"Os meios a que os humanos podem recorrer imediatamente para se
aliviarem de um desgosto são, na maior parte dos casos, apenas
paliativos. Beber porque se acabou de descobrir que se foi
atraiçoado pela sua mulher ou pelo seu marido traz, sem dúvida,
um certo apaziguamento, mas por quanto tempo? Alguns copos de
álcool só adormecem a dor por curtos instantes e o despertar é
ainda mais sombrio. E também não lhes serve de grande coisa
irem a correr para casa de amigos e aí esvaziarem o seu
coração. Quando, após uma hora ou duas, eles saem de lá
pensando que se libertaram do seu fardo, este não tarda a voltar
ainda mais pesado e eles sobrecarregaram inutilmente os amigos.
Aliás, eu não estou a ensinar-vos nada, certamente já
passastes por isto várias vezes.
Então, de agora em diante, começai por tentar desagregar vós
mesmos essa bola que esmaga o vosso coração. Se a passardes a
outros, há o risco de eles vo-la devolverem ainda maior do que
antes. Como quereis que eles vos ajudem? Eles não estão no
vosso lugar e têm as suas próprias preocupações. «O que
fazer, então?», perguntareis vós. Apelai à esperança, à fé
e ao amor, dizendo para vós próprios: «Deus criou-me à sua
imagem. Eu tenho todas as luzes, todos os recursos para superar
esta provação.» Eu não digo que o conseguireis imediatamente,
mas é com esta certeza que podereis começar a reconstruir-vos."
"Há muitas pessoas que se indignam ao ver que os criminosos nunca
são punidos. E não param de repetir que não há justiça na
terra, revoltam-se e consomem-se por dentro, sobretudo se não
acreditarem que existe uma Justiça divina que é superior à justiça humana.
Mas existe mesmo uma Justiça divina e ela está baseada na lei
das causas e das consequências que governa o universo. Não
existe causa sem consequência em parte alguma, e cada facto,
cada acontecimento, é a consequência de uma causa. Causas e
consequências estão indissoluvelmente ligadas. Só que a
duração de uma vida terrestre, muitas vezes, é demasiado
limitada para nós podermos observar este jogo das causas e das
consequências. Se vivêssemos muito mais tempo, veríamos as
consequências de certas causas e então constataríamos como os
culpados acabam por ser punidos e as pessoas de bem
recompensadas. Se não o forem nesta incarnação, sê-lo-ão
numa próxima. A lei é absoluta."
"A maior parte das tradições associam simbolicamente a direita
ao bem e a esquerda ao mal. Encontramos este simbolismo da
direita e da esquerda nas seguintes palavras de Jesus: «Quando
dás esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita.»
Para se interpretar estas palavras, é preciso compreender que a
mão direita e a mão esquerda representam as duas naturezas do
ser humano: a natureza superior e a natureza inferior. Quando a
mão direita, a natureza superior, quer “dar esmola”
(expressão que é preciso considerar num sentido muito amplo, o
de “fazer o bem”), deve agir com prudência para que a mão
esquerda, a natureza inferior, não venha a levantar obstáculos
ou a desviar a atenção em seu proveito. É um princípio de
estratégia: nunca se viu generais explanarem perante o inimigo
os planos de batalha que estão a preparar. Portanto, a mão
direita deve não só mostrar-se inteligente na preparação dos
melhores projetos, mas também ter o cuidado de os proteger das
manobras da mão esquerda."
"Os humanos deixam-se arrastar pelo turbilhão da vida ambiente,
que apresenta tantas tentações. E não há ninguém para os por
de sobreaviso contra o perigo que tantas solicitações
representam. Pelo contrário, até lhes fazem crer que a
satisfação de todos os desejos que então despertam neles
contribui para o seu desenvolvimento, que ela é uma condição
para o seu enriquecimento interior. Pois bem, não é assim, não
é a satisfação de todos esses múltiplos desejos que os
enriquecerá, pois é nisso que eles esbanjam as suas energias. E
se, na vida prática, eles tiverem de levar por diante diferentes
atividades, só o farão de forma construtiva se mantiverem um
pensamento diretor, um desejo fundamental que alimenta e reforça
todos os seus outros projetos.
Há imensas pessoas que se lamentam da situação deplorável da
sociedade! Qual é a razão desta situação deplorável? É que
aqueles que querem o bem e que seriam capazes de o realizar
dispersam-se em atividades que não têm qualquer relação com
esse bem. E deixam lugar para os insensatos, para os ambiciosos,
que, esses sim, sabem concentrar todas as suas energias nos seus
propósitos censuráveis. "
"A vida é uma escola para a qual nós fomos enviados e nesta
escola nós ignoramos, de facto, quem são os professores e quem
são os alunos. Há crianças e mendigos que podem instruir-nos,
mas os nossos inimigos também. Sim, mesmo e sobretudo os nossos
inimigos, pois são eles que nos obrigam a fazer maiores esforços.
