domingo, 7 de novembro de 2021

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV


"Todos fomos construídos nas oficinas do Senhor para compreendermos e vivermos as mesmas realidades divinas.
Mas o que os humanos têm sempre tendência a sublinhar e a contestar são as disparidades, as contradições, o que provoca toda a espécie de mal-entendidos e de confrontos. Existem, é claro, algumas necessidades básicas comuns: comer, beber, dormir, gerar filhos, etc., sobre as quais toda a gente está de acordo. Mas quanto ao resto, é a Torre de Babel... Cada um diz: «Na minha opinião, deve ser assim... A mim, parece-me que deve ser assado...» Muito bem, mas dever-se-ia pensar também um pouco na opinião dos outros. Cada um tem razão segundo o seu ponto de vista, mas a razão de cada um provoca a desordem geral. Assim vai o mundo, como se costuma dizer. E o mundo vai de desordem em desordem, porque todos querem fazer valer a “sua” razão. "
 
"Porque é que as provações que a vida envia aos humanos são benéficas para uns e nefastas para outros? Porque é que uns sucumbem ou se tornam maus, e outros, pelo contrário, reforçam a sua vontade, o seu amor, a sua luz? Para que as provas sejam benéficas, não basta ser-se possante ou voluntarioso, é preciso que o pensamento, o juízo correto, se pronunciem.
A primeira coisa que o discípulo deve fazer perante uma prova é aceitá-la pensando que, como é filho de Deus, possui em si os meios para a ultrapassar. Depois, deve procurar esses meios, que podem ser de toda a espécie. Mas a primeira coisa a fazer é aceitar a prova e não dizer: «Como? Não é possível que me aconteça a mim uma coisa destas!» Pois bem, é precisamente a ti que está a acontecer e deves procurar tirar dela os elementos mais úteis para a tua evolução. Por isso, há que gostar das provas! Mas gostar delas não significa procurá-las estupidamente. De qualquer modo, elas virão mesmo sem as procurardes. Há que gostar das provas somente porque é a melhor maneira de passar por elas. "
 
"Não penseis que podereis ter acesso ao mundo divino se não trabalhardes para vos harmonizardes com ele, porque, nesse caso, quando chegardes à fronteira, o guarda da alfândega mandar-vos-á parar e dir-vos-á: «O que levas nas tuas malas? (Ou seja: o que é que tens na tua cabeça?) Mas... são pensamentos horríveis! Só vejo calculismos, manigâncias, críticas. E agora, mostra lá o teu coração. Ora, ora! Mas que egoísmo, que invejas! E vejamos a tua vontade. Oh, não é melhor: essa fraqueza, essa preguiça!... Pois bem, fica sabendo que assim não podes passar.» Sim, tal como há países que não aceitam a entrada de certos produtos, de certos objetos, o Reino de Deus é também um país onde as fraquezas, os maus pensamentos e os maus sentimentos não são aceites. Ou vos libertais deles ou não entrais. Só aqueles que preenchem as condições estão autorizados a penetrar no Reino de Deus. "
 
"Seja o que for que vos aconteça, nunca esqueçais que Deus criou o homem à sua imagem e que, qualquer que seja o grau de perdição ou de desespero em que ele possa cair, é impossível perder-se definitivamente: será sempre detido à beira do abismo. Por momentos, poder-se-á pensar que ele está a lançar-se de cabeça no vazio, mas, na realidade, o que quer que faça, quaisquer que sejam os perigos a que se exponha, acabará por ser salvo, pois tem a marca divina profundamente inscrita em si: é essa marca que, mesmo quando se julga que ele está perdido para sempre, o retém como uma mão poderosa e lhe dá a possibilidade de retomar o caminho da luz.
Registai bem isto: mesmo que o homem se tenha tornado presa de forças que o arrastam para os abismos, nada está irremediavelmente perdido, nunca, pois o Criador colocou nele uma espécie de ferrolho de segurança, uma centelha que será eternamente o testemunho da sua pertença ao divino. "
 
