domingo, 10 de janeiro de 2021

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV

 
"Está escrito que, no dia do Juízo Final, será feita uma separação entre os humanos: os bons serão colocados à direita de Deus, para tomarem posse do seu Reino, e os maus à sua esquerda, para serem precipitados no fogo. Dir-me-eis: «Como o Senhor é cruel! Ele não tem uma ponta de piedade!» Na realidade, o Senhor bem gostaria que tudo fosse diferente, que todos ficassem do seu lado direito, isto é, felizes e em plenitude. Mas a Mãe Natureza também tem uma palavra a dizer, e ela não conhece a piedade, é justa e implacável. Ela diz: «Não posso fazer nada com estes materiais baços e retorcidos. Têm de ser enviados para a oficina, para serem refundidos!» E, com o que sai desta nova fusão, faz criações formidáveis: pérolas, estrelas, mundos completos. Nela não há maldade alguma.
Que faz o joalheiro? Munido de uma lupa e de outros instrumentos, examina as pedras preciosas, dizendo: «Este diamante é perfeito. Aquele tem umas manchinhas, não é de primeira qualidade», e põe-no de lado, faz uma escolha. Em toda a parte, em todos os domínios, quer se trate dos frutos da terra, quer se trate de matérias-primas, os humanos fazem uma seleção. Então, porque não haveria a Natureza de fazer o mesmo com os humanos?"
 
"À noite, durante o sono, o verdadeiro discípulo deixa o corpo e vai junto do seu Mestre, com quem continua a instruir-se: lê os livros mais secretos nas bibliotecas do Universo, assiste a cerimónias grandiosas... E, se bem que o cérebro humano ainda não esteja preparado para guardar memória de tais acontecimentos, ele consegue recordar alguns registos que lhe enchem o coração de uma sensação tão doce, tão tranquila, que, ao despertar, diz para consigo: «Onde estive eu esta noite? O que vi era tão belo!...» É preciso que se compreenda como o sono se torna sagrado quando se adormece para ir às escolas espirituais, porque é nelas que se recebe a verdadeira Iniciação."
 
"É impossível orientarmo-nos e trabalharmos na escuridão. Sob todos os pontos de vista e em todos os domínios, a luz deve estar em primeiro lugar. Na vida diária, já todos compreenderam o seguinte: quando se faz noite, ilumina-se as ruas e as casas; quando uma pessoa acorda a meio da noite, acende a luz; se alguém precisa de sair para a escuridão, leva uma lanterna de bolso; e, se houver uma avaria elétrica, acende-se as velas. Mas, quanto ao vosso caminhar na vida, que fazeis? Mudais de situação ou de país, abandonais a vossa família, empreendeis um trabalho, casais, tendes filhos, sem nunca acenderdes uma lâmpada, sem pedirdes luz. E é por isso que não parais de entrar em choque com pessoas, de viver situações conflituosas, de vos ferirdes e ferirdes os outros. Então, procurai a luz, pedi a luz!..."
 
"Só podereis ser felizes quando conseguirdes encontrar o lugar que é, realmente, o vosso. Perguntareis: «O lugar?... De que lugar está a falar?» A palavra lugar tem, aqui, vários significados: elemento, país, casa, profissão, missão, ideal... Com frequência, vemos pessoas andarem de um lado para outro, sem nunca se fixarem no que quer que seja. Não conseguiram encontrar o seu lugar, não criaram raízes e sentem-se infelizes. Têm necessidade de que alguém venha pô-las em solo fértil, onde comecem a germinar. Até aí, parecem-se com a semente que, num celeiro, aguarda o momento de ser semeada. Quando a semente é colocada em terreno propício, gera uma planta, que dá frutos; então, diz: «Cá está, encontrei o meu lugar.» Esse lugar não é o celeiro, onde ela se sente ameaçada de criar bolor ou de ser comida pelos ratos. O que todos precisam é de ser semeados, plantados, na terra espiritual."
 
