domingo, 6 de dezembro de 2020

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV



"Muitas vezes, compara-se Deus a um fogo, mas não se sabe grande coisa desse fogo, exceto que a sua intensidade é impossível de suportar. É o fogo do Espírito puro: em contacto com ele, todas as formas se desfazem e se reduzem a nada. Todos os que receberam o beijo desse fogo fundiram-se nele, numa mesma chama. Muitos espiritualistas têm escrito livros muito complicados sobre as experiências dos místicos. Na realidade, é tudo muito simples. A experiência dos místicos é a experiência do fogo, do fogo sagrado que o homem alimenta em si, lançando nele, todos os dias, pedaços da sua natureza inferior, exatamente como quando se põe lenha na lareira. Observai um fogo a arder: todos os pedaços de madeira que até ali estavam separados, dispersos, são reunidos numa mesma luz, num mesmo calor, e são obrigados a pensar e a sentir como ele, o fogo."
 
"O momento em que o homem deixa a terra para ir para o outro mundo é de uma importância capital. Por isso, a Igreja, que nem sempre se preocupa em orientar as pessoas durante a vida, quando elas cometem pecados e crimes, instituiu aquilo a que se chama os últimos sacramentos, a extrema unção, a fim de preparar o cristão para a grande viagem que ele vai empreender. O padre tenta pô-lo perante as questões essenciais: explica-lhe que é altura de fazer uma revisão da sua vida, de encontrar, no mais profundo de si próprio, a sua fé no Criador e de Lhe pedir perdão pelos seus pecados. Terá ele razão? Sim, porque está a agir em conformidade com uma tradição extremamente antiga, ainda que ele desconheça a sua razão exata. Aqueles que deixam o corpo físico sem nunca se terem preparado para tal, nem terem acreditado na existência de Deus e dos outros mundos, sofrem muito em consequência disso e ficam a vaguear pelas regiões obscuras do além. Por isso, é muito grave
manter as pessoas no erro de que nada existe depois da morte. Sob o pretexto de as ter libertado de crenças absurdas, muitas vezes prepara-se para elas provações ainda mais terríveis do que as que tiveram de enfrentar na terra."
 
"O amor é uma energia cósmica que está espalhada por todo o Universo. Podemos encontrar o amor na terra, na água, no ar, no Sol, nas estrelas... Podemos encontrá-lo nas pedras, nas plantas, nos animais... E também podemos encontrá-lo nos humanos, claro; mas não apenas neles. Por isso, não deveis sentir-vos privados de amor só porque não tendes um homem ou uma mulher nos vossos braços. Não é o corpo, não é a carne, que vos dá o amor, porque o amor não se encontra aí. O amor pode servir-se do corpo físico como suporte, mas está para além dele, em toda a parte, é uma luz, um néctar, uma ambrósia que preenche o espaço."
 
"O ser humano tem um corpo físico, é certo, mas isso não é razão para vos deterdes a olhar apenas para os seus órgãos: o estômago, os intestinos, etc. O que é que vos vem daí? Claro que direis que nem o estômago nem os intestinos vos interessam, que o que procurais nos seres é a beleza, e que essa beleza pode ser encontrada no olhar, no rosto, nas mãos, etc. Sim, mas também não deveis ficar por aí, tentai ir mais longe, senão ficareis expostos a deceções, porque vos limitais a aspetos, pormenores, puramente materiais. Se quiserdes sentir-vos permanentemente inspirados e felizes, deliciai-vos com a presença e as emanações subtis de todos os seres que vos rodeiam, pensando que uma divindade invisível se encontra oculta neles. Para além do corpo físico de um homem ou de uma mulher, há tudo o que emana da sua alma, do seu espírito, e é isso o mais importante."
 