Por vezes, seria bastante fácil responder às calúnias, aos
ataques, mas nenhuma das maneiras de responder é boa. A pessoa
que riposta corre sempre o risco de baixar ao nível daqueles que
se intrometem com ela e então suja-se como eles. Não é
proibido ela ripostar, mas desde que seja capaz de se manter num
plano muito elevado, de não alinhar com os adversários na
mesquinhez, na maldade, pois, se o fizer, mesmo que,
aparentemente, ela vença, na realidade também perde muito. É
preciso ser muito inteligente e ter muita força de caráter para
resistir sem usar as mesmas armas que os seus adversários!"
"Aquele que decide trabalhar para o bem de toda a humanidade nunca
deve questionar-se se vai ser bem-sucedido ou não, pois esta
questão, que introduz nele uma dúvida, trava-o no seu impulso.
Ele deve trabalhar, pura e simplesmente! E a História ensina-nos
que não se deve fazer juízos sobre o valor dos seres tomando
apenas como critério os seus sucessos ou os seus insucessos.
Aqueles que obtiveram sucesso não são necessariamente os
maiores, nem aqueles que falharam são menos elevados.
Cada criatura vem à terra com uma determinada missão e, muitas
vezes, aqueles que estão encarregues das missões mais
grandiosas estão destinados a fracassar, pelo menos
aparentemente. Mas eles prepararam o terreno – e isso é o mais
difícil – para outros que serão bem-sucedidos. Então, que
aqueles que são bem-sucedidos não esqueçam que devem o seu
sucesso aos esforços e sacrifícios daqueles que os precederam."
"A vida humana é como um novelo de fio que desenrola e no início
o fio é sólido; mas, à medida que o tempo passa, ele fica mais
fino até se partir, e isso é o fim. Cada um deve preparar-se
para este fim, para não ficar assustado no dia em que o anjo da
morte vier pegar-lhe na mão, dizendo: «Sai dessa prisão onde
estás fechado. Agora, vai! És livre.»
Mas não basta deixar o corpo físico para se ser livre. A morte
só é uma libertação para aqueles que, durante a sua
permanência na terra, souberam fazer um trabalho interior para
se libertarem das suas fraquezas físicas e psíquicas. Se estais
na terra, é precisamente para trabalhardes no sentido da vossa
libertação, isto é, para dardes à vossa alma e ao vosso
espírito cada vez mais possibilidades de se manifestarem. Quando
vier a morte, vós partireis com a consciência de que partis
para ir viver noutro mundo... Depois, passado algum tempo,
voltareis para continuar o vosso trabalho."
"«Não se pode amar o que não se vê», dizem certas pessoas
para justificar a sua indiferença em relação a Deus. É muito
simplesmente porque elas não procuram saber sob que forma Ele se nos apresenta.
Será que o bebé acabado de nascer ama a sua mãe? Ele não a
conhece, não tem consciência do que ela representa para ele, e
não se pode chamar amor ao laço que o une a ela. Mas ele ama o
seio que o alimenta, é uma primeira etapa. Mais tarde, amará a
mão que o lava, o acaricia e segura na sua para o ensinar a
caminhar. Depois, aprenderá a apreciar o rosto da sua mãe, o
seu sorriso, as suas palavras, e um dia amará também a sua
alma. Acontece o mesmo em relação ao amor a Deus. O nome pelo
qual o nosso amor O conhece – vida, bondade, beleza, luz, paz,
alegria... – determina a nossa idade espiritual e torna-O visível para nós."
"Querer fazer o bem é uma coisa e fazê-lo realmente é outra.
Sim, infelizmente, o desejo de fazer o bem é insuficiente: nós
devemos também ser muito lúcidos e honestos para admitir que,
crendo que estamos a agir bem, podemos cometer erros. Por isso,
devemos estar ainda mais desconfiados em relação a nós mesmos
do que em relação aos outros.
E também pode acontecer que, agindo bem, se atraia o ódio, as
inimizades. Ouve-se muitas vezes as pessoas dizer: «Fazei o bem
e colhereis o mal», e é verdade. Mas isso não deve justificar
o egoísmo e a recusa de ajudar os outros. Então, qual é a
atitude do sábio? Ele faz o bem com conhecimento de causa e, se
colher mal de volta, não ficará surpreendido nem triste, pois
sabia à partida aquilo a que se expunha. Portanto, aquele que
quer fazer o bem deve primeiro estudar honestamente as suas
intenções e os meios que utiliza. Depois, deve saber que, mesmo
que faça realmente o bem, pode receber o mal como retorno."
"«Amarás o próximo como a ti mesmo», dizia Jesus.