"A cruz representa os dois princípios, masculino (a linha vertical) e feminino (a linha horizontal), que se unem para trabalhar juntos no Universo. Mas este trabalho faz-se a partir de um centro: o ponto de interceção dos dois braços da cruz. Este centro reúne as forças; sem ele, tudo se espalharia sobre o disco quando a cruz começa a girar. Porque a cruz gira e, ao girarem, os seus braços traçam um círculo. A cruz em movimento é a suástica. Este movimento pode fazer-se para a direita ou para a esquerda.
A cruz que roda para a direita significa que se aparafusa, que se aperta, para impedir as energias de se manifestarem: elas são contidas para serem dominadas; é o símbolo da espiritualidade que refreia o curso das forças instintivas. Se a cruz roda no outro sentido, isso significa que se afrouxa os travões para se acionar as forças brutas e que assim se fecha a passagem aos poderes sublimes do espírito. "
 
"Fizestes bem a alguém, destes-lhe dinheiro, por exemplo. Depois, um dia, achais que essa pessoa não merecia a vossa ajuda e ides relatar a toda a gente o que fizestes por ela, que ela não esteve à altura da vossa bondade, etc. Porquê relatar tudo isso? Se fordes queixar-vos por toda a parte, lamentando o bem que fizestes, destruireis esse bem. Estava inscrito no Alto que devíeis ser recompensados, e agora, ao agirdes desse modo, apagais a vossa boa ação.
É necessário que aprendais a fechar um pouco os olhos e a perdoar, pois é assim que cresceis; e, aliás, aquilo que assim perdestes ser-vos-á retribuído ao cêntuplo. Seja o que for que vos façam, não tenteis vingar-vos, esperai que o Céu se pronuncie a vosso favor, o que acontecerá obrigatoriamente, mais cedo ou mais tarde. "
 
"Depois de terdes terminado uma refeição, a digestão dos alimentos dura três ou quatro horas. Contudo, a fome é mitigada muito mais rapidamente e um quarto de hora após a refeição já vos sentis prontos a agir e a retomar o trabalho. Isso prova que a parte mais substancial dos alimentos é absorvida pela boca durante a mastigação. Só a sua parte mais grosseira é assimilada pelo estômago e pelo intestino.
Na vida espiritual, a meditação é comparável à mastigação de uma ideia. Quando meditais longamente numa ideia, quando a “mastigais”, recebeis durante esse tempo, na supraconsciência, uma corrente poderosa de forças e de energias, graças à qual podeis continuar o vosso trabalho no campo do Senhor. "
 
"Jesus dizia: «Se não vos tornardes como as crianças, não entrareis no Reino de Deus.» Será que se compreendeu verdadeiramente o que significa tornar-se como uma criança e porque é que tornar-se como uma criança é a condição para se entrar no Reino de Deus? Uma criança é frágil, vulnerável e confiante, o que desperta nos adultos o desejo de a proteger. Jesus pretendia dizer que devemos ser crianças em relação a seres que foram mais longe do que nós – os Iniciados, os grandes Mestres –, porque eles podem ocupar-se de nós, guiar-nos, instruir-nos, proteger-nos.
Pelo facto de se ser adulto, julga-se que não se tem necessidade de pais espirituais. É esse o erro e é aí que começam as infelicidades. Devemos ser crianças relativamente àqueles que nos ultrapassaram; é a condição para entrarmos no Reino de Deus, na alegria, na felicidade, na esperança. Mesmo que aqui, na terra, sejamos obrigados a tornar-nos adultos, devemos manter-nos crianças relativamente aos nossos pais divinos. "
 
"Nas dificuldades, espera-se, da parte das pessoas instruídas e cultas, reações comedidas, racionais. Mas, na maior parte das situações, não é nada disso que se observa: uma coisa sem importância põe-nas em estados deploráveis de cólera ou de depressão, e elas não têm poder nem vontade para ultrapassar esses estados.
Toda a sua instrução, toda a sua erudição, é incapaz de ajudá-las. Quando compreenderão que o essencial é viver e não ser professor, engenheiro ou economista? De que lhes serve pavonearem-se com as riquezas dos outros que retiraram dos livros? O que devem mostrar é aquilo que elas próprias conseguiram realizar. Se são incapazes, que deixem os seus conhecimentos livrescos em paz e vão finalmente exercitar-se no que é essencial: trabalhar sobre o seu carácter! "
 
