domingo, 1 de maio de 2016

MESTRE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV

"Há tantas pessoas que se agarram desesperadamente à vida, porque ignoram que esta não termina com aquilo a que se convencionou chamar a morte. Elas são mesmo capazes de cometer todos os crimes para subsistir. Mas, deste modo, contraem dívidas cármicas que terão de pagar numa próxima encarnação. O discípulo de uma Escola Iniciática tem outra filosofia. Por vezes, ele diz para si próprio: «Viver na terra é uma maçada! Estamos limitados, somos achincalhados, violentados, atormentados, esmagados.» Mas ele também sabe que está aqui para fazer um trabalho e reparar os seus erros do passado. Então, aceita as circunstâncias, pensando que, quando tiver terminado esse trabalho, poderá viver livre, no espaço e na luz.
É esta a verdade que os espiritualistas conhecem. Por isso, embora saibam que a verdadeira vida não é aqui, eles estão convencidos de que têm algo a fazer na terra. Enquanto não tiverem regularizado tudo, enquanto não tiverem terminado o trabalho que o Céu lhes atribuiu, o resto é-lhes indiferente. Eles não se questionam se preferem viver ou morrer, querem apenas terminar o seu trabalho. Mas, logo que ele termina, com que alegria eles vão embora, porque sabem que não vale a pena ficar agarrado à terra.  "

"Todas as manhãs ocorre um acontecimento grandioso: o nascer do sol. Mesmo que vos seja penoso levantar cedo, mesmo que estejais meio sonolentos, vale a pena assistirdes a ele. Vós direis que, se estiverdes sonolentos, não beneficiareis nada com isso. Estais enganados! Mesmo sem terdes consciência disso, processa-se um trabalho, cujos efeitos aparecerão mais tarde e vos surpreenderão.
Quando uma pessoa viveu na sua infância cenas de violência, acontecimentos trágicos, ainda não estava em idade para compreender o que se passava; mas, um dia, esses dramas começam a surgir sob a forma de angústias, de perturbações do comportamento, que são muito difíceis de curar. Quer se compreenda, quer não se compreenda, tudo se regista e pode vir à superfície mais tarde. Por isso, mesmo que não “compreendais” nada desse fenómeno cósmico que é um nascer do sol, preparai em vós boas condições: necessariamente, o vosso espírito, a vossa alma e o vosso corpo receberão alguns alimentos, que se manifestarão mais tarde em vós como harmonia, paz e luz."

"A alquimia foi condenada pela Igreja. Contudo, alguns Papas praticaram esta arte. E os construtores das catedrais também tinham conhecimentos alquímicos. A arquitetura e a escultura medievais dão testemunho disso: nas paredes de inúmeros edifícios, estão inscritas as diferentes fases que a matéria atravessa no decurso da preparação da pedra filosofal.
Mesmo o episódio do Dilúvio, no Antigo Testamento, que se vê pintado muitas vezes nas paredes das catedrais, pode ser olhado do ponto de vista alquímico. A chuva cai durante quarenta dias e quarenta noites; ora, 40 é o número da morte. A arca na qual Noé e a sua família se fecham com um casal de cada espécie animal representam o vaso alquímico no qual se faz a transmutação. Quanto ao corvo, Horev, e à pomba, Iona, que Noé solta um após o outro para ver se tinha reaparecido terra firme, eles representam um momento essencial da Grande Obra: a passagem do negro ao branco, o símbolo de uma ressurreição. "

