domingo, 5 de novembro de 2017

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV

"A necessidade de mudança não é, em si, uma coisa má, mas, em certos domínios, é prejudicial ao vosso bom desenvolvimento. Numa relação de amizade ou amorosa, é preferível começar por hesitar, para ter tempo de pesar bem os prós e os contras, mas, depois de vos terdes comprometido, esforçai-vos por não voltar atrás. Do mesmo modo, antes de vos vinculardes a um ensinamento espiritual e de seguirdes um Mestre, começai por estudar bem a questão: interrogai-vos sobre se esse Mestre corresponde à vossa mentalidade, às vossas aspirações, ao vosso ideal, se o seu ensinamento convém à vossa natureza profunda. Depois de vos terdes vinculado, é preferível permanecerdes fiéis a esse compromisso. O que quereis vós construir de sólido e estável, interiormente, indo ora para um lado, ora para outro, ao sabor dos vossos caprichos ou da vossa curiosidade?
A experiência espiritual não consiste numa série de encontros que se faz uma vez com um Mestre hindu, depois com um Mestre sufi, depois com um Mestre zen, etc. A experiência espiritual é um sulco que cada um cava em si mesmo e que ele deve aprofundar continuamente."

"Todos os dias nós encontramos pessoas diferentes e não podemos impedir-nos de sentir por elas, espontaneamente, simpatia ou antipatia, pois a simpatia e a antipatia são sentimentos naturais que mesmo os sábios têm. Todavia, a diferença entre o sábio e o homem comum é que o sábio domina as suas antipatias e não se deixa ir, cegamente, atrás das suas simpatias, pois sabe que nem umas nem outras são bons critérios.
A simpatia e a antipatia são sentimentos instintivos e puramente subjetivos, que têm origem, muitas vezes, em experiências vividas noutras existências. Elas não informam com imparcialidade sobre o valor de uma pessoa, as suas qualidades ou os seus defeitos. Muitos imaginam que é a sua intuição que lhes dita essas reações. Mas não, de modo nenhum. Por isso, temos de habituar-nos não só a manifestar compreensão e bondade para com os seres por quem sentimos antipatia, mas também a aceitar reconhecer os erros e as lacunas daqueles que consideramos simpáticos."
 
"Certas pessoas, por terem ouvido falar das leis do carma, tornam-se indiferentes aos sofrimentos dos outros. Se veem sofrer um ser bom e honesto, dizem para si próprias que, numa encarnação anterior, ele cometeu certamente erros que agora tem de reparar, e não farão nada para o ajudar. Mas talvez se enganem… Essas pessoas descobrem sempre uma justificação para o sofrimento dos outros, mas, quando elas próprias têm de passar por provações, acham que não merecem uma tal injustiça!
Então, qual é a atitude correta? Exatamente o contrário: quando sofreis, pensai que esse sofrimento é certamente merecido; mas, quando os outros sofrem, pensai que eles talvez não sejam culpados e procurai compreendê-los e ajudá-los. Esta maneira de ver ajudar-vos-á muito na vossa evolução."

"Habituai-vos a mastigar demoradamente os alimentos, para que as glândulas salivares tenham tempo de fazer o seu trabalho. Com efeito, a saliva contém diferentes substâncias químicas que intervêm na digestão. A sua ação é comparável a uma espécie de cozedura, que facilita a assimilação dos alimentos. Portanto, se mastigardes os alimentos até eles se tornarem líquidos, ficam muito poucos detritos e, mesmo comendo pouco, beneficiareis de muitas energias.
Estas mesmas leis regem a respiração. Por isso, quando respirais, esforçai-vos por absorver o ar lentamente e profundamente; ele deve descer até à base dos pulmões, para os dilatar. E, depois de terdes absorvido o ar, deveis retê-lo, como se o mastigásseis. Do mesmo modo que a boca mastiga os alimentos, os pulmões, de certa forma, mastigam o ar. O ar que se respira é como uma “garfada” de alimento cheio de energias e, para o digerir bem, deve-se não só retê-lo, mas também expeli-lo muito lentamente."