"Muitas pessoas imaginam que, ao seguirem um ensinamento espiritual, vão encontrar o elixir da vida imortal, a panaceia universal, e que deixarão de ser afetadas por doenças, pela velhice e pela morte. Infelizmente, são ilusões. Mesmo um santo, mesmo um Iniciado, apesar dos seus conhecimentos, da sua luz, do seu poder, um dia terá de deixar a terra. Não é por se viver na luz que se poderá escapar à morte. A luz é uma coisa, a longevidade é outra. A luz até concorda em levar-vos da terra, para vos conduzir à região do Alto, que é a sua. Eis o que ela diz: «Meu caro, porque queres ficar tanto tempo num sítio tão escuro? Eu sou pura, vem viver para aqui comigo.» Sim, muitas vezes é a luz que atrai os humanos para o outro mundo."
 
"Se lutardes contra o instinto sexual apenas com a vossa vontade, sereis esmagados. Para dominardes a força sexual, deveis apelar para as entidades celestes, isto é, ter um alto ideal, um amor intenso pela perfeição, pela pureza, pela beleza. Por isso, não é fácil, e é necessária toda uma ciência para o conseguir. Se não tiverdes um ideal elevado, se não quiserdes viver a vida divina, a vida perfeita, não luteis contra a força sexual, porque será ela a derrubar-vos. O recalcamento não é a solução para o problema da sexualidade. O recalcamento não é mais do que recusar à força sexual a sua saída natural, sem se ter uma ideia que aja num plano superior. Só um amor extraordinário por um alto ideal vos ajudará a sublimar as vossas energias."
 
"Por vezes, sentis-vos fatigados e começais a ter dúvidas, perguntais-vos se os esforços que fazeis para seguir pela via do bem, para superar o eu, valem realmente a pena, e ficais tentados a abandonar tudo. Pois bem, é então que deveis permanecer atentos e vigilantes, tendo consciência do que vos espera se voltardes para trás. Pensai: «Bem, neste momento estou um pouco cansado, não tenho vontade de avançar, mas isto passa depressa; até lá, não devo desistir.»
Vede como tudo se passa na vida: depois da primavera, vem o verão, depois o outono, depois o inverno. E depois do inverno vem novamente a primavera. Então, porque não haveria de haver ciclos, estações, também em vós? E refleti deste modo: «Muito bem, vou deixar passar um pouco este inverno, e depois tudo melhorará.» É assim que se deve raciocinar; e, sobretudo, nunca se deve desistir, porque depois é muito mais difícil retomar o caminho da luz."
 
"Como faz a ostra para fabricar uma pérola? Inicialmente, houve um grãozinho de areia que caiu na sua concha, e esse grão de areia é, para ela, uma dificuldade que a incomoda. «Ah!, diz a ostra, como é que vou desembaraçar-me deste grão de areia? Ele arranha-me, faz-me comichão. Que hei de fazer?» Então, põe-se a refletir, concentra-se... medita! E, um dia, começa a segregar uma matéria especial, com a qual envolve aquele grão de areia tão irritante, de tal modo que ele se torna liso, polido, aveludado. Depois de conseguir isso, fica muito contente e diz: «Venci uma dificuldade!» É esta a lição da ostra perlífera; ela ensina-vos que podeis envolver os vossos desgostos, as vossas contrariedades, com uma matéria luminosa, irisada, acumulando assim em vós riquezas incalculáveis. O verdadeiro espiritualista é aquele que sabe agir em relação às suas dificuldades de modo a fazer delas pérolas preciosas."
 
"Construí a vossa existência com os vossos próprios esforços, não conteis com o que quer que seja além deles. Aceitai e utilizai tudo o que o mundo exterior vos oferecer de bom, mas não conteis com isso, porque o vosso verdadeiro futuro é percorrer todas as regiões do espaço através das estrelas e dos sóis, e nessa viagem só podeis levar as riquezas que tiverdes acumulado em vós. Aprendei a saber aquilo sobre o qual deveis trabalhar e aquilo com que deveis contar. Se estiverdes a contar com as condições materiais, com objetos, mais dia, menos dia, tereis deceções. Na verdade, só podereis contar com o espírito, que é pura atividade, esforço constante. Quanto ao resto, utilizai-o, se quiserdes, e agradecei ao Céu por vo-lo ter dado, mas não conteis muito com isso."
 
