Que não se pense que a verdadeira espiritualidade permanece e existe somente nas igrejas, mesquitas ou outros tempos reli...giosos. Todos sem excepção podem viver a sua espiritualidade, aprofundar-se nela, adentrar nos seus mistérios sagrados através da sua própria vida particular. Que os templos religiosos sejam importantes? Claro que o são. São acima de tudo o símbolo da ligação do Homem Terreno com o Reino Celeste. No entanto, que não se deixe de existir espiritualmente fora dos templos. Sim, existir espiritualmente! É necessário possuir uma vida espiritual saudável, bela, elegante e profundamente luminosa. E para isso é necessário alimentá-la, nutri-la, elevá-la ao mais alto padrão de existência. O mesmo acontece na vida terrena.
O homem alimenta-se, veste-se, trabalha, relaciona-se, pensa, emociona-se, faz de tudo um pouco para preencher a sua existência material. Pois bem, também o plano espiritual necessita de ser alimentado nos terrenos da própria Alma. A Alma deve preparar a sua casa espiritual, o seu templo, lavando, purificando, consagrando, abençoando, unificando... A Alma deve preparar um verdadeiro banquete luminoso dentro de si mesma para que o Espírito a possa escolher como sua esposa sagrada. Este é um grande Mistério da Ciência Espiritual e Iniciática.
Então, se existem determinados rituais dentro da vida religiosa (o que é abrangente para qualquer tipo de religião) praticada nos templos, porque não estendê-los também para a vida fora das paredes dos templos? Essa é que é uma proposta fantástica! Todos merecem uma vida terrena espiritualizada, aprendendo a trabalhar o espiritual sem deixar de viver o material. E não se pense que me refiro a uma vida espiritualizada somente indo a meditações ao fim de semana, indo ao ginásio praticar yoga, fazer caridade aos pobres como voluntariado, entre tantas outras atividades. Entenda-se que estas também podem ser importantes para o exercício de certas faculdades da Alma, mas o mais importante é toda a atividade que se faz por dentro, no silêncio e solidão do próprio coração. E onde se pode encontrar este espaço de silêncio e solidão? Nas próprias atividades quotidianas de cada um. A verdadeira essência da Vida Espiritual encontra-se hoje, nos mais pequenos atos da vida material de todos nós. Então, se assim é, porque não buscar e arrebatar o pensamento e a emoção enquanto o corpo físico está ocupado com atividades "rotineiras, desinteressantes e insípidas"? Porque não transformar os hábitos terrenos em obras-primas radiantes e maravilhosas?
Porque não pensar sobre estas coisas?
Todos dias tomamos banho, mas onde andam a mente e a emoção nesses momentos de intimidade? Fora de Deus, longe do Espírito, longe de casa, longe, muito longe da sua verdadeira essência. Estão normalmente nos problemas do dia anterior. Estão na desmotivação para mais um dia de trabalho. Estão na descrença de que a vida é um fardo. Estão submersos em todo o tipo de dificuldades que a vida oferece sem contudo os solucionar. Pois bem. É exatamente neste terreno pantanoso que todo o homem pode e deve reunir esforços para agir espiritualmente. Porque não transformar o banho matinal num batismo cerimonial privado e íntimo? Porque não consagrar esse momento à existência de Deus nas nossas vidas? Porque não pedir a bênção dos reinos celestes para que todo o dia o coração e mente sejam guardados por anjos para que toda a negatividade não os possa perturbar?
Reparai, porque não transformar o ato de nos vestirmos num profundo ato de profissão da fé? É que enquanto nos vestimos, porque não pedir a proteção dos anjos para um novo dia de trabalho material e espiritual? A roupa é também uma proteção, uma armadura se assim a quisermos ver. Da mesma maneira que protege o corpo físico, porque não proteger também os corpos espirituais? Todo o objeto resplandece quando neles são depositados emoções, sentimentos e pensamentos luminosos. Então, porque não reunir nestes instantes do dia o pensamento e o coração e elevá-los a Deus, oferecendo-se para ser um verdadeiro Guerreiro da Luz?
E enquanto nos alimentamos à mesa? Sozinhos ou acompanhados, porque não transformar esse episódio do dia numa maravilhosa Eucaristia consagrada aos mais belos planos espirituais? Porque não ver esse momento como um ato de intimidade com Deus no mais íntimo do coração. Pode-se conversar, ver televisão, rir, falar alto, de tudo um pouco, mas são sempre atos focados na vida exterior. E porque não olhar para dentro também nesses momentos? Porque não oferecer a Deus o pedaço de pão que temos no prato, ou o bife que tanto gostamos de comer, ou o vinho que fazemos questão de beber? Porque não oferecer a taça de cereais matinais? Porque não dedicar uma só dentada do prato mais maravilhoso para nós e oferecê-lo a Deus? Porque não pedir a Deus que se sente à mesa connosco e com a nossa família? Porque não oferecer a Vida, o Amor e a Luz dos nossos corações a Deus e aos seus anjos enquanto permanecemos sentados à mesa?
E já agora, e à noite, mesmo antes de dormir, no momento em que nos despedimos da família para um novo dia, porque não oferecer esse beijo ou esse abraço a Deus? Como se fosse a Deus que o carinho fosse dirigido. Porque não pedir-Lhe que seja Ele através do nosso corpo a abraçar e acarinhar os nossos familiares? E se estivermos sozinhos, porque não comungar com os anjos e os santos da terra através da oração? Uma oração alegre e de agradecimento por mais um dia de trabalho. Uma oração não de súplica, de lamento, de agonia, mas de agradecimento pelas dificuldades. Uma oração pelo bem do nosso próprio coração.
Como vedes irmãos, a vida terrena só serve para que nela sejam trabalhados os aspetos espirituais e divinos. E é nela e sobre ela, a vida quotidiana, que se encontra o mais sublime Templo de Adoração ao Senhor Altíssimo Nosso Deus.
Façam dos vossos pequenos atos rotineiros, atos extraordinários. E verão ser construído dentro de vós uma vida maravilhosa. Quais obras sagradas de caridade? Qual altar sagrado de adoração ao Senhor? Qual livro sagrado? Qual Bíblia, Corão, Tora ou Bhagavad Gita?
Nada, absolutamente nada é tão sublime aos olhos do Nosso Senhor quanto o nosso Coração entregue a Deus.
Por isso vos digo, que a vida insignificante e medíocre seja muito mais!
Que a vida seja elevada a Deus somente, por dentro e no coração, e tudo o mais perderá importância.
Vivam na Paz do Senhor!
Do vosso irmão,
Mikael A. Light
Missionário da Ordem de Melkisedek