquezas espirituais crê que essas
riquezas são inesgotáveis e que ninguém pode tirar-lhas; portanto, estará
sempre pronto a fazer-vos beneficiar delas e, graças a ele, sejam quais forem
as condições em
que estejais, tereis os melhores métodos, os
melhores remédios, para encontrar o equilíbrio, para apreciar a beleza e o
sentido da vida."
"No Universo, a Terra não é considerada como
um lugar privilegiado e, por conseguinte, não é uma honra para ninguém estar
nela. A Terra é uma casa de correção para onde os humanos são enviados, a fim
de fazerem... estágios de aperfeiçoamento. Mas não será sempre assim, porque a
Terra também é um vasto campo onde numerosos seres trabalham sob a direção do
Senhor. De momento, esse campo ainda está, em parte, inculto; serão precisos
séculos e milénios para o tornar produtivo. Mas as condições melhorarão cada
vez mais e, um dia, a Terra será realmente um jardim florido, um pomar divino.
Ela será verdadeiramente o Reino de Deus, habitado pelos filhos do amor e da
luz. Há biliões de seres que trabalham já há muito tempo, voluntariamente
empenhados numa tarefa gigantesca, de que ainda muito poucos de vós podem ter
uma ideia."
"Na nossa vida quotidiana, é muito difícil
fazer a destrinça entre o bem e o mal, saber onde começa um e acaba o outro,
porque eles estão inextricavelmente misturados. Por isso está escrito na Tábua
de Esmeralda: «Separarás o subtil (o bem) do espesso (o mal), com grande
perícia.». O mal agarra-se avidamente ao bem para nele beber forças. E o bem
também se agarra ao mal para se alimentar dele, e isso é-lhe permitido: a
planta tem o direito de captar elementos da terra na qual cresce, e nisso está
conforme às leis da criação e da vida. Mas o solo não tem o direito de captar
as energias da planta."
"Se os humanos se deparam com tantas
dificuldades e fracassos, é porque estão divididos interiormente: o coração
puxa numa direção, o intelecto noutra, a vontade numa terceira, o estômago numa
quarta, o sexo numa quinta... Há uma história que conta como uma águia, um
peixe, uma toupeira e um caranguejo se reuniram para transportar uma
determinada carga. A toupeira puxava para a terra, o peixe para o rio, a águia
para o céu e o caranguejo para trás... Podeis imaginar como a carga foi bem
transportada!... A maior parte das vezes, é exatamente o que se passa com o
homem, pois nada é mais difícil do que fazer a união de todas as diferentes
tendências que nele existem, para as canalizar numa única direção. Pode
acontecer que, de tempos a tempos, se consiga, mas é tão raro! No entanto, é
esta unificação de todas as tendências que dá ao homem o verdadeiro equilíbrio,
o verdadeiro poder e a verdadeira paz."
"Espera-se de um discípulo que seja capaz de
compreender e de aprofundar as noções elementares da Ciência Iniciática. No
passado, aquele que queria ser admitido numa Escola Iniciática era submetido a
provas que deveriam revelar as suas qualidades psíquicas. Por exemplo: era
encerrado numa sala depois de terem colocado à sua frente uma figura geométrica
(círculo, quadrado, triângulo...), que ele tinha de interpretar. Deixavam-no lá
com um pouco de água e de comida e, alguns dias depois, pediam-lhe que
expusesse o resultado da sua meditação. Consoante a sua maneira de interpretar
a figura, assim era, ou não, aceite na Escola. Agora, as Escolas Iniciáticas
estão abertas a todos, o que, por um lado, é uma boa coisa, porque cada um, ao
seu nível, se for sincero, pode encontrar pelo menos uma verdade que lhe
permitirá progredir. Mas aqueles que não procuram aprofundar o ensinamento que
recebem correm grandes perigos: misturam tudo e caem nos piores absurdos."
"É fácil constatar que o plano moral não está
separado do plano físico. Vejamos o exemplo de um alcoólico. Inicialmente, ele
era um homem culto, atencioso, nobre e generoso, nada lhe faltava. Mas, a
partir do dia em que começou a beber, essas qualidades foram-se esbatendo pouco
a pouco e acabaram por desaparecer. Ele tornou-se grosseiro, egoísta, brutal. O
que é que mudou? Precisamente o lado moral, o comportamento. Tudo se desmoronou
por causa do excesso de bebida. Outro exemplo: um homem tem a paixão do jogo,
ao ponto de acabar por descurar as suas obrigações, os seus deveres para com a
mulher e os filhos. No começo, o jogo era uma atividade que nada tinha a ver
com a moral (manusear cartas é completamente inofensivo), mas, por fim, foi o
domínio moral que veio a sofrer as suas repercussões. Como é possível não se
ver as ligações que existem entre estes dois planos, o físico e o moral?"
"Instintivamente, os humanos agem com uma
grande sabedoria: quando se aproxima o inverno, fazem reservas de lenha, de
carvão, etc., e preparam vestuário quente para resistirem ao frio que vai
chegar. Infelizmente, são bem menos previdentes quando se trata de enfrentar os
invernos interiores. Nesse caso, não se preparam e, quando se aproxima o
período sombrio, só sabem queixar-se e dizer que a vida não tem qualquer
sentido. Dir-me-eis que as estações da vida interior não voltam com a mesma
regularidade que as da Natureza e que, por isso, são imprevisíveis. É verdade,
mas deveis saber que o inverno vem necessariamente de tempos a tempos e, se
aprenderdes a observar-vos, ireis descobrindo em vós certos sinais precursores.
Por isso, aprendei a observar-vos e, logo que sintais que esse período de frio
e de escuridão vai chegar, ficai vigilantes e preparai os elementos espirituais
que continuarão a manter em vós o fogo e a luz. Jesus dizia: «Caminhai enquanto
tendes luz,
para que
as trevas não vos surpreendam.» Isto significa: «Aproveitai as condições
favoráveis, para que tenhais as armas necessárias no dia em que tiverdes de
enfrentar as dificuldades que se avizinham.»"