"Todas as religiões recomendaram o jejum como exercício de purificação. Mas o jejum não deve ser compreendido somente no plano físico. Se certas impurezas se introduziram no corpo físico e provocam perturbações físicas, abster-se de alimento (com moderação, é claro) pode eliminá-las. Mas as impurezas também podem introduzir-se no corpo astral e no corpo mental, sob a forma de sentimentos e desejos grosseiros, de pensamentos e juízos errados. Estes pensamentos, estes sentimentos e estes desejos são entidades tenebrosas que obrigam os humanos a absorver certos alimentos de que elas necessitam, pois os pensamentos, os sentimentos e os desejos são entidades vivas que também querem ser alimentadas.
Para se desembaraçar destas entidades tenebrosas, o homem não deve continuar a dar-lhes “de comer”, ou seja, é necessário não só que ele deixe de alimentar pensamentos e sentimentos egoístas, agressivos, mas também que os substitua por pensamentos e sentimentos puros e luminosos. Se ele privar essas entidades dos alimentos que elas procuram, fá-las-á “jejuar” e, então, sentindo-se ameaçadas de morrer à fome, elas deixá-lo-ão. É assim que é preciso compreender o jejum: transpondo-o para os planos astral e mental.  "

"É quase inútil alguém enveredar pela vida espiritual se não compreendeu até que ponto a natureza inferior do homem é coriácea, rebelde, e como o trabalho a fazer sobre ela exige vigilância, humildade, perseverança. Há imensas pessoas que descobrem um ensinamento espiritual e creem que vão transformar-se rapidamente. Mas não, o domínio da vida psíquica é muito mais difícil do que elas imaginam! Existe, realmente, em cada ser humano, a capacidade de renovação, de regeneração, de divinização, mas é um processo muito lento e aquilo que cada um pode realizar nesta existência depende do trabalho já começado nas encarnações anteriores.
Para aquele que não tem consciência das dificuldades que, inevitavelmente, encontra na vida espiritual, é impossível progredir. Então, ele sofre e também faz sofrer os outros. Empenhar-se na vida espiritual exige que, primeiro, se esteja lúcido em relação a si próprio. "

"Os rios nascem na montanha e, quaisquer que sejam os obstáculos que encontram pelo caminho, acabam sempre por chegar ao mar. Aí, a sua água, aquecida pelos raios do sol, transforma-se em vapor e retoma o caminho do céu, até ao dia em que volta a cair sob a forma de chuva ou de neve. Esta viagem da água pode ter uma interpretação simbólica. Os destinos humanos são à imagem destas viagens contínuas que a água faz entre o céu e a terra, a terra e o céu. Tal como as gotas de água, as almas descem à terra, cada uma num determinado lugar; a partir daí, elas têm todo um caminho a percorrer, até ao momento em que regressam ao seu lugar de origem… para descerem de novo, um dia, noutro lugar. É a isso que se chama “reencarnação”.
E, embora os rios tenham sempre o mesmo nome – Sena, Tamisa, Mississípi… –, a água que corre no seu leito é sempre nova. Os habitantes do rio, os milhões e milhões de gotas de água, limitam-se a passar; enquanto elas se dirigem para o mar, outras tomam o seu lugar. Tal como os rios, os países mantêm, muitas vezes, o mesmo nome, mas encarnam-se sucessivamente neles seres sempre diferentes e que vêm de outros lugares. Assim se explicam as mudanças que ocorrem na sua história. "

"Assim que vos falta uma coisinha, começais logo a queixar-vos. Por que é que essa falta há de subitamente obscurecer o vosso olhar? O sol nasce todos os dias. Vós tendes a luz, o ar, a água, o alimento. Podeis ver, ouvir, saborear, compreender. Tendes a faculdade de entrar em relação com o Criador, com todas as entidades celestes, com a natureza, com os humanos. Será que tudo isso é nada?
Em que é que pensais, quando vos levantais de manhã? E no momento em que fazeis a vossa toilette? E quando vedes a vossa mulher, os vossos filhos, em que é que pensais? Podereis dizer-me, talvez, que não tendes mulher nem filhos. Admitamos que é assim, mas, ao sairdes de casa, encontrais com certeza alguém: em que é que pensais quando vedes essas pessoas?... Todos os seres que vivem perto de vós, todos aqueles que encontrais, surgem na vossa vida para vos trazer qualquer coisa, para vos fazer refletir, para afinar a vossa sensibilidade. Em vez de vos focardes no que vos falta, aprendei a regozijar-vos com todas as riquezas inesgotáveis da vida que vos são oferecidas e tornar-vos-eis mais vivos."