"Um jovem rico veio perguntar a Jesus o que devia fazer para ter a vida eterna, e Jesus respondeu: «Vende o que possuis, dá-o aos pobres, depois vem e segue-me.» E o jovem foi-se embora muito triste, pois o que Jesus lhe pedia estava para além das suas forças. Deve-se concluir que, para podermos seguir Jesus, ele nos pede que nos despojemos realmente de tudo o que possuímos para o dar aos pobres? Alguns fizeram-no, mas não foi por isso que seguiram melhor Jesus.
É certamente muito meritório impor a si próprio renúncias e sacrifícios, mas renunciar a quê e sacrificar o quê? É sobre esta questão que é preciso fazer um esforço para ter ideias claras. De nada serve renunciar aos bens materiais, cuja posse nos atravanca, se não nos desembaraçarmos dos pensamentos, dos sentimentos e dos desejos que nos atravancam ainda mais e que acabam por obscurecer o nosso olhar interior."

"Tendes à vossa disposição um instrumento extraordinário: o pensamento. Por que não vos servis dele? Por que vos limitais a lamentar-vos, enumerando tudo o que vos falta? Tendes necessidade de beleza, de poesia, de silêncio, de sorrisos, de bons olhares, de boas palavras?... Pois bem, em vez de vos queixardes de que ninguém vos dá nada disso, tomai consciência de que podeis criá-los instantaneamente pelo pensamento. Vós direis: «Não, não existe nada, eu não vejo nada, não toco em nada!» Evidentemente, se estais à espera de ver essas coisas materializadas, talvez preciseis de esperar séculos. Mas, a partir do momento em que as criais no plano mental, elas existem. E é a essa realidade que deveis agarrar-vos.
Imaginai que um hipnotizador vos dá um pedaço de papel, dizendo: «Aqui tens uma rosa. Cheira-a!» Vós ireis extasiar-vos com o perfume delicioso dessa rosa, que enche a atmosfera. Como é isso possível? Pelo facto de terdes captado o pensamento do hipnotizador: esse pensamento, com as palavras que o acompanham, formou a rosa no plano subtil. Ele conseguiu projetar a vossa consciência até aí e vós respirais a rosa com o vosso olfato psíquico. Então, por que não utilizais este método em relação a vós mesmos para superardes os vossos estados negativos?"
 
"A matéria tende para o espírito, ela quer subir até ele para se tornar mais pura, mais subtil; e, inversamente, o espírito desce até à matéria, para se incarnar e se manifestar através dela. Assim, a amada sobe ao encontro do seu amado que desce das regiões celestes e, quando eles se encontram, algures no espaço, unem-se com uma alegria imensa!
Do mesmo modo, todo o trabalho do espiritualista pode ser resumido neste processo: o encontro do espírito com a matéria. Seja o que for que ele faça, sejam quais forem as suas ocupações, as suas experiências, os seus projetos, eles devem culminar no que eu vos resumo aqui, em duas palavras: a espiritualização da matéria e a encarnação do espírito, pois, quando o espírito desce às profundezas do ser humano, transforma a matéria bruta das suas paixões em beleza, em pureza, em luz, em nobreza, em amor."

"Para justificar palavras ou gestos infelizes, muitas pessoas dizem: «Não sei o que me aconteceu, perdi a cabeça!» E esta explicação basta-lhes. Na realidade, o que elas perderam nesse momento foi a ligação com o mundo divino, essa ligação graças à qual todos os elementos e todas as atividades são controlados, coordenados, harmonizados. Então, surge a desordem, a debandada; os gestos, os olhares e as palavras são projetados em todos os sentidos.
Se cortais a ligação com o mundo divino, as células do vosso organismo percebem que a cabeça, o chefe, deixou de estar presente. A partir desse momento, já não sentem que devem respeitar a ordem e a harmonia que tínheis conseguido introduzir em vós e tornam-se como inimigos que vos ameaçam. Antes, elas eram submissas, obedientes, mas agora já nada as retém: vós estais na cama, ou cometeis erros atrás de erros, e elas regozijam-se, dizendo: «Ah, ah, muito bem, isso ensinar-te-á a abandonar a ligação com o mundo da luz.» Mas fazei voltar a cabeça, restabelecei a ligação, e elas trabalharão de novo em conjunto e harmoniosamente."