"As pessoas creem que, ao cederem às tentações, é a si próprias que satisfazem. De maneira nenhuma; elas estão a satisfazer outros. Infelizmente, só se apercebem disso no fim, quando se sentem mais pobres, enfraquecidas, vazias. Então, compreendem que agiram para outros e não para si próprias, ou seja, para essa parte de si próprias que deve, continuamente, enriquecer-se, crescer, dilatar-se. E que “outros” são esses? Entidades tenebrosas do plano astral que vêm constantemente alimentar-se e enriquecer-se à nossa custa! Em contrapartida, existem outras criaturas do mundo invisível, criaturas luminosas, para as quais podemos agir sem nunca deixarmos de ganhar nós próprios com isso, porque, a cada um dos nossos esforços para as contentar e as satisfazer, o nosso património, a nossa riqueza e a nossa força aumentam."
 
"Os Iniciados não leem muitos livros escritos pelos humanos. Para eles, o verdadeiro livro é o grande Livro da Natureza Viva; é sobre esse Livro que eles se debruçam continuamente para interpretarem os seus símbolos, as suas estruturas e as suas formas. E o Livro da Natureza Viva não é apenas o inventário dos minerais, das plantas, dos insetos, dos animais, não, mas toda a vida, em todas as criaturas e em todos os mundos. Trata-se de conhecer, não o lado exterior da Natureza, mas a vida no seu jorrar, no seu fluir, e as suas correspondências subtis entre os diferentes planos do Universo."
 
"Um Mestre só se permite instruir discípulos porque, durante anos e anos, noutras encarnações, já trabalhou demoradamente sobre si próprio. Também vós podereis, um dia, instruir discípulos, mas quando? Quando tiverdes conseguido dominar-vos e corrigir todas as vossas fraquezas. Entretanto, fazei tudo o que puderdes para vos aperfeiçoardes, a fim de exercerdes a melhor influência possível sobre as pessoas com quem vos relacionais. E isto aplica-se não apenas aos educadores, aos professores, aos diretores, aos pais, mas também aos patrões e a todos os responsáveis pelo que quer que seja."
 
"É normal terdes ambições e fazerdes projetos... Mas, atenção! Estai vigilantes, porque são as vossas aspirações que determinam o vosso futuro. A partir do momento em que começais a alimentar um projeto, é como se vos pusésseis a caminho para um determinado lugar, e deveis saber que, antes de chegardes ao fim, passareis necessariamente por determinadas estações. Por isso, é muito importante conhecerdes as relações, as afinidades, que os vossos desejos têm com tal ou tal aspeto do mundo físico e do mundo psíquico. Um projeto é já como se colocásseis o vosso comboio sobre carris e, se não tiverdes sido lúcidos e vigilantes no momento da decisão, muitas vezes esse comboio levar-vos-á onde não pensáveis ir e, sobretudo, onde não desejáveis ir. É assim que, por vezes, os seres encontram as trevas, os conflitos e as tribulações onde julgavam encontrar a luz, a paz e a felicidade."
 
"Como procedem os homens e as mulheres para conquistarem a amizade e o amor uns dos outros? Eles sabem instintivamente que devem usar palavras agradáveis, tecer elogios, oferecer presentes, etc., ou seja, alimentar a vaidade. Evidentemente, ao fazerem isso, não é à natureza superior dos outros que se dirigem, mas à sua natureza inferior; é essa que eles acarinham, que alimentam. Não é de admirar que uma relação nascida nestas condições prossiga no meio de mal-entendidos, tensões e confrontos. Este amor humano, muito humano, só pode exprimir-se de um modo instintivo. E será assim até os homens e as mulheres aprenderem a ter em conta a natureza superior que também existe neles e a dirigir-se a ela, para suscitarem manifestações verdadeiramente nobres e luminosas.
Amar um ser não é querer atraí-lo com um fim interesseiro, mas sim procurar constantemente esclarecê-lo, reforçá-lo, torná-lo cada vez mais consciente da sua predestinação divina."
 