"Nós queixamo-nos muitas vezes de que Deus é cruel, de que Ele não tem amor nem justiça, mas só o fazemos porque não somos justos nos nossos pensamentos. Julgamos merecer todas as alegrias e todos os sucessos e, se nos acontecem umas desgraçazinhas, pensamos que foi o Céu que nos enviou tudo isso sem razão. Esquecemo-nos de que, todos os dias, Deus nos dá a possibilidade de ouvir, ver, respirar, andar, cheirar, pensar... Que ingratidão! Em vez de importunarmos o Senhor com reclamações e queixas contínuas, devemos pensar profundamente, todos os dias, na dívida colossal que temos para com Ele... Senão, perderemos tudo. Se não apreciarmos a saúde, ficaremos doentes. Se não estivermos reconhecidos por termos cérebro, olhos, ouvidos, tornar-nos-emos estúpidos, cegos, surdos... Quando tivermos perdido uma só dessas riquezas, começaremos a compreender o que ela representava."
 
"Quando convidais amigos a visitarem-vos, preparais a vossa casa: fazeis uma limpeza, pondes tudo em ordem e colocais flores nas jarras. E, quando os amigos chegam, ofereceis-lhes o que tendes de melhor, para que eles se sintam alegres e felizes. O que assim fazeis com os vossos amigos, também deveis fazê-lo no plano espiritual com todas as pessoas que encontrardes, acolhendo-as no vosso coração e na vossa alma, com os vossos melhores pensamentos e sentimentos. Quando os seres humanos conseguirem manifestar-se de modo a apenas despertarem nos outros o que neles há de melhor, isso será o início da Idade de Ouro na Terra. Porque não começais, já hoje, a dar aos outros o que tendes de mais precioso?"
 
"Ponde-vos diante de um espelho e tocai na vossa sobrancelha direita com a mão esquerda; no espelho, vereis a vossa mão direita tocar a sobrancelha esquerda. O espelho é um objeto muito interessante, porque nos revela certos aspetos do mundo invisível. No plano astral, os objetos são vistos em posição invertida relativamente àquela que têm no plano físico, como num espelho. Os números, as datas, tudo está ao contrário. Determinado facto do futuro apresenta-se como passado, e inversamente. É por isso que o plano astral é o mundo das ilusões. Para se conhecer a verdade, é necessário, pois, ir mais além, ao plano mental superior ou plano causal. E é isto que aprendemos no Ensinamento.
Se conseguirdes resolver a questão do espelho, resolvereis os maiores problemas da vida psíquica."
 
"Deveis tomar consciência dos perigos que existem em permanecerdes por muito tempo sob a ação de pensamentos, emoções ou sentimentos negativos. Não podeis evitar passar por deceções, desgostos, irritações, mas deveis fazer tudo para não vos manterdes nesses estados, porque acabaríeis por ficar completamente amarrados, submersos. Deveis aproveitar o lapso de tempo em que ainda vos é fácil libertardes-vos; não fiqueis a debater-vos nesse nível, pois não tendes estatura para lutar. Lutar na escuridão nunca fez jorrar a luz: há que sair do buraco. Se permanecerdes demoradamente em estados de descontentamento, inveja, rancor, cólera, esses estados acabarão por impor-se e destruir-vos. Deveis tentar escapar rapidamente a eles, elevar-vos e substituí-los por pensamentos e sentimentos positivos. É assim que sereis salvos."
 