"Não procureis provas da existência de Deus onde não as encontrareis. Procurai Deus em vós e aperceber-vos-eis de que Ele está sempre lá, nunca vos deixa. Se não O sentis, não é porque Ele não existe, não é porque Ele não está lá, mas porque vós O deixastes: não estivestes atentos, não fostes sensatos, cometestes alguns erros que vos afastaram dos caminhos que conduzem a Ele. Longe desses caminhos, a vossa consciência ficou obscurecida e agora tendes sensações que vos enganam sobre a realidade das coisas.
O Senhor está sempre presente em vós, mas, se deixardes enfraquecer a vossa capacidade de sentir a sua presença, é como se Ele não existisse, evidentemente. Fazei tudo o que é possível para retomar o caminho da luz e sabereis de novo que Deus habita em vós."
 
"O defeito mais grave dos humanos, aquele que coloca mais obstáculos à sua evolução, é a crença profundamente arreigada na infalibilidade dos seus raciocínios e dos seus pontos de vista. E então eles protegem-nos, cultivam-nos e defendem-nos.
Vós direis: «Mas toda a gente tem esse defeito!» Eu sei, é mesmo o defeito mais comum: a teimosia das pessoas em se agarrarem às suas maneiras de sentir e de ver as coisas, como se não houvesse nada melhor nem mais verídico do que as suas opiniões e as suas crenças. Elas não procuram saber de que região de si próprias lhes vêm tais opiniões e tais crenças, nem por que têm essas convicções e não outras. Deixam-se ir atrás delas cegamente. E é por isso que a Terra se tornou o palco onde todos se confrontam, cada um tentando fazer triunfar pontos de vista inspirados pelos seus interesses, pelas suas cobiças, pelos seus caprichos, ou simplesmente pelos seus humores. Por que é que é preciso acontecerem-lhes coisas desagradáveis e imprevistas para eles acabarem por reconhecer que fizeram certos erros de julgamento e agiram por motivos detestáveis?"

"Perante as desgraças que afetam a humanidade, por toda a parte se ouve pessoas queixarem-se de que o mundo está mal feito. Elas falam, criticam, queixam-se, irritam-se e, enquanto estão ocupadas com os seus comentários, as suas queixas e as suas cóleras, o mal continua a agir. Algumas vão mesmo ao ponto de considerarem Deus o responsável, porque, apesar das suas orações, Ele não faz nada para acabar com ele.
Eu já vos disse muitas vezes que o diabo – enfim, chamemos-lhe diabo – tem uma qualidade, uma só, mas uma qualidade extraordinária: é ativo, enérgico, infatigável; ao passo que as pessoas de bem são fracas e cansam-se rapidamente. Para elas, é suficiente serem simpáticas, inofensivas; depois de terem feito uma boa ação, ficam contentes consigo mesmas e têm de descansar. Quando voltarão a trabalhar, não se sabe. O bem não as estimula do mesmo modo que o mal estimula os maus. Mas, de quem é a culpa? Não é o Senhor que as impede de manifestarem qualidades de generosidade, de desapego, e de trabalharem para o bem de todos os seus irmãos humanos."

"Os ateus imaginam que mostram ter objetividade, lucidez, lógica: eles, ao menos, pronunciam-se segundo aquilo que veem, ouvem, tocam, medem, etc., diferentemente dos crentes que, por estarem tão obcecados com a sua fé, perderam todo o sentido da realidade. Mas não, por mais inteligentes que alguns sejam, se não aceitarem a existência de Deus, a realidade da alma, a imortalidade do espírito, faltar-lhe-á sempre um elemento essencial para completarem as suas observações e os seus juízos. A ausência desse elemento limita-os, pois ficam circunscritos à forma, à superfície da existência.
Um ateu é comparável àqueles que, diante de um ser humano, só consideram a sua anatomia. Enquanto se trata de identificar e de descrever os membros, os órgãos, a anatomia pode ser suficiente. Mas limitar-se à anatomia significa ocupar-se de um corpo sem ter em conta a vida que o anima. Só a consciência da vida da alma e do espírito – portanto, de um mundo superior, o mundo divino, onde temos a nossa origem – pode dar-nos a verdadeira dimensão dos seres e tornar-nos sensíveis às correntes que circulam neles."