"As situações não se resolvem a partir de baixo, tomando decisões na matéria; o impulso tem de vir de cima, de uma exigência do espírito. Todos os que não conhecem esta lei tentam sempre intervir no plano físico para mudar as coisas, deslocá-las, demoli-las ou reconstruí-las. Mas a História ensina-nos que estas intervenções não são duradouras: algum tempo depois, vem uma onda que arrasa todas essas realizações.
Só o que tem fundamentos no Alto, no mundo do espírito, é eterno; o resto é passageiro, transitório. Portanto, quando pretendeis modificar duradouramente uma situação, deveis elevar-vos muito alto no mundo do espírito e aí trabalhar, orar, formular pedidos e criar imagens que, um dia, se realizarão no plano físico. Se souberdes desencadear as forças luminosas no Alto, um dia todos os obstáculos serão varridos e instalar-se-á na terra uma nova ordem de harmonia e de paz. "
 
"Quantos pretensos espiritualistas têm como único objetivo o seu próprio interesse e não o interesse da coletividade universal! Ainda não compreenderam que tudo o que o homem faz em desacordo com a ordem universal não só provoca estragos, como acaba por virar-se contra ele.
Não basta que aquilo que fazeis vos convenha a vós, pois não estais sós; existem seres no mundo divino que devem pronunciar-se sobre os vossos atos, e se transgredistes as leis divinas sereis punidos, de uma maneira ou de outra. Por isso é importante que, várias vezes por dia, dediqueis alguns minutos a harmonizar-vos com as forças luminosas do Universo. Não é tempo perdido; pelo contrário, ganhais algo muito precioso: entrais em contacto com entidades que vêm assistir-vos e dar-vos apoio. "
 
"O espírito do homem é filho de Deus, é uma centelha imortal que jorrou do seu seio. Todos os poderes e todo o saber do Senhor estão contidos nele. Então, porque é que o espírito está tão limitado nas suas manifestações? Por causa do corpo físico, que é ainda muito grosseiro, muito material. Mas isso não é razão para se desprezar o corpo, para o martirizar, como fizeram alguns cristãos durante séculos. Deus construiu o nosso corpo com uma grande ciência, uma grande sabedoria, ele é o melhor instrumento que nos foi dado, e se soubermos trabalhar sobre ele todos os dias para o purificarmos e afinarmos a sua matéria, torná-lo-emos capaz de vibrar em harmonia com o espírito.
O homem que despreza e descura o corpo, tal como aquele que só procura aproveitar todos os prazeres sensuais que ele possa proporcionar, vive no erro. Só aquele que compreendeu que a missão do corpo é manifestar todos os esplendores ocultos no espírito, tornar-se um dia o templo vivo do espírito, está no bom caminho. Como é possível imaginar que este corpo que Deus deu ao homem tenha como única função opor-se ao espírito, apagar a chama do espírito que faz do homem precisamente um filho de Deus? É insensato! "
 
"Tendes duas taças cheias de perfume: como recipientes que são, estão separadas uma da outra, mas os perfumes que contêm sobem e vão misturar-se acima delas. Os humanos são comparáveis a frascos de perfume. Os seus corpos estão separados, mas, por intermédio dos seus pensamentos, da sua alma, do seu espírito, podem contactar com outros seres humanos e também com entidades do mundo invisível, em todo o Universo. Por intermédio da sua quinta-essência, ligam-se aos espíritos que lhes correspondem, fazem trocas, vibram em uníssono.
É também desta forma que podemos contactar com o Senhor e comunicar com Ele, pois trata-se simplesmente de um fenómeno de ressonância. Eis uma realidade que é preciso conhecer, para se compreender bem a razão de ser da prece, da meditação, da contemplação e da identificação. Procurando elevar-vos pelo pensamento, pouco a pouco conseguis contactar com a Alma Universal, vibrar em uníssono com ela. Então, produz-se entre ela e vós uma fusão: as vossas fraquezas são eliminadas e as suas qualidades entram em vós para vos transformar. "
 