"Todas as criaturas são obrigadas a comer e a beber, mas depois têm de eliminar os detritos. E o que são os detritos? Todos os elementos que já não são úteis ao organismo. No entanto, esses elementos encontravam-se numa alimentação e em bebidas que eram boas, uma vez que lhes permitiram continuar a viver. Sim, eis um facto da vida quotidiana sobre o qual vale a pena refletir. Qualquer que seja a qualidade da alimentação que comemos, há sempre detritos a eliminar, e esses detritos são enviados para um determinado lugar. Este fenómeno é encontrado em todos os planos e a todos os níveis do Universo. Por isso se pode dizer que o Inferno, com os seus habitantes, deve ser considerado como o local onde se acumulam as impurezas de todas as criaturas. O Inferno de que os cristãos falam há séculos e que eles têm pintado com as formas e cores mais fantásticas é, na realidade, o reservatório para onde é despejado “o mal”, isto é, as impurezas que todas as criaturas
eliminam."
 
"É uma felicidade, para um discípulo, encontrar um Mestre que nunca abusará do seu amor, porque, graças a esse amor, ele irá avançar e enriquecer-se. O amor faz milagres no discípulo, porque gera trocas, uma osmose, entre o seu Mestre e ele, mas na condição, bem entendido, de ser um amor desinteressado. Quantos discípulos dizem amar o seu Mestre, mas, na realidade, atormentam-no, sobrecarregam-no. Que bênçãos vos trará o vosso amor, se não souberdes amar o vosso Mestre? Ireis roer-vos por dentro, porque o Mestre não poderá responder às vossas exigências, e ele ficará esmagado pelos fardos que atirais para os seus ombros. Ora bem, amar não é isso. Será que os discípulos que afirmam amar o seu Mestre pensaram, ao menos uma vez, em proporcionar-lhe algo de bom com o seu amor? Não, são sempre fardos e mais fardos. O verdadeiro amor deve trazer a luz, a beleza e a paz àquele que amais. Assim, esse amor também vos fará progredir a vós."
 
"Como procedem os homens e as mulheres para conquistarem a amizade e o amor uns dos outros? Eles sabem instintivamente que devem usar palavras agradáveis, tecer elogios, oferecer presentes, etc., ou seja, alimentar a vaidade. Evidentemente, ao fazerem isso, não é à natureza superior dos outros que se dirigem, mas à sua natureza inferior; é essa que eles acarinham, que alimentam. Não é de admirar que uma relação nascida nestas condições prossiga no meio de mal-entendidos, tensões e confrontos. Este amor humano, muito humano, só pode exprimir-se de um modo instintivo. E será assim até os homens e as mulheres aprenderem a ter em conta a natureza superior que também existe neles e a dirigir-se a ela, para suscitarem manifestações verdadeiramente nobres e luminosas.
Amar um ser não é querer atraí-lo com um fim interesseiro, mas sim procurar constantemente esclarecê-lo, reforçá-lo, torná-lo cada vez mais consciente da sua predestinação divina."
 
"Todos os espiritualistas que mantêm o olhar fixo no Céu e desprezam a terra, com o pretexto de que ela é um lugar de perdição e o corpo físico é um instrumento do diabo, não compreenderam nada. Eles desagregam-se, definham, mumificam-se, não se sente vida neles. Vós conheceis pessoas assim: elas dizem-se algures nas alturas, mas aqui em baixo já não há nada delas e no Alto também não há grande coisa!
A era do Aquário, que está a chegar, traz outra filosofia. O Aquário ensina que o homem deve contemplar o Céu, mas não se desligar da terra. Ele deve contemplar o Céu para dele fazer descer tudo o que é belo, puro, luminoso, eterno. Então, ele próprio se transformará num espelho do Céu, num condutor do Céu, num jardim, num pomar, num Sol. Porque é que tem de haver Paraíso apenas lá em cima, e aqui, na terra, sempre miséria, pobreza, fealdade? Não, de agora em diante será diferente: a beleza é que descerá à terra, e tudo será radioso – as pedras, as plantas, os animais e os humanos."
 
