VI CAPÍTULO
Nós temos necessidade do silêncio e particularmente do silêncio da Natureza, porque é na Natureza que temos as nossas raízes.
Quando uma pessoa se encontra sozinha na floresta, na montanha, pode acontecer-lhe sentir-se transportada a um passado longínquo, à época em que os humanos viviam em comunhão com as forças e os espíritos da Natureza.
E mesmo que então se ouça, de repente, o canto de uma ave ou o ruído de uma cascata, sente-se que esses sons participam no silêncio, não o destroem, pelo contrário, acentuam-no.
Por vezes, não se está consciente do silêncio, não se lhe presta atenção.
É preciso um barulho como o estalar de um ramo, o grito de uma ave ou a queda de uma pedra para, de repente, se viver intensamente a sensação do silêncio.
Mesmo o estrondo surdo das vagas não destrói o profundo silêncio do mar ou do oceano.
Muitas pessoas confundem o silêncio com a solidão, por isso têm medo do silêncio: têm medo de ficar sós.
Na realidade, o silêncio é um lugar habitado.
Se não quiserdes ser pobres nem estar sós, procurai o silêncio, porque o verdadeiro silêncio é povoado por inúmeros seres.
O Criador colocou habitantes por toda a parte: nas florestas, nos lagos, nos oceanos, nas montanhas, e também debaixo da terra.
E até o fogo é habitado; o éter, as estrelas, tudo é habitado.
Infelizmente, os barulhos da vida civilizada que, pouco a pouco, acabam por invadir tudo, e a existência cada vez mais materialista e vulgar dos humanos, criaram condições contrárias à permanência entre eles das entidades do mundo invisível, que por isso se refugiam longe dos lugares que eles ocupam.
Não é que elas não gostem dos humanos, mas como podem elas permanecer em lugares que eles não param de perturbar e de devastar com a sua falta de respeito, a sua grosseria, a sua violência?...
Elas retiram-se cada vez mais para regiões que são inacessíveis aos humanos. Eu já verifiquei isso.
Nos Estados Unidos, no parque de Yosemite, vi árvores magníficas, com cerca de 4.000 anos, mas que já não estavam habitadas: os devas tinham partido, porque havia demasiados visitantes, demasiado barulho, demasiada agitação; eles tinham deixado aquela região tão bela.
Em quase todas as árvores vive uma criatura, mas neste parque essas árvores gigantescas já não estavam propriamente vivas nem eram expressivas, pois já não estavam habitadas.
Tal como os sábios que se isolam nos desertos, no cimo das montanhas ou nas grutas, para escapar aos espíritos luminosos da Natureza vão refugiar-se em lugares que os humanos ainda não puderam sujar e perturbar.
Podeis direis: «Mas eles não conseguem suportar nada, são muito fracos!» Pensai o que quiserdes.
Na maior parte das mitologias, a montanha é apresentada como a morada dos deuses. Isso pode ser considerado como um símbolo, mas também é uma realidade: os altos cumes das montanhas são como antenas graças às quais a terra contacta o Céu, e é por isso que eles são habitados por entidades muito puras e muito poderosas.
Quanto mais o homem se eleva nas montanhas, mais ele encontra o silêncio, e nesse silêncio descobre a origem das coisas e une-se à Causa Primeira, entra no oceano da luz divina.
Infelizmente, nos nossos dias, com o aperfeiçoamento dos meios de transporte, vemos as pessoas irem cada vez mais à montanha; tornou-se mesmo uma moda: vão aos desportos de inverno para se distrair, para se divertir e depois contar que desceram tal encosta, escalaram tal cume...
E em vez de respeitarem o silêncio da montanha, de se deixarem influenciar por ele para descobrir os estados de consciência superiores, eles comportam-se como em todos os outros lugares: levam o seu vinho, o seu presunto, os seus cigarros, a sua música cacofónica, e gritam, brincam, discutem...
Como se não houvesse outros lugares onde festejar e fazer barulho! E deste modo incomodam imenso os habitantes dessas regiões.
Mas ninguém diz às pessoas que, com as suas faltas de atenção e de respeito, perturbam a atmosfera e incomodam todas essas criaturas.
Se isso dura demasiado tempo, um dia elas vão-se embora, para onde haja verdadeiramente silêncio, onde os humanos muito dificilmente possam ter acesso.
E uma vez que estas entidades se afastem dos lugares onde habitavam, esses lugares perdem o seu mistério, o seu carácter sagrado, deixam de estar tão impregnados de luz e de força espiritual, e é pena.
Portanto, isto é claro: se não fordes à montanha num estado de espírito conveniente, as criaturas invisíveis tomam precauções, afastam-se, e vós nada recebereis delas.
Por isso, voltais para casa tão limitados como antes; e mesmo essa permanência lá não pode ser muito benéfica para a vossa saúde, pois o estado físico depende bastante do estado psíquico.
Então, para que serve subir aos cumes das montanhas se não se volta mais puro, mais forte, mais nobre e com melhor saúde?... Se não se compreendeu que a ascensão das montanhas físicas é uma imagem da ascensão das montanhas espirituais?...
Subir e descer... Subir é desfazermo-nos, à medida que subimos, de tudo o que nos obstrui, nos sobrecarrega, até encontrarmos o silêncio, a pureza, a luz, a imensidão, e sentirmos a ordem divina introduzir-se em nós...
Quanto a descer, nem sequer vale a pena explicar em pormenor o que é, vós já compreendestes: é o regresso ao barulho nos pensamentos e nos sentimentos, o regresso à agitação, à desordem, aos conflitos interiores.
Sim, eis como se aprende a ler no grande livro da Natureza: habituando-nos a interpretar as suas diferentes manifestações.
Para onde quer que fordes – para as montanhas, para as florestas, para a beira dos lagos ou dos oceanos –, se quiserdes manifestar-vos como filhos de Deus que aspiram a uma vida mais subtil, mais luminosa, deveis mostrar-vos conscientes da presença das criaturas etéricas que aí habitam.
Aproximai-vos delas com respeito e recolhimento, começai por saudá-las, por testemunhar-lhes a vossa amizade, e pedi-lhes as suas bênçãos.
Essas criaturas, que vos avistam de longe, ficam tão maravilhadas com a vossa atitude que se aprestam a derramar sobre vós os seus presentes: a paz, a luz, a energia pura.
Sentir-vos-eis, então, banhados, envolvidos pelo amor e pela admiração desses seres espirituais e, quando desceis e voltais para os vales, para as cidades, levais convosco não só toda essa riqueza mas também revelações, ideias mais amplas, mais vastas.
E depois, enfim, tereis ainda a alegria de saber que contribuístes para preservar em certos lugares os seus habitantes celestes ou mesmo atrair novas presenças.
Sim, nunca vos esqueçais de que é no silêncio que preparais as condições favoráveis para a manifestação das entidades divinas, porque essas entidades necessitam de silêncio; e elas estão sempre à espera destas condições, que os humanos só muito raramente lhes proporcionam.
Então, a partir de agora, aprendei a amar esse silêncio, pensai em criar por toda a parte, à vossa volta, uma atmosfera espiritual de silêncio e de harmonia, a fim de preparardes a vinda dos seres luminosos e poderosos.
Fonte: http://www.publicacoesmaitreya.pt/