"A felicidade que os humanos procuram está sempre ligada a posses: casas, dinheiro, decorações, ou então mulheres, filhos... Enquanto não os têm, não conseguem sentir-se felizes. A sua felicidade depende daquilo que possuem e, se o perdem, é a catástrofe. Mas se um dia conseguirdes descobrir o que é a verdadeira felicidade, sentireis que, na realidade, ela não depende de nenhum objeto, de nenhuma posse, de nenhum ser; ela vem de cima e ficareis admirados ao descobrir vós mesmos, continuamente, esse estado de consciência maravilhoso... Regozijais-vos sem sequer saberdes porque estais felizes. É essa a verdadeira felicidade.
No dia em que conseguirdes mergulhar no oceano da harmonia universal, não necessitareis de ir buscar o que quer que seja para vos sentirdes felizes, estareis continuamente mergulhados na felicidade. É como uma respiração: inspirar, expirar... inspirar, expirar... Sim, a felicidade é como que a respiração da alma. "
 
"Simbolicamente, os vales representam a bondade, a generosidade, a doçura, a fertilidade. É nos vales, e não nos altos cumes, que existem árvores, jardins, frutos, flores e cidades povoadas por seres humanos. Nos cumes existe a rocha, o gelo, a esterilidade. Lamentais-vos por viverdes na solidão? Pois bem, descei ao vale, onde reina a abundância, onde correm as águas do amor. O saber que adquiristes nos cumes deve fundir para formar riachos, ribeiros, e fertilizar os vales. Deveis subir às montanhas por intermédio da inteligência e descer aos vales por intermédio do amor. "
 
"Pode-se duvidar de muitas coisas, mas existe uma lei de que os Iniciados nunca duvidam, é a de que se colhe o que se semeia; e, se se fizer o bem, também se colherá os seus frutos, mais cedo ou mais tarde.
Mas o que também é necessário saber é que as leis cósmicas não têm tanta pressa como nós. Obedecem a um outro tempo; por isso, muitas vezes as recompensas são um pouco atrasadas e, aliás, as punições também! Se ficardes impacientes, se vos revoltardes porque considerais que não recebestes as recompensas que mereceis, complicareis a situação. Porque haveis de sofrer, de vos atormentar? Mais cedo ou mais tarde, essas recompensas virão, é garantido; por isso, não percais o vosso tempo à espera delas, e assim ficareis livres, desprendidos. Uma vez que sabeis que já estão a caminho os presentes que vêm recompensar-vos, confiai! Se ficardes irritados, revoltados, isso mostra que não possuís o verdadeiro saber. "
 
"Quando se vê as diferenças que existem entre os seres humanos, como uns são impelidos a realizar grandes coisas enquanto outros estão exclusivamente ocupados com futilidades e mesquinhices, põe-se a questão: «Porquê esta diferença? De onde vem ela?» Pois bem, é simples. Os primeiros olham para cima, comparam-se com todos aqueles que os ultrapassaram e tomam-nos como modelos, e os outros usam termos de comparação tão inferiores que se julgam sempre suficientemente bem e não progridem.
Para se evoluir, é necessário um exemplo, uma referência com a qual a pessoa possa comparar-se; e essa referência está na vida e no ensinamento dos seres mais puros, mais sábios, mais nobres. "
 
"Existem duas espécies de saber. O primeiro, o saber oficial que recebeis nas escolas e nas universidades, dá-vos todas as possibilidades materiais: uma situação, dinheiro, prestígio. Mas esse saber não vos transforma e permaneceis sempre os mesmos, com as vossas inquietações e as vossas fraquezas. Ao invés, o outro saber, o saber iniciático, talvez não vos dê uma situação, nem prestígio, mas transforma-vos.
Bem entendido, como os humanos estão mais interessados no que lhes trará vantagens materiais, é o saber oficial que procuram. Infelizmente, este saber não dura; não se pode transportar os conhecimentos livrescos para o outro mundo, só se dispõe deles durante uma encarnação. E o que é uma encarnação? Um sonho, um sonho que não dura muito tempo; o saber iniciático, pelo contrário, transforma-nos e ensina-nos o sentido da vida, imprime-se em nós para a eternidade. "
 