"Quando eu critico os intelectuais e a importância dada aos estudos universitários, não é por achar os intelectuais ridículos ou malfeitores e os estudos inúteis ou nocivos. Não, o que eu critico é a tendência para se crer que os estudos e os trabalhos intelectuais representam o suprassumo do conhecimento e do pensamento. Como se não houvesse nada para além disso! Se a Inteligência Cósmica deu um intelecto ao homem, foi para ele o utilizar, e para o utilizar fazendo pesquisas, análises, medições, comparações. Mas o intelecto é um instrumento insuficiente; o domínio que os humanos podem explorar graças a ele é limitado e, por vezes, até contraditório; por isso, eles devem levar as suas investigações mais longe, ao domínio da alma e do espírito, senão sentir-se-ão sacudidos de um lado para o outro, sempre insatisfeitos e sem certezas."
 
"Quando conheceis um homem ou uma mulher, o que procurais saber primeiro a seu respeito é se têm um coração e uma inteligência sólidos, se têm um ideal espiritual? Não. Se fordes sinceros, reconhecereis que tudo isso não conta muito para vós e que procurais perceber, antes, se eles têm um físico agradável ao ponto de vos dar vontade de os abraçar, ou se são bastante ricos, para vos aproveitardes disso. Sim, é essa a atitude de toda a gente. Mas aqui, num ensinamento espiritual, compreendei que essa é uma atitude de que deveis libertar-vos, porque só com o que é honesto, bom, sábio e puro nos seres é que se poderá formar uma verdadeira fraternidade e trabalhar. Que farão a beleza e a fortuna, se ainda não estiverem ao serviço do mundo divino? Só servirão para provocar paixões, que destruirão a Fraternidade. E não me compreendais mal. Eu não digo que a miséria e a fealdade é que são desejáveis, digo que deveis acautelar-vos em relação às seduções
  que podem exercer sobre vós o dinheiro e a beleza física, porque vos farão esquecer qualidades muito mais importantes do que eles para o que nós queremos construir aqui."
 
"Tenho-vos dito sempre que deveis aprender com os enamorados. Um rapaz conhece uma moça. Mas tiveram de se separar, porque ela mora muito longe. Ele já não pode vê-la, mas, desde o primeiro encontro, ela está no seu coração, na sua alma; ele vive com ela, ela é para ele uma ligação ao mundo da poesia, da beleza, da inspiração. Muito bem, interiormente, este rapaz já fez a experiência do discípulo, porque lhe basta uma ideia, uma imagem, não tem necessidade de uma presença física para ser feliz, para estar inspirado. Na realidade, a ideia que se faz das coisas e dos seres pode ser mais poderosa do que as coisas e os seres em si. Precisais de conhecer esta verdade e de saber utilizá-la; ela é muito importante para o vosso aperfeiçoamento espiritual."
 
"O casamento, o verdadeiro casamento, é um fenómeno cósmico: ele celebra-se primeiro no Alto, entre o Pai Celeste e a sua esposa, a Mãe Divina. Os humanos, que são à imagem de Deus, repetem inconscientemente este acontecimento cósmico. Eis uma verdade que o cristianismo ainda está longe de compreender; os cristãos apresentam Deus como um celibatário. Mas isso é um erro. O homem, que foi criado à imagem de Deus, não pode fazer nada diferente daquilo que o próprio Deus faz. Se o homem procura uma mulher para se unir a ela e criar, é porque também Deus tem uma esposa à qual se une para criar. Essa esposa é a Mãe Divina. O cristianismo não aceita a Mãe Divina. Todas as religiões a aceitam, exceto o cristianismo. Mas este cristianismo não é o verdadeiro ensinamento do Cristo.
Os cristãos pensam que dizer que o Senhor também é casado diminui-O. Então, porque permitiu Ele aos homens fazerem-no? Onde foram os homens buscar essa ideia do casamento? Na realidade, tudo o que se faz no Alto faz-se também aqui em baixo."
 