"Para se conseguir resolver certos problemas, por vezes é útil esquecê-los por um momento, esforçando-se por pensar noutra coisa. Vós direis: «Mas, se tentarmos escapar aos problemas, nunca encontraremos a solução!» Ah, é precisamente nisso que vos enganais! Não é por estardes obcecados com as vossas preocupações que conseguireis resolvê-las e ver-vos livres delas; pelo contrário, muitas vezes é a melhor maneira de as prolongardes e de vos deixardes esmagar por elas.
Tentai, pois, pôr os vossos problemas de lado por um momento; encontrai condições que vos permitam fazer um trabalho interior, elevando-vos pelo pensamento até ao mundo da luz. Será assim que encontrareis soluções. Diz-se muitas vezes que a noite é boa conselheira. Sim, porque, durante o sono, esquece-se tudo, há um trabalho que se processa no subconsciente e que depois permite ver a situação com mais clareza. Então, não podereis vós, de vez em quando, fazer conscientemente a mesma coisa?"

"Para se tornar verdadeiramente criador, o homem deve fazer apelo a certas faculdades que há nele, a fim de entrar em relação com o mundo espiritual, pois é do mundo espiritual que ele recebe aquilo a que chamamos inspiração.
É importante conhecer as condições favoráveis à inspiração, pois elas não nos visitam por acaso. Vós direis que já vos aconteceu receber uma inspiração em circunstâncias, lugares ou posições um pouco inverosímeis. Isso pode acontecer: estais a descascar legumes, a apanhar um objeto ou a calçar os sapatos e, de súbito, há uma corrente que vos atravessa, uma imagem que se vos impõe: sentis que recebestes uma revelação. Em contrapartida, podeis reunir todas as condições materiais ideais para que a inspiração venha visitar-vos e não recebeis nada. O sopro divino não vem necessariamente visitar quem está sentado em posição de lótus, com os olhos fechados, no meio de nuvens de incenso; não é a essas condições que eu me refiro. A primeira condição a preencher para ser inspirado é a de cuidar da pureza dos seus pensamentos, dos seus sentimentos e dos seus atos. Quando o terreno está preparado, o espírito pode vir, independentemente da situação ou da
  postura em que vos encontreis. "

"Foram cometidas tantas abominações em nome do amor a Deus, que, cada vez mais, aqueles que falam deste amor só despertam suspeitas. As pessoas pensam que, agora, é para os humanos que devem voltar-se, abandonando essa Divindade longínqua que, durante muito tempo, não passou de um pretexto para os perseguir.
Mas a verdade é que, se não se aprender primeiro a amar Deus, não se saberá como amar os humanos, pois esse amor não será inteligente nem esclarecido. O ser humano não deve confiar muito naquilo que sai do seu coração, pois, se é certo que ele contém coisas boas, também contém a avidez, a violência, a possessividade. O coração humano é uma caverna obscura, de onde podem sair todos os monstros; por isso, é preciso purificá-lo, iluminá-lo, o que só poderemos fazer se aprendermos a virar-nos para o Criador. Mesmo quando pensamos nas criaturas, nunca devemos esquecer o Criador, para mantermos a orientação correta. "

"A existência humana pode ser comparada à travessia de uma floresta ou à ascensão de uma alta montanha. Quantos esforços é preciso fazer e quantos perigos há que defrontar para chegar ao cume! E, se se empreende essa travessia ou essa escalada na escuridão, é grande o risco de a pessoa se perder, de cair em emboscadas, de rolar até ao fundo de um precipício... Nas trevas, não só se fica verdadeiramente exposto aos perigos, como – e isso é ainda mais perigoso – há o medo que a própria pessoa cria por não saber como interpretar os barulhos e as formas imprecisas que vê agitarem-se. Ora, ter medo é dar poder àquilo de que se tem medo, é preparar-lhe condições para que cause danos.
Simbolicamente, a vida dos humanos é isso, quando eles não têm o saber verdadeiro. Só o saber verdadeiro, que os acompanha como uma luz, pode dar-lhes a segurança e a paz. E, mesmo que eles tenham de atravessar certas provas, como sabem como as coisas são, continuam a avançar com um passo firme. "

