Você já percebeu como este hábito
negativo está enraizado no comportamento humano? Não há quem não critique os
outros. Basta alguém fazer alguma coisa diferente do esperado que já saímos
comentando, achando falhas, questionando, como se tudo tivesse que respeitar uma
regra maluca, que pode mudar de acordo com o nosso ponto de vista
atual.
Muito triste esse hábito. Totalmente egoico e sem sentido. Digo
sem sentido porque parte do princípio que temos o direito de entrar na vida
alheia, não apenas com nossos olhos, mas com nosso julgamento. E, se por acaso,
estivermos de mal humor, no momento em que olhamos algo que nos desagrade, aí
então, o mundo está perdido, porque vamos mesmo falar muito mal daquilo que está
à nossa volta. E isso é um vício. Quanto mais criticamos, parece que mais
direito temos de falar mal dos outros. Mas, afinal, por que fazemos
isso?
Percebo que algumas pessoas simplesmente aprenderam essa forma de
agir, e se deixam levar pelo hábito, sem se questionar. Simplesmente, seguem a
vida sem se auto-observarem. Na maioria das vezes, essas são as mesmas que
reclamam de solidão, que não têm amigos sinceros, que sofrem porque nunca
encontraram ninguém que realmente as aceitasse.
Tem também aquelas pessoas
que apesar de terem aberto um pouquinho mais o horizonte, continuam seguindo os
hábitos da família. Falam mal, criticam, acham feio tudo aquilo que é diferente
da sua criação. Buscam a zona de conforto do mundo conhecido, buscam amigos
semelhantes, repetem atividades desenvolvidas pelos pais, mantêm-se em negócios
da família, gostando ou não das atividades que desenvolvem. Às vezes, essas
pessoas ficam tristes, depressivas e não percebem que têm vontade de mudar, de
fazer coisas diferentes.
Aliás, é muito comum ter medo do novo, repudiar
o desconhecido e criticar as coisas diferentes, o que inclui criticar pessoas,
hábitos e até culturas fora dos seus padrões.
Lembro que quando fui à Índia
pela primeira vez estranhei aquele lugar, as pessoas, o cheiro, as imagens,
roupas, modo de se comportar. Foi uma verdadeira overdose de emoções. Acho que
foi tão intenso o mergulho naquele mundo diferente que quebrei todos meus
paradigmas de uma vez só, o que foi muito bom. Porque se quisesse manter o meu
jeitinho de viver por lá, teria enfrentado um milhão de frustrações. Teria
perdido lindas oportunidades de conhecer pessoas, experimentar sabores e até ver
as paisagens, pois, com certeza, meus olhos tiveram que aceitar a pobreza,
lugares sujos, pessoas estranhas, para apreciar o contexto.
Voltei dessa
primeira viagem muito mais leve, compreendendo melhor minha própria história,
porque esse negócio de fazer críticas, emitir julgamentos, pode ser ainda pior
quando a gente volta a atenção para si mesmo.
Percebi que quando as
pessoas são muito críticas consigo mesmas, acabam abortando suas ideias,
sufocando sonhos e não se dando a liberdade de errar. Querem ser perfeitas
porque imaginam que o mundo à sua volta, está prestando atenção nos seus passos,
medindo suas atitudes, achando defeitos em tudo o que fazem. De novo, o ego
mostrando sua tirania, tentando proteger aquele que se julga um fraco, um ser
cheio de erros. Algo que remete à criação, a complexos de inferioridade, falta
de amor e um tiranismo sem precedentes.
Mas será que não temos escolha?
Que nascemos assim e temos que morrer assim?
Ao contrário, acho que todos nós
temos que nos convidar a transformar comportamentos negativos. Penso que
precisamos nos observar, não como juízes implacáveis de nossos comportamentos,
mas como pais e mães amorosos de nós mesmos. Porque, pelo amor de Deus, chega de
colocar a culpa em nossos pais!
Acho que a maioria de nós, que já
caminhamos um pouquinho na senda espiritual, sabe que precisamos nos libertar da
nossa criação, esquecer as dores da infância, compreender aqueles que nos
criaram, e que podem ter errado conosco. Erros que certamente já lhes fez mal o
suficiente. Um mal que não devemos perpetuar. Não é?
Assim, amigo leitor,
sugiro que nos tratemos com mais amor e atenção.
Veja bem que não sou
favorável à indulgência, no sentido de deixar as coisas como estão, ou fazer
vista grossa para os defeitos para ser mais feliz. Até porque não acredito nesse
tipo de atitude, pois não vamos conseguir fechar os olhos para tudo o que está
errado e nos perturba. Mas podemos ir mudando, pouco a pouco, a forma que
olhamos o mundo e as pessoas. Podemos não nos permitir irritar com as coisas que
nos desagradam. Podemos, inclusive, prestar atenção no nosso estado de humor
antes de soltar um comentário frio, desagradável sobre alguém.
Acho que
se não temos nada positivo a falar, ou se nossa fala não vai mudar em nada os
fatos, devemos sim nos questionar antes de soltar o verbo. A reforma começa
dentro de nós. Você já pensou que muitas coisas lhe escapa? Já parou para pensar
que por trás de um sorriso, ou de uma lágrima, pode ter algum outro sentimento
ou emoção que você nem imagina?
Precisamos deixar de ser tão pretensiosos
imaginando que sabemos o que o outro está pensando. Sinto que se nos permitirmos
observar mais, erraremos menos. Mas observar com amor, com coração aberto,
colocando-nos no lugar do outro. Fazendo o divino jogo da empatia.
Porque se
não nos colocarmos no lugar do outro, jamais poderemos pedir que alguém nos
compreenda, ou sinta um verdadeiro afeto por nós. Se não sentimos quem é o outro
como podemos esperar que ele sinta quem nós somos?
Criticar somente nos
afasta das pessoas.
Olhar as coisas negativas e achar os erros é fácil; difícil
é, mesmo vendo as falhas, achar a beleza.
Por Maria Sílvia Orlavas em Fevereiro de 2013
Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=33442 morlovas@terra.com.br