"Mesmo quando um malfeitor consegue escapar, a sua consciência é constantemente visitada por inquietações: será que alguém o viu?; será que ficaram indícios que permitirão identificá-lo?; etc. Ele desencadeou certos processos que agora se refletem na sua consciência, e já não consegue estar tranquilo. Tudo é, pois, muito claro: assim que cometeis qualquer desonestidade, a vossa paz fica perturbada, pois a vossa consciência recebe imagens inquietantes de todos os lados. O homem culpado que quer apaziguar a sua consciência não o consegue, porque isso não depende da consciência, que apenas reflete a realidade que é o seu comportamento, mas da dívida que continua registada. Enquanto ele não tiver reparado os erros que cometeu, a sua consciência não estará tranquila."
 
"Antes de casar, tem-se o direito de escolher, mas, quando se está casado, não se tem o direito de mudar quatro ou cinco vezes de parceiro. Uma vez casado, deve-se ser fiel. Da mesma maneira, antes de seguirdes um Mestre, tendes o direito de refletir, de estudar a questão, até de ser desconfiados; é normal que vos interrogueis sobre se esse Mestre corresponde à vossa mentalidade, às vossas aspirações, ao vosso ideal, se o seu ensinamento vai ao encontro da vossa natureza profunda. Mas, quando vos tiverdes comprometido com um Mestre, é muito mau para a vossa evolução não lhe permanecerdes fiéis. Que quereis construir interiormente de sólido e de estável, se andardes a saltar de um lado para o outro, ao sabor dos vossos caprichos e da vossa curiosidade? A experiência espiritual não consiste numa série de encontros, uma vez com um Mestre hindu, outra vez com um Mestre sufi, outra, ainda, com um Mestre zen, etc. A experiência espiritual é um sulco que a pessoa cava e
 m si e que nunca mais deixa de aprofundar. Ora, o que é que se pode aprofundar mudando constantemente de guia ou de orientação?"
 
"O nosso presente é o resultado do nosso passado. É por isso que não temos quase nenhum poder sobre o presente: ele é a consequência, a sequência lógica do passado. Os pensamentos, sentimentos e desejos que tivémos nas encarnações anteriores acionaram no Universo forças e poderes da mesma natureza que eles, que determinaram as nossas qualidades, as nossas fraquezas e os acontecimentos da nossa existência atual. Por isso, é quase impossível modificar, ao longo da presente encarnação, o que foi assim determinado pela nossa vida passada. A única coisa que está em nosso poder é preparar o futuro. E preparar o futuro é o que os Iniciados ensinam aos discípulos que vão para as suas escolas."
 
"A cruz é um símbolo que nunca aprofundaremos completamente. Entre muitas outras interpretações, podemos ver nela uma representação do ser humano, síntese dos dois princípios, masculino (o espírito e o intelecto) e feminino (a alma e o coração). A união desses dois princípios produz um movimento. Sim, quando se junta o pensamento ao sentimento, nasce o movimento, isto é, a ação. Quando se põe a cruz em movimento, ela engendra um círculo, o Sol; e, quanto mais intenso for o movimento, mais luminoso se torna o Sol. O Sol resume os dois princípios, é a cruz em movimento."
 
"Só o trabalho conta, e, quando o discípulo encontra o verdadeiro trabalho, nunca mais o abandona. Eu lembro-me de que o Mestre Peter Deunov tinha o hábito de repetir estas três palavras: «Rabota, rabota, rabota. Vremé, vremé, vremé. Véra, véra, véra...», o que quer dizer: «O trabalho, o trabalho, o trabalho. O tempo, o tempo, o tempo. A fé, a fé, a fé...» Ele nunca me explicou porque repetia estas três palavras, mas isto fez-me pensar muito e eu compreendi que ele condensara nelas toda uma filosofia. Ora vejamos: o trabalho, sim, mas também a fé que é necessária para o empreender e o continuar, e, sobretudo, o tempo. É preciso tempo. Não basta desejar ardentemente alguma coisa para que ela se realize rapidamente. Sim, agora eu sei o que é vrémé. Anos e anos se passaram, e eu vejo que vrémé é muito importante!"
 