"Enquanto os humanos derem tanta importância às posses materiais, à aquisição de posições sociais, nunca deixarão de entrar em conflito uns com os outros, pois tudo o que se pode adquirir no plano físico é limitado em quantidade, e é impossível que o mundo inteiro nade, de igual modo, na opulência. Mas isso não significa que não possam ser todos felizes, pois a felicidade não é a opulência.
Bastam muito poucos bens materiais para assegurar a existência e encontrar a felicidade, mas desde que se compreenda que há um trabalho a fazer a fim de orientar as suas necessidades para o mundo psíquico e, mais além, para o mundo espiritual, onde as possibilidades são infinitas. Aí, cada um pode alimentar-se, saciar-se tanto quanto desejar, sem ter receio de entrar em conflito com os vizinhos nem de ser despojado das suas riquezas."

"Nada é mais poético do que o início de um amor. Um homem e uma mulher encontram-se, sorriem um para o outro, trocam algumas palavras ou vislumbram-se ao longe e, de súbito, sentem-se tomados de inspiração, interiormente tornam-se poetas. Mas, quando começam a aproximar-se fisicamente, essas sensações de encanto esbatem-se. Quantos seres não constataram já isto! Eles constataram-no, sim, mas não tiraram daí qualquer lição: não farão esforço algum para proteger esse seu amor que desperta, vivendo-o durante o máximo de tempo possível nas regiões subtis.
Por curiosidade, por gula, os homens e as mulheres querem ir imediatamente explorar o terreno... até os subterrâneos! Depois, evidentemente, já não é a mesma coisa, eles já não se encaram da mesma maneira, já não têm a mesma admiração um pelo outro, conhecem-se demasiado em situações que não são lá muito estéticas. Por que é que eles não tentam manter as distâncias, para viverem o máximo de tempo possível o seu amor no mundo da beleza, da poesia, da luz?"

"Um mantra, uma fórmula sagrada, é como um molde que deve ser preenchido com vida intensa, quer dizer, com amor e com fé. E, como o som age sobre a matéria, é importante pronunciar essa fórmula em voz alta. Uma palavra não passa de uma deslocação de ar, é certo, mas, para que as forças invisíveis tenham possibilidade de agir, a palavra é necessária. Uma fórmula pronunciada em voz alta ativa correntes que sobem até ao Trono de Deus. E deve-se pronunciá-la pelo menos três vezes, para que ela possa agir nos três mundos: físico, psíquico e espiritual.
Uma fórmula repetida continuamente age nas profundezas do subconsciente, onde se encontram as raízes do nosso ser. O conhecimento desta lei é importante para o trabalho espiritual, pois é ao agirmos sobre as raízes do nosso ser que nós temos grandes possibilidades de transformação."

"Os nossos contemporâneos enterram-se cada vez mais na preguiça, física e mental, com o pretexto de que existe uma quantidade de máquinas, aparelhos e produtos para lhes evitarem esforços e fazerem tudo em vez deles. Há tantos movimentos, exercícios de resistência ou de vontade que as pessoas deixaram de fazer desde que há automóveis, elevadores, máquinas de lavar ou de calcular, computadores... e medicamentos!...
Eu aprecio, naturalmente, todos esses progressos, pois também beneficio das vantagens que eles proporcionam. A questão está em que, se os humanos não estiverem vigilantes, se eles se habituarem a já não fazer esforços, estarão sempre à espera de que seja descoberto um novo aparelho, um novo produto, que lhes trará ainda mais facilidades… até a sua vontade ficar completamente paralisada. Ora, para se desenvolver adequadamente, cada um deve fazer esforços e, portanto, nunca parar certas atividades físicas nem, sobretudo, certas atividades mentais e psíquicas. Seja em que domínio for, não é possível alguém desenvolver-se harmoniosamente deixando-se levar pela facilidade."
 