"As lamentações sobre a natureza humana pecadora e com inclinação para o mal não servem de nada. Não há que se lamentar, só há que trabalhar. Seja a vaidade, o orgulho, a cólera, o ciúme ou a sensualidade, todos os defeitos devem ser usados para fazer um trabalho. É este o único ponto de vista bom, a única boa solução. É o trabalho que conta, é inútil ocupar-se do resto; as qualidades, os defeitos, são coisa secundária. Quando se descobriu qual é o melhor trabalho e se decidiu estar sinceramente consagrado a ele, até os defeitos se tornam bons servidores.
Consideremos um exemplo muito simples. Vós quereis levantar um peso. Todas as energias contidas em potência no vosso corpo são mobilizadas: os músculos, o coração, os pulmões e até o cérebro participam na ação. Mas, se não tiverdes o desejo de fazer seja o que for, todos os vossos órgãos estagnam, ficam sonolentos. É o desejo de trabalhar que mobiliza todas as vossas potencialidades. Mesmo um criminoso, se se puser a trabalhar, pode acabar por ultrapassar, em generosidade, em paciência e em bondade, os homens mais virtuosos. Ao passo que, muitas vezes, as pessoas de bem não fazem nada de grandioso: acham suficiente serem como são, não pensam em trabalhar para se melhorar.. "

"Na Grécia, chamava-se ambrósia, na Índia era o soma, os alquimistas chamam-lhe o elixir da vida imortal… Todas as culturas mencionaram a existência de uma bebida da imortalidade e algumas explicam mesmo como prepará-la. Na realidade, essa bebida existe na natureza, mas, evidentemente, não é em qualquer lugar: só pode ser encontrada nas regiões mais subtis e mais puras do espaço, e em certos momentos particulares, como o nascer do sol. A aurora é o momento mais favorável do dia, pois a verdadeira bebida da imortalidade é a luz e, ao nascer do sol, nós podemos captar essa luz para alimentarmos com ela os nossos corpos subtis.
Nós vamos contemplar o sol nascente na primavera e durante o verão precisamente para conseguirmos beber essa quintessência de vida que ele espalha pelo universo. As pedras, as plantas, os animais e os humanos recebem, pelo menos, algumas partículas dela. Todos os seres vivos captam essas partículas de forma inconsciente, mas os humanos podem aprender a captá-las de modo consciente. Fazei o esforço de vos levantardes para saudar a aurora, para acolher essa luz no vosso coração, na vossa alma, e saboreareis a vida imortal."

"Quando certos homens ou mulheres deram bons contributos para uma sociedade, para um país ou mesmo para toda a humanidade, erguem-lhes monumentos ou estátuas. E isso tem sentido. No entanto, eu acho que aqueles a quem deveríamos erguer os mais belos monumentos, as mais belas estátuas, são os nossos inimigos…, pois são eles os nossos benfeitores! Graças a eles, somos obrigados a estar mais vigilantes, a ser mais inteligentes, mais pacientes, mais senhores de nós mesmos. Para suportar as dificuldades que eles nos criam, temos de partir à descoberta de regiões de paz e de luz interiores que, sem eles, nunca teríamos procurado explorar. Pensais que o que eu estou a dizer não é sério? Refleti um pouco nesta ideia: muitas vezes, os nossos amigos, com os seus sinais de afeto e os seus elogios, adormecem-nos, ao passo que os nossos inimigos estimulam-nos.
Vós direis: «Mas essas pessoas que nos são hostis envenenam-nos a vida!» É certo, mas, se vós tiverdes o desejo sincero de avançar, recebereis o saber e a força para utilizar todos os obstáculos que eles põem no vosso caminho. Esses obstáculos serão como degraus que vos permitirão subir cada vez mais alto. "