"Estudai as forças que tendes por hábito considerar como más e aperceber-vos-eis de que elas talvez não o sejam tanto como julgais. Quantos exemplos nos mostram que o que é mal para uns não é obrigatoriamente mal para os outros! Alguns animais resistem extraordinariamente ao fogo, outros ao frio, outros ao veneno, outros à falta de alimentos. Outros, ainda, não morrem mesmo quando lhes cortam o corpo em dois... As ideias que os homens forjaram a respeito do mal são suas, não são universalmente válidas. Eles não podem saber o que é o mal enquanto o julgarem segundo as suas fraquezas ou as suas limitações. Quando se aproximarem da perfeição, mudarão de opinião. Como os Iniciados, que, para além do aspeto aterrador do mal, que causa medo aos fracos, sabem encontrar nele uma força benéfica ou até um amigo."
 
"Por vezes, gostaríeis muito de resistir a certas tentações, porque sentis que, se não resistirdes, sereis arrastados para aventuras deploráveis; mas, apesar do vosso desejo, não conseguis dominar-vos e sucumbis. Porquê? Porque não desenvolvestes em vós um amor por algo mais belo, mais grandioso, que poderia opor-se aos vossos instintos. Se possuísseis esse amor, seria ele a combater e a permitir-vos vencer. Para se lutar, não basta a vontade; num momento ou noutro, ela acaba por capitular. Não basta dizer: «Não me deixarei arrastar, resistirei...» Para resistirdes ao que vos arrasta para baixo, precisais de ser ajudados por uma força que vos eleve para um mundo superior: um alto ideal."
 
"Interrogai um homem de negócios que fez fortuna: julgais que ele vos dirá que é feliz? Nada é menos certo. Ele queixar-se-á, dizendo que está estafado, que a mulher aproveita as suas ausências para o enganar, que o filho é um incapaz e os seus operários são preguiçosos, que as suas ações baixaram na bolsa, que vai ficar arruinado com a concorrência, etc. Vós escutai-lo e, pouco tempo depois, sentis-eis tão abatidos como ele. Apesar de todas as suas posses, ele nunca poderá fazer-vos sentir como a vida é bela, porque vive com medo de perder isto e aquilo... Então, como podeis ver, não só ele nunca vos dará nada, pois já tem medo de perder o que tem, como ainda vos tirará a paz e a alegria de viver. Ao invés dele, um homem que trabalhou para adquirir riquezas espirituais crê que essas riquezas são inesgotáveis e que ninguém pode tirar-lhas; portanto, estará sempre pronto a fazer-vos beneficiar delas e, graças a ele, sejam quais forem as condições em
que estejais, tereis os melhores métodos, os melhores remédios, para encontrar o equilíbrio, para apreciar a beleza e o sentido da vida."
 
"No Universo, a Terra não é considerada como um lugar privilegiado e, por conseguinte, não é uma honra para ninguém estar nela. A Terra é uma casa de correção para onde os humanos são enviados, a fim de fazerem... estágios de aperfeiçoamento. Mas não será sempre assim, porque a Terra também é um vasto campo onde numerosos seres trabalham sob a direção do Senhor. De momento, esse campo ainda está, em parte, inculto; serão precisos séculos e milénios para o tornar produtivo. Mas as condições melhorarão cada vez mais e, um dia, a Terra será realmente um jardim florido, um pomar divino. Ela será verdadeiramente o Reino de Deus, habitado pelos filhos do amor e da luz. Há biliões de seres que trabalham já há muito tempo, voluntariamente empenhados numa tarefa gigantesca, de que ainda muito poucos de vós podem ter uma ideia."
 
"Na nossa vida quotidiana, é muito difícil fazer a destrinça entre o bem e o mal, saber onde começa um e acaba o outro, porque eles estão inextricavelmente misturados. Por isso está escrito na Tábua de Esmeralda: «Separarás o subtil (o bem) do espesso (o mal), com grande perícia.». O mal agarra-se avidamente ao bem para nele beber forças. E o bem também se agarra ao mal para se alimentar dele, e isso é-lhe permitido: a planta tem o direito de captar elementos da terra na qual cresce, e nisso está conforme às leis da criação e da vida. Mas o solo não tem o direito de captar as energias da planta."
 