"Começai o dia dizendo para convosco que deveis viver com amor, comer com amor e respirar com amor. Vós pensais que sabeis tudo isto... Não, não sabeis. Quando começardes verdadeiramente a compreender, com todo o vosso ser, o que é viver com amor, toda a vossa vida se modificará. O amor jorrará incessantemente de manhã à noite, e mesmo enquanto dormis.
Viver com amor é viver num estado de consciência que harmoniza todos os atos da vida, que mantém o ser num equilíbrio perfeito, num estado de consciência que é uma fonte de alegria, de força, de saúde."
 
"Geralmente, considera-se a velhice uma provação e, na verdade, para a maioria das pessoas é uma provação, porque não viveram em harmonia com as leis divinas. Mas, na realidade, a velhice pode ser o melhor período da vida. Para aqueles que, durante a juventude e a idade adulta, alimentaram um alto ideal, muita coisa melhora na velhice: a compreensão, a lucidez... Como se explica isso? Dir-se-ia que o cérebro não segue a mesma evolução que o corpo físico. As pernas, os olhos e os ouvidos começam a trair-vos, mas a vida da alma e do espírito torna-se cada vez mais abundante e rica. Como se o ser saboreasse, finalmente, os frutos dos seus esforços. Portanto, preparai-vos! Vivei corretamente enquanto sois jovens, para poderdes gozar mais tarde dessa abundância de frutos."
 
"Todos querem ser apreciados e reconhecidos pelo que fazem e, se não o são, ficam dececionados, amargurados, a remorder-se. Pois bem, trata-se de uma fraqueza que o discípulo deve superar. A partir do momento em que está consciente de que a sua atividade é benéfica, desinteressada, luminosa, e tem confiança nas leis cósmicas, ele sabe que, mais dia menos dia, receberá a estima e o lugar que merece. Se há algo em que deveis crer, é na existência de leis no Universo. Vós pronunciais uma palavra, fazeis um gesto, tendes um desejo, um pensamento, e imediatamente eles são registados, classificados, e produzem resultados. É com estas leis que deveis contar, pois pode mudar tudo à vossa volta, exceto elas; mais cedo ou mais tarde, elas enviar-vos-ão exatamente o que mereceis, consoante o trabalho que tiverdes realizado. Não conteis, pois, com outra coisa que não seja o vosso trabalho."
 
"Quando acordais de noite e quereis levantar-vos, a vossa primeira precaução é acender a luz. Se os locais por onde vos moveis estiverem iluminados, podereis fazer tudo o que quiserdes, mas, se vos aventurardes na escuridão, chocareis com os móveis, partireis objetos, ferir-vos-eis, etc. Sim, mas, no que diz respeito à condução na vossa vida interior, não compreendestes este ensinamento da luz: simbolicamente falando, avançais nas trevas. Por isso, não conseguis orientar-vos e chocais frequentemente com isto ou com aquilo.
Deveis procurar a luz, concentrar-vos nela, pô-la acima de todos os tesouros da Terra, e até bebê-la, comê-la. Sempre que tiverdes um instante, fechai os olhos e concentrai-vos na imagem da luz que impregna todo o Universo e propicia todas as bênçãos."
 
"Amai e sereis amados. Dai e dar-vos-ão. E, se quiserdes ser esclarecidos, começai por esclarecer quem o é menos do que vós, porque então alguém que tem mais luz virá dar-vos da sua. Jesus disse: «Não façais aos outros o que não quereis que vos façam a vós.» Mas também poderia dizer-se: «Fazei aos outros o que gostaríeis que vos fizessem». É uma lei. Ajudando os outros, atraís um ser que vos ajudará. Esforçai-vos por apoiar, por encorajar alguém, e constatareis que a Vontade suprema virá reforçar-vos."
 
