Depois de um dia
inteiro passado longe da família, entra em casa o pai, à noite.
Sua chegada
alvoroça o filho que, esperando algum presente, corre ao seu encontro de braços
abertos.
Por descuido, o
pequeno estabanado vai de encontro a uma cadeira no caminho, e cai no chão,
violentamente.
Não se machucou,
mas, assustado pela surpresa da queda, se pôs a chorar em altos gritos.
Então, o pai só
pensa em duas coisas: fazer calar o menino e acalmá-lo. Como conseguirá?
Facilmente,
associando-se aos sentimentos da criança, ajudando-a a soltar a rédea aos maus
instintos.
Como assim?
Liberando maus instintos? Não seria justamente o oposto que deveríamos fazer?
Pois bem, vejamos
como a reação desse pai mostra que tomamos muitos caminhos absolutamente
equivocados na educação de nossos filhos.
Reforçamos os
maus instintos sem perceber, mais vezes do que imaginamos.
O pai se
precipita, levanta a criança, e começa a bater na cadeira ruim, cadeira feia,
que fez cair o Carlinhos.
Desse modo
consegue rapidamente o que se propusera, pois o menino, feliz por ver a cadeira
castigada, cala-se, bate-lhe também, e fica satisfeitíssimo.
Não é verdade que
assistimos cenas como essa algumas vezes?
Analisemos o
alcance real desse ato que parece tão inocente.
Quem tem culpa da
queda da criança? Ela mesma, evidentemente. E quem foi castigada? A cadeira.
Lançando a culpa
à cadeira, perde-se uma oportunidade de demonstrar para a criança as
consequências de sua imprudência e da sua precipitação.
Dessa maneira se
deforma o seu critério de julgar, apresentando-lhe uma falsa relação entre a causa
e o efeito.
Toda oportunidade
de trabalhar essa temática, a da causa e do efeito, com as crianças, deve ser
abraçada com vigor, pois nas pequenas aplicações do dia a dia está o desvendar
de uma Lei Divina fundamental.
Poderíamos ainda
ir além e perguntar: Por que sempre precisa haver um culpado? Por que não
aproveitamos a oportunidade para dizer aos nossos filhos que existem muitas
coisas que fazem parte da vida, e que sempre nos ensinam alguma coisa?
A cadeira no
caminho poderia estar ensinando o cuidado, a atenção, ou ainda, poderia ser
apenas uma cadeira no caminho.
Se na vida,
buscarmos culpados para cada cadeira no caminho, esqueceremos de viver. Ao
mesmo tempo, nos transformaríamos em lamentos ambulantes.
Não deixemos que
nossos filhos cultivem visões distorcidas da realidade desde cedo.
Não permitamos
que a superproteção, ou nossos próprios medos atrapalhem o bom desenvolvimento
de um ser, que precisa aprender a enfrentar os desafios da vida.
Punir a cadeira
feia nunca será a solução. Não deixaremos de sentir a dor da queda, nem
resolveremos o problema da cadeira no caminho.
Entender que a
Lei de causa e efeito nos rege em todos os campos, inclusive no moral, se faz
de importância, se desejamos ser bons pais e educadores.
* * *
A sensibilidade
de uma poetisa colocou na boca das crianças do mundo palavras de extrema
beleza:
Peço-te, não me
esqueças – pois sou teu filho, teu aluno, teu neto.
Sempre teu irmão,
pedindo apenas a quota de amor e paciência de que preciso para me fazer homem
de bem e companheiro de teu ideal.
Redação do
Momento Espírita com base no
cap. Eduquemos as
crianças, do livro Crônicas
de educação, de
Cecília Meireles, ed. Nova Fronteira.
Em 14.6.2018
Fonte: http://www.momento.com.br/