"Quando sentem insatisfações, os humanos têm tendência para procurar respostas materiais. Eles agem como se essas insatisfações viessem do corpo físico. Então, arranjam maneira de esse corpo poder comer, beber, fumar, distrair-se, passeiam-no e proporcionam-lhe todos os prazeres. E ele, coitado, repleto, saturado, sufoca e queixa-se: «Para! Vais matar-me. Não é atulhando-me desse modo que te sentirás melhor!» Mas os humanos não compreendem a linguagem do seu corpo. Eles teimam, dizendo para si próprios que, se não conseguirem encontrar desta vez o que procuram, consegui-lo-ão, seguramente, na próxima. Infelizmente, na próxima vez acontece o mesmo ou ainda pior: o vazio. Mas eles continuam…
Na realidade, são necessárias muito poucas coisas para satisfazer o corpo físico. As reclamações em nós vêm da alma e do espírito, que estão sempre a pedir, a suplicar: «Eu necessito de pureza, de luz, de espaço… Necessito de contemplar o sol… Necessito de me unir ao Senhor, de trabalhar para a vinda do seu Reino, para que a paz reine um dia entre os humanos…» São estas as vozes que devemos escutar em nós, prestando atenção aos seus pedidos, a fim de os satisfazermos. "
 
"Procurai estar atentos à linguagem da natureza. Mesmo que tenhais a impressão de não a compreender, isso não tem importância: o importante é estardes abertos. Desse modo, preparais os centros subtis que, um dia, vos porão em contacto com toda essa vida que circula no universo e que nos fala, pois tudo o que é vivo fala, e a natureza, que é viva, também nos fala.
E, tal como a natureza nos fala, nós podemos falar-lhe. Não importa que as pedras, as plantas, os rios, as montanhas, os astros, não conheçam as nossas línguas humanas: seja em que língua for, as palavras que nós pronunciamos com convicção e amor produzem vibrações, cores, ondas, que agem sobre a matéria; e a matéria reage, responde, como se tivesse compreendido. Apesar de a terra, a água, o ar e o fogo não compreenderem as palavras que nós pronunciamos, essas palavras têm efeitos, em função dos pensamentos, dos sentimentos e da força que pomos nelas."
 
"A maior parte dos humanos têm bom coração e são sensíveis, mas têm também uma maneira curiosa de manifestar essa sensibilidade. Se veem, no cinema ou no teatro, uma criança abandonada ou maltratada, pessoas pobres a morrer de fome ou a ser perseguidas, facilmente vertem algumas lágrimas. Mas se, à saída do espetáculo, passarem diante de um mendigo cuja fisionomia miserável deveria reter o seu olhar e suscitar a sua piedade, nem sequer o notam. E, quando chegam a casa, afastam os filhos com um empurrão, não os escutam, quando eles precisam de atenção e de ternura. Sim, é extraordinário! No cinema ou no teatro, as pessoas são sensíveis, ficam enternecidas, choram. Mas na vida, perante o mesmo espetáculo, muitas vezes fecham os seus olhos e o seu coração.
Os humanos têm ainda muito a aprender sobre a verdadeira sensibilidade e como a manifestar. Quantos há que são sensíveis à beleza do mundo divino e, ao contemplá-la, sentem emoções tais, que todo o seu ser estremece e renasce purificado, regenerado?"
 
"Um general lança uma ordem de ataque. Ele grita: «Fogo!» e, alguns minutos depois, já nada resta do que era uma cidade magnífica. Ele próprio nada fez, apenas pronunciou a palavra, mas que poder tinha essa palavra! Ou, então, um homem ou uma mulher, que conta muito para vós mas cujos verdadeiros sentimentos ainda não conheceis, vos diz ou vos escreve, um dia, as seguintes palavras: «Amo-te!» Subitamente, a vossa vida fica iluminada! No entanto, nada mudou. Mas mudou tudo. Toda a existência nos demonstra os poderes da palavra.
E, na vossa opinião, por que é que as pessoas falam, na maior parte das vezes? Para exercerem o seu poder. Então, mesmo quando, supostamente, pretendem dizer que estão a dar explicações, informações, muitas vezes não é realmente para explicar ou informar. Ao falarem e ao escreverem, elas querem, sobretudo, produzir certos efeitos: fazer aliados, suscitar a cólera, o ódio, ou então evitar que desconfiem delas. E vós, com que objetivo utilizais a palavra?"
 