"A estrutura do homem, tal como a do Universo, obedece à lei da hierarquização: quanto mais algo se eleva para o cimo, mais subtil, pura e etérica se torna a sua matéria. Para obtermos as partículas dessa matéria etérica, precisamos, pois, de elevar-nos, e nós podemos fazer isso, pois o Senhor, assim como nos deu meios para agirmos sobre as regiões densas da matéria, deu-nos meios para atingirmos as suas regiões subtis. E a prece é um desses meios. Pela prece, podemos chegar até ao mundo da pura luz, onde o Senhor colocou os maiores tesouros. Nós podemos ter acesso a todos esses tesouros: quando conseguirmos elevar-nos até às regiões superiores, eles estarão plenamente à nossa disposição e teremos o direito de servir-nos deles."
 
"A natureza inferior é tão forte em nós porque, ao longo dos séculos, teve de enfrentar grandes obstáculos que a obrigaram a proteger-se por todos os meios. Agora é muito difícil vencê-la e, em todo o caso, não podereis vencê-la pelos vossos próprios meios. Se tentardes lutar sozinhos contra a vossa natureza inferior, vós é que sereis sempre vencidos. Para a dominardes, precisais de apelar para forças superiores a vós – a Divindade, a inteligência, a luz – e agarrar-vos a elas. Não confieis muito nas vossas capacidades: a natureza inferior teve de desenvolver tantas energias para sobreviver que agora faz frente a tudo, só se inclina perante o mundo divino. Se vos apresentardes diante dela sem as armas do Céu, sem luz, ela não vos reconhecerá e dirá: «Tu não és o meu domador!» E lançar-se-á sobre vós para vos devorar. O domador, o verdadeiro domador, é o próprio Deus, foi Ele que criou tudo, por isso é Ele que sabe manter esse monstro em respeito."
 
"A maioria dos nossos atos pertencem à mais vulgar existência quotidiana, todavia podemos aprender a transpô-los para o plano espiritual, para assim atingirmos os graus superiores da vida. Quando estamos a comer, por exemplo, o que é essencial não são os alimentos em si, mas a energia que eles contêm, a quinta-essência neles aprisionada, porque é nela que reside a vida. A matéria do alimento é apenas um suporte. Através dessa matéria, é a quinta-essência que nós devemos procurar atingir, para alimentarmos os nossos corpos subtis. É um erro considerarmos que comemos para alimentar apenas o corpo físico; comemos para alimentar também o coração, o intelecto, a alma e o espírito."
 
"O momento da morte é tão importante porque a encarnação seguinte depende muito desse derradeiro momento. A atitude do moribundo nessa hora tem repercussões no outro mundo até à sua próxima encarnação.
Por certo, já pudestes observar que o estado em que adormeceis se reflete em vós durante a noite e influencia o vosso despertar no dia seguinte. Por muito bom que tenha sido o vosso dia, se adormecerdes com má disposição, despertareis mal dispostos no dia seguinte. Pelo contrário, se adormecerdes com bons pensamentos e bons sentimentos, mesmo que o vosso dia não tenha sido famoso, este último momento vai reparar tudo, aclarar tudo, e despertareis de manhã com a melhor das disposições. Estas leis aplicam-se igualmente de uma existência para outra."
 
"Têm-me dito muitas vezes: «Fala-nos do Reino de Deus e da fraternidade universal, mas, nas circunstâncias atuais, isso é uma utopia, é impossível realizá-los.» Não, não é impossível. É difícil, porque os humanos não estão muito dispostos a abandonar a satisfação dos seus desejos inferiores para se consagrarem à realização de um ideal divino, mas não é impossível. Bastaria que, em vez de tomarem sempre por referência a ordem terrena, eles estudassem a ordem celeste, para realizarem em baixo o que existe no Alto.
Quando os cristãos começarem a levar a sério as palavras de Jesus na prece dominical: «Seja feita a tua Vontade, assim na terra como no Céu», tudo poderá mudar. Não basta murmurar esta prece, como se faz há dois mil anos. Balbucia-se inconscientemente: «Seja feita a tua Vontade, assim na terra como no Céu», e continua-se a obedecer unicamente à vontade humana, egoísta e mal esclarecida.
Quando é que os humanos decidirão, finalmente, compreender e realizar a vontade divina?"
 