"Quando tudo vai bem, os humanos só se preocupam com os seus assuntos materiais, os seus interesses, os seus prazeres. E depois, quando têm preocupações ou desgostos, pensam subitamente no Senhor e não entendem porque é que Ele não vem ajudá-los. Gostariam de que o Senhor se desse conta de que está ali um pobre desgraçado a sofrer e viesse consolá-lo e tirá-lo de cuidados. O Senhor, evidentemente, não tem mais nada que fazer... Eu não estou a dizer que Ele não nos ajuda; claro que ajuda, nós é que não sabemos receber essa ajuda.
Tomemos o exemplo do Sol. O Sol é muito poderoso, faz girar todos os planetas, é ele que os faz mover e os vivifica, mas, apesar de todo o seu poder, se não abrirdes as cortinas ele não entrará no vosso quarto. Se deixardes a cortina corrida e disserdes: «Entra, entra, querido Sol, eu convido-te», o Sol responderá: «Não posso. – Porquê? – Tens de abrir a cortina que fechaste.» Sim, basta uma simples cortina. Então, aquele que compreendeu abrirá a cortina, o Sol entrará e a luz inundá-lo-á. O Sol é um símbolo do Senhor. O Senhor é omnipotente, bem entendido, faz mover o Universo, mas quando se trata de abrir uma cortina, não pode; é a nós que compete fazê-lo, para que Ele possa entrar e ajudar-nos. "
 
"Os humanos têm tendência para só aceitar o que lhes agrada. Mas o prazer não é um guia seguro e, quando alguém se deixou ir atrás do que é agradável, o que vem a seguir é sempre desagradável. Fazer banquetes num restaurante começa por ser agradável, mas quando vem a conta é um pouco desagradável. Porque se há de imaginar que se poderá comer até ficar saciado e não pagar nada? Na vida, tudo se paga; de uma maneira ou de outra, tudo se paga.
Nos planos astral e mental, tal como no plano físico, existem mercados, armazéns, montras, tudo está exposto diante de vós para que vos sirvais; mas, depois de vos terdes servido, deveis pagar. E é precisamente então, confrontados com este pensamento de que é preciso pagar, que deveis retrair-vos e dizer para vós próprios: «Talvez não valha a pena, é demasiado caro, o prazer é passageiro, em breve não restarão sinais dele e eu precisarei de anos para pagar as minhas dívidas.» "
 
"Pela meditação, pela contemplação, o discípulo procura fundir-se com a Divindade. Os Iniciados da Índia resumiram este exercício de fusão na fórmula «eu sou Ele»; isto é, só Ele existe, eu não passo de um reflexo, de uma repetição, de uma sombra, eu só existo na medida em que sou capaz de fundir-me n’Ele.
Na realidade, nós não existimos enquanto criaturas separadas do Senhor, fazemos parte d’Ele. Por isso, a Ciência Iniciática ensina ao homem os métodos que ele deve usar para se distanciar das imagens ilusórias de si mesmo. Quando dizemos «eu sou Ele», compreendemos que não existimos fora do Senhor e ligamo-nos a Ele, aproximamo-nos d’Ele até nos tornarmos, um dia, como Ele. "
 
"A vida apresenta-se-nos como uma sucessão de problemas para resolver. Aqueles que, em vez de se esforçarem por resolvê-los honestamente, procuram escapar a esses problemas, em breve se encontrarão perante dificuldades intransponíveis. Porquê? É muito simples. Frequentastes a escola, não é verdade? E lá estudastes gramática, matemática, etc. Tivestes de fazer exercícios para cada uma das disciplinas. Consideremos a matemática, por exemplo. Imaginai que um aluno começa por descurar os exercícios que correspondem à primeira lição: faltam-lhe elementos para abordar as lições seguintes. Então, que fará ele? A situação torna-se cada vez mais difícil e chegará um tempo em que ele não conseguirá sair-se bem dela. Acontece o mesmo com os problemas que a vida nos coloca: cada problema bem resolvido dá-nos elementos para enfrentarmos os problemas seguintes nas melhores condições, pois os esforços que fizemos dão os seus frutos e a cada exercício ficamos mais
 perspicazes, mais pacientes, mais resistentes.
É preciso que tudo isto esteja bem claro para vós: só aparentemente podeis fugir às dificuldades, como o aluno que falta às aulas e não estuda; na realidade, os problemas não resolvidos permanecem como outros tantos obstáculos no vosso caminho, e em breve vos encontrareis diante de uma barreira intransponível. "
 