"Se os humanos se deparam com tantas dificuldades e fracassos, é porque estão divididos interiormente: o coração puxa numa direção, o intelecto noutra, a vontade numa terceira, o estômago numa quarta, o sexo numa quinta... Há uma história que conta como uma águia, um peixe, uma toupeira e um caranguejo se reuniram para transportar uma determinada carga. A toupeira puxava para a terra, o peixe para o rio, a águia para o céu e o caranguejo para trás... Podeis imaginar como a carga foi bem transportada!... A maior parte das vezes, é exatamente o que se passa com o homem, pois nada é mais difícil do que fazer a união de todas as diferentes tendências que nele existem, para as canalizar numa única direção. Pode acontecer que, de tempos a tempos, se consiga, mas é tão raro! No entanto, é esta unificação de todas as tendências que dá ao homem o verdadeiro equilíbrio, o verdadeiro poder e a verdadeira paz."
 
"Espera-se de um discípulo que seja capaz de compreender e de aprofundar as noções elementares da Ciência Iniciática. No passado, aquele que queria ser admitido numa Escola Iniciática era submetido a provas que deveriam revelar as suas qualidades psíquicas. Por exemplo: era encerrado numa sala depois de terem colocado à sua frente uma figura geométrica (círculo, quadrado, triângulo...), que ele tinha de interpretar. Deixavam-no lá com um pouco de água e de comida e, alguns dias depois, pediam-lhe que expusesse o resultado da sua meditação. Consoante a sua maneira de interpretar a figura, assim era, ou não, aceite na Escola. Agora, as Escolas Iniciáticas estão abertas a todos, o que, por um lado, é uma boa coisa, porque cada um, ao seu nível, se for sincero, pode encontrar pelo menos uma verdade que lhe permitirá progredir. Mas aqueles que não procuram aprofundar o ensinamento que recebem correm grandes perigos: misturam tudo e caem nos piores absurdos."
 
"É fácil constatar que o plano moral não está separado do plano físico. Vejamos o exemplo de um alcoólico. Inicialmente, ele era um homem culto, atencioso, nobre e generoso, nada lhe faltava. Mas, a partir do dia em que começou a beber, essas qualidades foram-se esbatendo pouco a pouco e acabaram por desaparecer. Ele tornou-se grosseiro, egoísta, brutal. O que é que mudou? Precisamente o lado moral, o comportamento. Tudo se desmoronou por causa do excesso de bebida. Outro exemplo: um homem tem a paixão do jogo, ao ponto de acabar por descurar as suas obrigações, os seus deveres para com a mulher e os filhos. No começo, o jogo era uma atividade que nada tinha a ver com a moral (manusear cartas é completamente inofensivo), mas, por fim, foi o domínio moral que veio a sofrer as suas repercussões. Como é possível não se ver as ligações que existem entre estes dois planos, o físico e o moral?"
 
"Instintivamente, os humanos agem com uma grande sabedoria: quando se aproxima o inverno, fazem reservas de lenha, de carvão, etc., e preparam vestuário quente para resistirem ao frio que vai chegar. Infelizmente, são bem menos previdentes quando se trata de enfrentar os invernos interiores. Nesse caso, não se preparam e, quando se aproxima o período sombrio, só sabem queixar-se e dizer que a vida não tem qualquer sentido. Dir-me-eis que as estações da vida interior não voltam com a mesma regularidade que as da Natureza e que, por isso, são imprevisíveis. É verdade, mas deveis saber que o inverno vem necessariamente de tempos a tempos e, se aprenderdes a observar-vos, ireis descobrindo em vós certos sinais precursores. Por isso, aprendei a observar-vos e, logo que sintais que esse período de frio e de escuridão vai chegar, ficai vigilantes e preparai os elementos espirituais que continuarão a manter em vós o fogo e a luz. Jesus dizia: «Caminhai enquanto tendes luz,
  para que as trevas não vos surpreendam.» Isto significa: «Aproveitai as condições favoráveis, para que tenhais as armas necessárias no dia em que tiverdes de enfrentar as dificuldades que se avizinham.»"