"A natureza inferior é tão forte em nós porque, ao longo dos séculos, teve de enfrentar grandes obstáculos que a obrigaram a proteger-se por todos os meios. Agora é muito difícil vencê-la e, em todo o caso, não podereis vencê-la pelos vossos próprios meios. Se tentardes lutar sozinhos contra a vossa natureza inferior, vós é que sereis sempre vencidos. Para a dominardes, precisais de apelar para forças superiores a vós – a Divindade, a inteligência, a luz – e agarrar-vos a elas. Não confieis muito nas vossas capacidades: a natureza inferior teve de desenvolver tantas energias para sobreviver que agora faz frente a tudo, só se inclina perante o mundo divino. Se vos apresentardes diante dela sem as armas do Céu, sem luz, ela não vos reconhecerá e dirá: «Tu não és o meu domador!» E lançar-se-á sobre vós para vos devorar. O domador, o verdadeiro domador, é o próprio Deus, foi Ele que criou tudo, por isso é Ele que sabe manter esse monstro em respeito."
 
"O fogo come a árvore e, ao comê-la, transforma-a, torna-a semelhante a ele. A árvore transforma-se em fogo porque o fogo a come. É uma lei. Qualquer coisa, qualquer ser, torna-se idêntico àquele que o come. Assim também, se oferecermos todo o nosso ser ao fogo do Amor divino, para que ele se apodere de nós e nos devore, esse fogo tornar-nos-á semelhantes a ele. Nós possuímos, no nosso interior, materiais suficientes para alimentar eternamente o fogo divino. Por isso, devemos meditar acerca do fogo, tentando compreender como ele age sobre a árvore para a transformar em luz e calor, e também nos tornaremos árvores de luz."
 
"Que festejamos nós no Natal? A união da alma com o espírito. A alma e o espírito unem-se para fazer nascer um germe que é o ponto de partida em nós para uma consciência nova. Esta consciência manifesta-se como uma luz interior que afasta as trevas… como um calor tão intenso que, mesmo que todos nos abandonem, nunca nos sentiremos sós… como uma vida abundante que fazemos jorrar por toda a parte onde os nossos pés nos levem. Esta consciência é acompanhada de um afluxo de energias puras que nos incita a trabalhar para a vinda do Reino de Deus. Neste trabalho, descobrimos a alegria extraordinária de nos sentirmos ligados a todo o Universo, a todas as almas evoluídas, a fazer parte dessa imensidão, e temos a certeza de que nada nem ninguém pode tirar-nos essa alegria.
Na Índia, chama-se a este estado a consciência búdica, e os cristãos chamam-lhe o nascimento do Cristo."
 
"Seja em que domínio for, as alegrias e os prazeres puramente físicos, sensuais, provocam, a longo prazo, uma redução da sensibilidade. Vão sendo precisos cada vez mais prazeres, sensações cada vez mais fortes, para se obter um pouco de felicidade, e, portanto, torna-se cada vez mais difícil ser feliz, porque se fica cada vez mais insensível. Quem comete excessos na comida e na bebida acaba por perder o paladar; quem acumula experiências sexuais depressa se torna indiferente a essas situações. É uma lei que se verifica em todos os domínios. Por isso, diminuí um pouco os vossos prazeres, subtilizai-os; desse modo, tornar-vos-eis cada vez mais sensíveis, e a mais pequena sensação proporcionar-vos-á as maiores alegrias."
 
"Alguns seres, ao terem decidido aproximar-se do Senhor e identificar-se com Ele, só conseguiram tornar-se insuportáveis, ao ponto de terem desavenças com a família e aqueles com quem se relacionam. Toda a gente tem de ficar a saber que eles são umas divindades! E estão sempre a envolver-se em choques e em zaragatas... Mas não; assim, não! Quando alguém resolve aproximar-se do Senhor e tornar-se uma parte d'Ele, deve ter mais generosidade e mais amor. Porque Deus é Amor. Se a vossa busca de Deus vos leva a esmagar e a massacrar os outros, é porque não compreendestes nada. Para vos aproximardes de Deus, deveis começar por pensar e sentir que todos os humanos, como o Senhor, também estão em vós, são vós. Então, em vez de os combaterdes, de os atormentardes e de vos tornardes uns monstros, sentireis as suas necessidades, as suas preocupações, os seus sofrimentos, e ficareis desejosos de ajudá-los. É assim que vos aproximais verdadeiramente da Divindade."
 