"A ciência do futuro será a da luz e das cores, pois a luz, essa substância aparentemente tão fraca e inofensiva, na verdade é a maior força que existe no Universo: foi ela que pôs em movimento toda a Criação.
Graças a ela, as pedras, as plantas, os animais e os homens vivem e os mundos giram. É o que exprimem as primeiras palavras do Evangelho de São João: «No começo, era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo o que foi feito, foi feito por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele.» Sim, tudo o que foi feito provém desta luz original, o Verbo. "
 
"Com as grandes verdades e as boas influências que recebe, com a ajuda dos Anjos, o discípulo de uma Escola Iniciática começa a recordar-se do mundo luminoso de onde desceu e para o qual deve regressar um dia. A maior bênção, para o discípulo, é recordar-se...
Ele deverá também recordar-se de todos os sofrimentos que suportou e até de todos os erros que cometeu, de todas as dívidas que contraiu, pois terá de reencontrar-se com todos os seres que lesou para se reconciliar com eles e reparar os males que causou, a fim de liquidar o seu carma. É isso que espera o discípulo, é isso que vos espera a todos. Um dia, sereis obrigados a corrigir todos os erros que cometestes, a reparar todo o mal que fizestes. "
 
"A vida apresenta toda a espécie de tentações e o discípulo, se ainda não aprendeu a controlar-se o suficiente para resistir, sucumbe, e depois, é claro, lamenta-se, porque sente que se enfraqueceu, que se aviltou. Para a maioria das pessoas, é normal ser tentado e sucumbir à tentação; segundo elas, foi quase para isso, para se precipitarem sobre tudo o que as atrai, que desceram à terra.
O discípulo tem outra visão das coisas: sabe que não veio à terra para procurar o prazer, mas para fazer um trabalho sobre si mesmo. Então, para evitar toda a espécie de desventuras, antes de se lançar num empreendimento qualquer, diz para consigo: «Se fizer isto, ou aquilo, satisfarei os meus desejos, é certo, mas quais serão as repercussões do meu comportamento sobre mim e sobre os que me rodeiam?» E reflete... Aquele que não se questiona nestes termos depois fica surpreendido ao ver surgir situações ou problemas que não esperava. Pois bem, não deve surpreender-se: o que lhe acontece era de prever. As consequências são sempre previsíveis. "
 
"Os alquimistas procuravam a pedra filosofal para transformarem os metais em ouro. Sim, mas um alquimista deve ser mais do que um bom químico. O químico, para ser bem-sucedido na sua experiência, só precisa de saber manipular elementos materiais; mas o alquimista deve ir mais longe e, para atingir o seu objetivo, tem de introduzir no seu trabalho elementos espirituais. Certos alquimistas, que conheciam perfeitamente a fórmula do fabrico da pedra filosofal, nunca conseguiram nada, apesar de terem preparado cuidadosamente todos os elementos.
Fabricar a pedra filosofal é mais um processo psíquico e espiritual do que um processo físico, e quem quiser obtê-la deve estudar as virtudes e realizá-las em si mesmo; só nesta condição a matéria lhe obedecerá e ele se tornará um verdadeiro alquimista. "
 
"Só encontrareis verdadeiramente a felicidade no amor no dia em que compreenderdes que o amor não reside na posse física de um ser.
O verdadeiro amor só podereis saboreá-lo nessa coisa subtil que, através de um ser, vos liga a todo o Universo, à beleza das flores, das florestas, das nascentes, do Sol, das constelações. Não tenhais pressa de suprimir a distância física que vos separa dos seres, senão perdereis pouco a pouco esse mundo subtil e só vos restará o lado prosaico, material. "
 
