Ensinamentos do Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov
FASCÍCLUS Nº 2
Aquele que, a dado momento da sua existência, descobre em si a necessidade de seguir uma orientação espiritual, é necessariamente levado a abandonar determinados modos de pensar e de viver que até então tinha e que continuam a ser os da maioria das pessoas que o rodeiam. Uma tal orientação acarreta, pois, grandes consequências. Sem falar da dificuldade sentida ao questionar-se interiormente, o grande risco a que se expõe aquele que assim quer mudar de vida é o de se colocar à margem da sociedade a que pertence, recusando-se a aceitar as suas regras. Essa sociedade é materialista e a espiritualidade a que ele deseja consagrar-se dispensa-o, pensa ele, de assumir as mesmas obrigações profissionais, familiares e sociais que todas as outras pessoas.
O Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov abordou com grande clareza esta questão tão importante e tão complexa, insistindo antes de tudo na necessidade de se equilibrar as preocupações materiais com as actividades espirituais. Pode mesmo dizer-se que a essência do seu ensinamento se fundamenta numa definição dos papéis da matéria e do espírito e das relações entre eles. A espiritualidade não consiste em fugir da matéria, em rejeitar todas as exigências da nossa vida terrestre, mas em dominá-las, em trabalhá-las, impondo-lhes o selo do espírito. Assim, o espiritualista não só tem os mesmos deveres que todo e qualquer cidadão para com a família e a sociedade, como ainda se esforça por dar-lhes um sentido mais vasto e mais profundo.
ENCONTRAR O EQUILÍBRIO ENTRE O ESPIRITUAL E O MATERIAL
Muitas pessoas dizem: «Primeiro, vou resolver todos os meus problemas materiais, e depois estarei livre para pensar na vida espiritual...» Mas, na realidade, os anos passaram e ei-las já velhas, gastas, sem terem conseguido consagrar um minuto à vida espiritual! E porquê? Porque fizeram um raciocínio errado.
Para viver a vida espiritual não se deve esperar até se ter conseguido resolver todas as questões, porque jamais alguma coisa está definitivamente resolvida; há sempre algo que falta algures. É exactamente como se tentásseis dar novamente a uma bola de borracha furada a sua forma redonda: quando conseguis suprimir-lhe a concavidade de um lado, ela forma-se do outro. Tendes uma profissão, mas pouco depois perdeis o lugar e ficais no desemprego... Casais, mas passado algum tempo nada vai bem e divorciais-vos... Tendes uma casa, mas acontece qualquer coisa que vos obriga a mudar para outra... E os filhos... Que preocupações com os filhos: a saúde, a educação, o futuro deles! E depois dos filhos são os netos... Digo-vos que é interminável.
Assim, para viverdes a vida espiritual, não espereis que as vossas questões materiais estejam resolvidas. Tanto mais que – deveis sabê-lo também – é graças à vida espiritual que encontrareis as melhores soluções para todos os problemas que diariamente vos são colocados, porque sereis mais fortes, mais pacientes, mais sábios, mais prudentes.
Mas, evidentemente, é preciso saber respeitar os limites. Se me disserdes: «Bem, agora compreendi; vou organizar a minha vida de tal maneira que não tenha de despender mais tempo e energias com preocupações materiais, profissionais ou familiares», responder-vos-ei que também não deveis exagerar, porque viveis no mundo e não podeis proceder como se ele não existisse. Se vos comportardes como um insociável e um parasita, vegetareis e sereis um peso para os outros. Pois bem, isso não é recomendável. É preciso saber ajustar as actividades do mundo com as da vida espiritual. É um equilíbrio que todo o ser humano que quer evoluir deve encontrar: saber viver no mundo, relacionar-se com ele, mas dando o primeiro lugar ao essencial – a alma e o espírito.
É pela sua maneira de ajustar estes dois aspectos – o material e o espiritual – que cada um revela o seu grau de evolução, e nada é mais difícil. Uns são tentados a afundar-se na vida material esquecendo a vida do espírito, e outros a não se ocupar senão da vida do espírito, descurando a vida material. Mas existe uma terceira solução, e é essa que cada um deve encontrar para si, porque cada um é um caso particular. No fundo, evidentemente, todos os seres humanos possuem a mesma natureza, têm as mesmas necessidades, mas o seu grau de evolução não é o mesmo, o seu temperamento não é o mesmo, a sua vocação nesta existência não é a mesma, e cada um deve encontrar individualmente o seu equilíbrio, sem querer imitar o vizinho.
Quem se sente impelido a fundar família não pode resolver a questão como quem prefere ficar solteiro. O que tem necessidade de muita actividade física não pode levar a mesma vida que o que tem um temperamento meditativo, contemplativo.
O essencial é que cada um seja capaz de se analisar bem, a fim de conhecer as suas tendências profundas; depois, conhecendo-as, deverá esforçar-se por equilibrar, na sua vida, o espiritual com o material.
Fonte: http://www.publicacoesmaitreya.pt/