"Comungar é fazer trocas, isto é, saber, ao mesmo tempo, receber e dar.
A hóstia pode dar, a quem a recebe, as maiores bênçãos, mas se, em troca, o homem não lhe der o amor e o respeito devidos, não será uma comunhão, mas um roubo, um ato desonesto! E, para se comungar com Deus, também é preciso ser-se capaz de Lhe levar algo. Não que Deus tenha necessidade daquilo que nós possamos dar-Lhe. Ele é tão rico! Nós é que, ao tentarmos dar-Lhe algo de nós mesmos, despertamos em nós certos centros espirituais graças aos quais recebemos as suas bênçãos. Está escrito que nós devemos a Deus amor, respeito, reconhecimento e fidelidade, mas tudo isso, na verdade, é para nós próprios."
 
"Escrevei numa folha de papel os vossos melhores votos no sentido da vossa evolução, do bem dos vossos amigos e do mundo inteiro, e confiai-os ao Anjo do Fogo. O fogo é o mensageiro do invisível e, a partir do instante em que esses papéis são queimados, as entidades do Alto começam a tomar conhecimento dos seus conteúdos e a estudá-los, para verem como podem dar-lhes satisfação. Bem entendido, não se deve esperar que esses pedidos sejam satisfeitos de um dia para o outro. Mas, se fordes pacientes, se continuardes a fazer esforços e a trabalhar no sentido do que pedistes, um dia vê-los-eis realizados, porque onde o fogo participa há sempre resultados."
 
"Jesus dizia: «O meu Pai trabalha e eu trabalho com Ele.» Muito poucos, mesmo entre os Iniciados, podem pronunciar uma tal frase. «Eu faço uns trabalhitos... eu desgasto-me... eu dou cabo da cabeça... eu faço umas experiências infelizes», é tudo o que pode dizer a maioria dos humanos. Só é digno de dizer «eu trabalho» quem conseguiu elevar-se até ao Espírito Divino para se impregnar d’Ele.
Passados dois mil anos, ainda não se conseguiu apreender a profundidade desta frase: «O meu Pai trabalha e eu trabalho com Ele.» Assim, ela permaneceu inútil, vazia de sentido. Nunca se procurou entender, sequer, o que é este trabalho de Deus, nem como Ele trabalha, nem porque Jesus se associou a esse trabalho. O trabalho do Cristo é o de purificar tudo, harmonizar tudo, iluminar tudo e fazer convergir todas as coisas para a Fonte Divina, a fim de que a água dessa fonte possa espalhar-se e vivificar a Terra e todas as suas criaturas."
 
"Fazei uma revisão a todos os conhecimentos, ideias e opiniões que até agora aceitastes. Estudai-os e perguntai-vos se estão em harmonia com a filosofia dos Iniciados. Se sim, sublinhai-os, reforçai-os, aprofundai-os. Mas, se forem noções contrárias a essa filosofia, ficai a saber que elas irão desorientar-vos, criar-vos dificuldades. Então, rejeitai-as! Depois, sentir-vos-eis muito mais libertos, vereis muito mais claramente! Se ainda tateais na escuridão, é porque estais atulhados de demasiadas coisas que vos tornam pesados; é tempo de procurardes a luz e a leveza. É este, pois, o trabalho que há a fazer: saber o que se deve rejeitar e o que se deve conservar. Isto é sério, muito sério. Se não fizerdes este trabalho, os anos passarão e continuareis a sentir-vos importunados, embaraçados e hesitantes."