"Aperfeiçoar-se é um trabalho difícil, e muitos, ao verem a lentidão dos seus progressos, acabam por abandoná-lo, ao passo que outros desesperam, de tão desiludidos consigo próprios. Pois bem, os primeiros são gente fraca e preguiçosa e os outros são pessoas orgulhosas. Não há qualquer razão para alguém se deixar cair no desespero quando se apercebe de que ainda está longe de corresponder à imagem magnífica de si com que tinha sonhado. Há que ser humilde e dizer para consigo: «É certo que desta vez ainda não consegui, e talvez também ainda não consiga na próxima, mas isso não é razão para parar os meus esforços.»
Nunca se deve perder o desejo de progredir. Se cairdes, não será grave, desde que façais, de cada vez, o esforço para vos levantardes. Em todas as circunstâncias da vida, o mais importante é manter a vontade e o gosto de avançar, pois é preciso aperfeiçoar-se sempre. A ideia de aperfeiçoamento é inseparável da existência humana."

"«Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», dizia Jesus. De que natureza era o amor de Jesus? O que é que ele via no ser humano? A resposta está no Sermão da Montanha, quando, dirigindo-se aos seus discípulos e à multidão que o seguira, Ele disse: «Sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito.» O que significa que Jesus via, nos seus discípulos e em todos os seres que se aproximavam dele, a imagem do Pai Celeste, ele via a Divindade; e era a esta Divindade neles que ele se dirigia, pois mostrava-lhes o caminho da perfeição.
Enquanto os escribas e os fariseus só viam a aparência miserável de todos os paralíticos, leprosos, possessos, prostitutas, adúlteras, ladrões, etc., que encontravam, Jesus reconhecia em todos os seres uma alma e um espírito que só pediam condições adequadas para se manifestar com beleza e luz. Eram estas almas e estes espíritos que ele amava, era a eles que ele se dirigia. E ele pede-nos que o imitemos."

"Suponhamos que tendes em vossa casa um ícone, uma imagem santa; todas as manhãs, todas as noites, acendeis uma vela diante desse ícone e dirigis-lhe orações, pedindo-lhe que vos proteja. Mas não é o ícone em si mesmo que vai proteger-vos. O que vos protege é o estado interior em que a vossa oração e o vosso recolhimento vos terão mergulhado; as marcas que eles deixarão em vós é que vos orientarão na via da luz, do amor e da paz.
Sim, só vós, graças à ligação que estabeleceis com o Céu, podeis fazer verdadeiramente 
algo por vós. " 

"Envelhecer é geralmente considerado como uma provação. É verdade que é desagradável perder, pouco a pouco, os meios físicos e intelectuais que se tinha até aí, pois tudo se torna mais difícil. Mas, na realidade, a velhice pode tornar-se também o melhor período da vida. Para aqueles que, durante a juventude e a idade adulta, alimentaram um ideal elevado, muitas coisas melhoram durante a velhice: a compreensão, a lucidez... Como explicar isto? Dir-se-ia que os corpos subtis não obedecem aos mesmos processos que o corpo físico. As pernas, os olhos e os ouvidos das pessoas idosas, e até, de certo modo, o cérebro, começam a traí-los, mas a vida da sua alma e do seu espírito torna-se cada vez mais abundante e rica. Como se, finalmente, se saboreasse os frutos dos esforços que se fez.
Portanto, preparai-vos, pensai em enriquecer-vos interiormente enquanto ainda sois jovens, para poderdes saborear mais tarde esses frutos abundantes."

"O discípulo que vai escutar o seu Mestre ou que mergulha, durante um longo período, no estudo do seu pensamento, sente-se transportado até um mundo de luz, de pureza, de amor. Depois, volta a encontrar, necessariamente, a existência vulgar, onde é obrigado a ter contacto com diferentes pessoas e a fazer face a diferentes situações. Ao fim de algum tempo, ele apercebe-se de que já não tem a mesma fé, o mesmo impulso; sente que voltou a ficar mole e pesado, o seu ardor e o seu amor diminuíram. O que é que se passou? Tal como um líquido quente que depois foi exposto ao frio, ele mudou de temperatura. Este fenómeno é absolutamente natural. O ensinamento que um discípulo recebe de um Mestre assemelha-se ao conteúdo de um recipiente: simbolicamente, esse conteúdo é mais quente do que o ar ambiente, mas, ao contactar com o exterior, pouco a pouco perde o seu calor.
Mas aquilo que se perde pode ser substituído. É esse o objetivo da oração, da meditação, de todos os exercícios espirituais: ir procurar à fonte os elementos luminosos e calorosos que se perdeu."