Contrariamente a todos os pessimistas e misantropos que
preconizam o ódio a si mesmo, Jesus pensa, pois, que nós
devemos amar-nos. Sim, mas como? Ou, antes, o que devemos amar em
nós?... É por não conhecerem a resposta a esta questão que
tantos seres humanos se amam tão mal. Eles não sabem que aquilo
que devem amar neles é o Princípio divino que neles habita.
Deus criou-nos à sua imagem e nós manifestamos essa imagem por
intermédio do nosso espírito, da nossa alma, do nosso
intelecto, do nosso coração e também do nosso corpo físico.
Portanto, amar-se a si mesmo é igualmente amar o seu corpo, e
não porque ele pode ser um instrumento de prazer ou de
sedução. Devemos amar o nosso corpo pensando com reconhecimento
nesses bons servidores que são os nossos olhos, os nossos
ouvidos, o nosso nariz, a nossa boca, as nossas mãos, os nossos
pés, assim como todos os órgãos que nos permitem exprimir a
presença de Deus em nós."
"O sangue tem a propriedade de emanar eflúvios de que as
entidades do mundo invisível se alimentam. Por isso, desde a
mais alta Antiguidade, os sacerdotes usavam o sangue das vítimas
oferecidas em sacrifício aos deuses para evocar entidades
celestes ou infernais. Mesmo a literatura relata tais factos, a
“Odisseia” de Homero e a “Eneida” de Virgílio, por
exemplo. Atualmente, ainda são praticados sacrifícios desses em
todos os países do mundo, em particular pelos feiticeiros e
pelos magos negros. Os magos brancos não sacrificam os animais
inocentes para oferecer o seu sangue como repasto às entidades
do mundo invisível. Mas é importante conhecer esse poder
mágico do sangue. Como ele contém muitas matérias preciosas
que podem servir de alimento a toda a espécie de espíritos, há
que tomar certas precauções. Se perderdes sangue seja de que
maneira for, é preferível que não o deixeis secar nem o
elimineis antes de o consagrardes a uma causa benéfica. Desse
modo, protegeis-vos da ação das entidades tenebrosas do plano
astral, pois tais entidades estão sempre à espera de ser
alimentadas por essas emanações para se reforçarem."
"Obter aquilo que desejamos depende do nosso amor, pois o destino
de cada ser é determinado pelo amor que há na nossa alma. Um
amor puro, desinteressado, levar-nos-á a ter encontros e a viver
acontecimentos que nos trarão a luz e a alegria. É o nosso amor
que cria o nosso futuro.
Aqueles que aspiram a uma vida nova, a uma vida de beleza, de
paz, não devem limitar-se a fazer algumas mudanças nas suas
ocupações. Se o seu amor continuar a ser o mesmo, eles bem
poderão mudar tudo o que quiserem, que esse amor trar-lhes-á as
mesmas dificuldades, os mesmos sofrimentos: a natureza do seu
amor é que os atrairá."
"Como é que uma criança se forma no ventre da mãe? O pai deu o
germe e, durante nove meses, ela envolve-o de matéria, dá-lhe
um corpo. Do mesmo modo, no plano espiritual, um Mestre, um
Iniciado, pode dar um germe, uma ideia sublime e, para que essa
ideia ganhe corpo, ele precisa de que as mulheres lhe acrescentem
a matéria. Essa matéria são as partículas etéricas, os
fluidos, que emanam delas. Um tal corpo começa por existir no
invisível, mas, se se concentrarem nele, se o alimentarem, se
trabalharem sobre ele, ele descerá progressivamente até se
tornar uma realidade quase visível e tangível.
Vós direis que nunca ouvistes apresentar uma teoria tão
inverosímil. Ela parece-vos inverosímil, mas é verídica. No
dia em que as mulheres, enquanto entidade coletiva, aceitarem ser
fertilizadas pela ideia do Reino de Deus na terra que Jesus
anunciava, darão a matéria necessária à sua realização."
"Considerai o ser humano ao longo de toda a sua existência.
Quando criança, é impelido a tocar em tudo, a pegar em tudo e
levar à boca, mesmo o que pode fazer-lhe mal, pois a infância
é a idade do coração, da primeira operação, a soma. Na
adolescência, o seu intelecto começa a manifestar-se e ele
começa a rejeitar tudo o que lhe é desagradável, inútil ou
nocivo: ele subtrai. Já adulto, lança-se na multiplicação: a
sua vida povoa-se de mulheres, de filhos, de aquisições de toda
a espécie… Finalmente, chegado à velhice, ele pensa que em
breve vai partir para o outro mundo e escreve o seu testamento
para deixar os seus bens a uns e a outros: ele divide.
Assim, o ser humano começa por acumular e depois rejeita muitas
coisas. Mas o que é bom ele deve plantá-lo para o multiplicar.
E o que é que ele deve plantar? Os seus bons pensamentos e os
seus bons sentimentos, por exemplo. Sim, é esta a verdadeira
multiplicação. E aquilo que colhe, ele pode dividi-lo, isto é,
distribuí-lo."