"As pessoas lavam-se todos os dias, mas podem estar lavadas e limpas fisicamente e, no seu interior, permanecer tão sujas como se nunca tivessem tocado na água em toda a sua vida. Ora, a água lava-nos no plano físico, mas, no plano espiritual, possui exatamente as mesmas propriedades. A água que nós conhecemos e utilizamos todos os dias é a materialização do fluido cósmico que enche o espaço e com o qual nós podemos entrar em contacto pelo pensamento. A primeira condição para este trabalho de purificação é, pois, lavar-se com a consciência de que, através da água, é possível contactar com um elemento de carácter espiritual.
Quando vos lavais, concentrai-vos na água, na sua limpidez, na sua inocência, e rapidamente sentireis que ela toca em vós regiões desconhecidas para nelas produzir transformações. Não só vos sentireis mais leves, purificados, como o vosso coração e o vosso intelecto serão alimentados por novos elementos, mais subtis e vivificadores. A água física contém todos os elementos e forças da água espiritual, que é a água verdadeira. Só é preciso aprender a recebê-los."

"As entidades celestes gostam da luz e, quando se apercebem de um ser rodeado dessa luz a que a Ciência Iniciática chama “aura”, acorrem até ele.
Se eu vos perguntar: «Desejais verdadeiramente o amor, a paz, a saúde, a beleza?», todos respondereis: «Claro que sim, não queremos outra coisa!» Mas, então, o que fazeis para os obter? Não é possível todas as bênçãos virem até vós por acaso. Trabalhar sobre a aura é o melhor meio para as atrair: pelo vosso amor, vós vivificai-la; pela vossa sabedoria, iluminai-la; pela vossa força de carácter, aumentais o seu poder; pela vossa pureza, tornai-la límpida e transparente. Mesmo que não façais qualquer exercício de concentração para formar as cores da vossa aura, se trabalhardes para alimentar em vós as virtudes divinas, atraireis todas as cores magníficas que lhes correspondem. Então, as criaturas celestes que virão banhar-se nelas trar-vos-ão os seus presentes e, junto de vós, os humanos sentir-se-ão apaziguados, reforçados, impelidos numa direção divina."
 
"A inquietação e a agitação criam as piores condições para a atividade do pensamento. Por isso, quando tiverdes um problema importante para resolver, começai por apaziguar-vos. Fazei silêncio em vós e procurai elevar-vos o mais alto possível, pois é no alto que se encontra a luz. Quando sentis que conseguistes alcançar uma espécie de cume, colocai a questão que vos preocupa e esperai…
Evidentemente, essa resposta começará por vir até vós de uma forma mais clara ou menos clara; talvez não passe de uma impressão vaga, difícil de interpretar, mas já será um indício. Não pareis. Recomeçai tantas vezes quantas for necessário, colocai de novo a questão: em breve, sentireis em vós uma clareza, uma certeza, e nesse momento já não haverá dúvida, sabereis como deveis agir. Contudo, é necessário saberdes que a nitidez e a precisão das respostas que recebereis, e a ajuda que elas vos trarão, dependem do vosso grau de evolução espiritual."
 
"Vós estais continuamente à procura de novas coisas para aprender, para ver, para ouvir. Isso não é mau, mas habituai-vos também a dedicar, em cada dia, alguns instantes para vos ligardes ao mundo divino: aquilo que assim ganhareis, podereis transportá-lo convosco por toda a parte, mesmo para o outro mundo; nada vo-lo poderá retirar.
Tudo o que encontrais nos livros, todos os conhecimentos que recebeis dos outros, nunca serão verdadeiramente vossos. Quando deixardes a terra, tereis de os abandonar e, quando voltardes, tereis de adquiri-los de novo. Ao reencarnar, cada um só traz o que adquiriu e experimentou verdadeiramente nas suas vidas anteriores. Tudo o resto foi-lhe retirado, porque não lhe pertencia: ele tinha-o tomado de empréstimo de outros. É claro que, graças a esses “empréstimos”, durante o pouco tempo em que está na terra, ele aproveita as vantagens da terra: a aprovação, os elogios e os aplausos de pessoas que não são muito esclarecidas. Mas, quando parte deste mundo, encontra-se pobre e nu, pois não adquiriu nada por ele mesmo. E será pobre e nu que voltará à terra. "