"Todos os dias tendes a possibilidade de atrair os espíritos luminosos. Dirigi-vos a eles: «Vinde, vinde, amigos celestes, instalai-vos.» Podeis dizer ainda: «Senhor Deus, Mãe Divina, Santíssima Trindade, Anjos e Arcanjos, servidores de Deus, servidores da luz, todo o meu ser vos pertence, disponde de mim para a glória de Deus, para o seu Reino e a sua Justiça na terra.» A verdadeira consagração consiste em saber pronunciar estas palavras.
Se não aprenderdes a convidar os espíritos celestes, não fiqueis surpreendidos se forem outras entidades, nada celestes, a virem instalar-se em vós. É a vós que cabe decidir por quem quereis ser “ocupados”. Se não convidardes as entidades angélicas a virem até vós, elas não tentarão penetrar; serão os diabos que penetrarão, sem esperarem o vosso convite. "
 
"O erro de muitos espiritualistas é que não dão à sua atividade uma base sólida. Lançam-se sem mais nem menos, sem qualquer preparação, pensando que basta terem um desejo nesse sentido para que o mundo invisível se lhes revele, os anjos venham servi-los e todos os poderes caiam nas suas mãos. Mas não; infelizmente, não é assim.
O verdadeiro espiritualista passa vinte ou trinta anos a preparar-se, e talvez um dia, subitamente, obtenha tudo o que deseja. No domínio espiritual, é a preparação que é longa. Mas as pessoas não se preparam, continuam a alimentar no seu íntimo todo o tipo de preocupações... De vez em quando, é claro, meditam um pouco, supostamente, e isso basta-lhes. A eles, talvez sim, mas na realidade isso não basta, pois há condições prévias que é necessário preencher, e só preenchendo-as eles descobrirão que o trabalho espiritual produz verdadeiramente resultados. "
 
"A imagem do cavaleiro com o seu cavalo é plena de sentido. O cavaleiro representa o espírito do homem, e o cavalo, o seu corpo físico. Cada um de nós é, pois, ao mesmo tempo, o cavalo e o cavaleiro. E, tal como o cavaleiro deve cuidar do seu cavalo, nós devemos cuidar do nosso corpo, mantê-lo de boa saúde, fazê-lo trabalhar sem o extenuar. Conhecer o estado do vosso cavalo, saber se as perturbações ou as fraquezas provêm dele ou de vós, que sois o cavaleiro, exige muito discernimento. Estais fatigados? Procurai perceber se essa fadiga é física ou psíquica. Comestes bem, o vosso corpo físico está satisfeito, mas ainda tendes fome. Então, quem é que tem fome, o vosso corpo ou vós? Noutra ocasião, não sentis qualquer sensação de fome apesar de nada terdes comido e de o vosso corpo necessitar seguramente de alimento.
Esta contradição pode também ocorrer no amor: o vosso corpo já não quer nada, mas vós ainda pedis; ou, inversamente, não quereis mais nada, mas o vosso corpo reclama. Por vezes, apesar dos toques de espora, a vossa montada arrasta-vos, mesmo sem o quererdes, para desventuras. Ou então é o cavalo que descobre o meio de salvar o seu dono, pois farejou um perigo de que o cavaleiro não se tinha apercebido. Sim, eis um vasto campo de reflexão que 
se abre diante de vós. "
 
"Os conhecimentos livrescos são materiais, riquezas; porque não se há de adquiri-los? Aquilo de que deveis desconfiar é das conclusões. Sim, deveis desconfiar das conclusões tiradas pelos cientistas e filósofos a partir de todos os materiais que tinham à sua disposição. Quando, após anos de estudos e de investigações, esses grandes pensadores, esses grandes professores, vos dizem que o Universo é obra do acaso, que não existe qualquer ordem na Criação, que a alma e a religião são invenções a rejeitar, que a terra é um campo de batalha onde cada um tem de lutar com unhas e dentes para não ser devorado pelo vizinho, etc., escutai-os por curiosidade, se quiserdes, mas não vos deixeis influenciar.
Aliás, quantas vezes, ao longo dos séculos, as conclusões dos homens da ciência não foram diferentes das dos filósofos! Então, porque hão de as pessoas assentar a sua vida em bases tão instáveis? Todos os conhecimentos devem conduzir-nos para Deus, para a compreensão do sentido da vida. Se eles nos separam de Deus e do sentido da vida, mais vale deixá-los 
de lado. "