"A décima quarta carta do Tarô é designada por Temperança. Ela representa um anjo que tem um recipiente em cada mão e que verte o líquido contido no recipiente que segura com a mão esquerda, que está em cima, para o que tem na mão direita, em baixo. Que líquido é esse que o anjo está ocupado a transvazar? É a vida, a corrente da vida divina. Se essa corrente é cortada, já não há trocas e toda a vida para. Quanto ao anjo, ele representa-nos a nós. Nós somos esse ser que tem a possibilidade de trabalhar com os dois recipientes, para que a vida divina, a vida do espírito, desça para animar, exaltar, vivificar, a nossa matéria.
Sempre que procuramos elevar-nos pela oração e pela meditação, nós preparamos essa descida da vida divina. Sim, pois o movimento de cima para baixo só pode ocorrer se for precedido por um movimento de baixo para cima. O espírito só pode descer se nós fizermos um esforço para nos elevarmos, isto é, se lhe prepararmos as melhores condições 
para ele se manifestar em nós.    "

"Os humanos deixam acumular na sua cabeça e no seu coração tantas coisas inúteis! Porquê? Porque não sabem fazer triagens. Eles aceitam tudo sem discernimento: o bom e o mau, o útil e o inútil, o essencial e o supérfluo. Depois, queixam-se: «Eu esforço-me! Por que é que não avanço? Por que é que não obtenho resultados?» É simples: eles ainda não compreenderam que devem começar por desimpedir o terreno. Sim, fazer uma triagem e eliminar tudo o que contradiz o seu ideal espiritual, pois não basta ter um ideal que se deixa ficar num canto da sua cabeça, é preciso que toda a vida que se vive esteja em harmonia com ele.
Cada um acha normal ter toda a espécie de gostos, de necessidades, de projetos, de pontos de vista, de atividades. Mas, se as passar em revista, se as analisar bem, constatará que muitos deles o retêm nos níveis inferiores da consciência. Enquanto ele não os abandonar, não conseguirá progredir."
 
"Na vida espiritual, aquilo a que se chama silêncio não é um mundo mudo. Os sábios do Oriente falam da “voz do silêncio” e é essa voz que eles se esforçam por ouvir. Para aquele que sabe escutar, o silêncio, o verdadeiro silêncio, tem uma voz, pois é a expressão da vida, da plenitude da vida divina.
A voz do silêncio é a voz de Deus. Só se pode ouvir esta voz em si próprio quando se consegue serenar todas as agitações interiores: revoltas, temores, cobiças… Esta voz de Deus confunde-se com a da nossa natureza superior; ela só pode exprimir-se quando todas as paixões se calaram. "
 
"As montanhas e os vales têm as suas correspondências na vida interior. Os vales, onde correm ribeiros e rios, representam a fertilidade e, portanto, a abundância, a generosidade, a bondade. É nos vales, e não nos cumes, que existem prados, jardins, frutos, flores, cidades e os seus habitantes. Nos altos cumes, encontram-se rochas, gelo, aridez.
Sentis-vos solitários? Pois bem, não permaneçais no cume para onde vos arrastou o vosso intelecto, com o seu orgulho, o seu gosto pela crítica. Descei até ao vale, onde reina a abundância, onde o coração se manifesta, onde correm as águas do amor. O saber que adquiristes nos cumes, graças ao vosso intelecto, deve fundir-se para formar regatos, rios, e fertilizar os vales, pois há um tempo para subir e um tempo para descer: há um tempo para subir à montanha com o intelecto e um tempo para descer ao vale com o coração."