Eu tive que
aceitar,
que meu corpo nunca fora imortal,
que ele envelhecerá e um dia se
acabará.
Eu tive que
aceitar,
que eu viera ao mundo, para fazer algo por ele,
para tentar dar-lhe o
melhor de mim,
deixar rastros positivos de minha passagem e ,
em dado momento
partir...
Eu tive que
aceitar que meus pais não durariam para sempre,
e que meus filhos pouco a pouco
escolheriam seus caminhos e
prosseguiriam
sua caminhada sem mim.
Eu tive que
aceitar que eles não eram meus como supunha e
que a liberdade de ir e vir é um direito deles também.
Eu tive que
aceitar que todos os meus bens foram me confiados por empréstimo,
que não me
pertenciam e
que eram tão fugazes quanto fugaz era a minha própria existência
na TERRA.
Eu tive que
aceitar que os bens ficariam para uso de outras pessoas
quando eu já não
estiver por aqui.
Eu tive que
aceitar que varrer minha calçada todos os dias
não me dava nenhuma garantia de
que ela era propriedade minha e
que varrê-la com tanta constância era apenas um
fútil alimento de que eu dava à minha ilusão de posse.
Eu tive que aceitar
que o que eu
chamava de “minha casa”era só um teto
temporário, que dia a mais dia
menos,
seria o abrigo
terreno de outra família.
Eu tive que aceitar que o meu
apego às coisas
só apressaria
ainda mais a minha despedida e a minha partida.
Eu tive que aceitar que meus
animais de estimação,
a árvore que eu plantei, minhas flores e minhas aves eram
mortais.
Eles não me pertenciam!
Foi difícil, mas eu tive que aceitar.
Eu tive que
aceitar as minhas fragilidades os meus limites,
a minha condição de ser mortal,
de ser atingível, de ser perecível.
Eu tive que
aceitar para não perecer!
Eu tive que
aceitar que a VIDA sempre continuaria com ou sem mim,
e que o mundo em pouco tempo me esqueceria.
Eu me rendi e
aceitei que eu tinha que aceitar.
Aceitei para
deixar de sofrer,
para lançar fora o meu orgulho, a minha prepotência
e para
voltar à simplicidade da Natureza,
que trata a todos da mesma maneira, sem favoritismo.
Humildemente eu
a ti confesso
que foi preciso eu fazer cessar umas guerras dentro de mim.
Eu tive que me
desarmar e abrir meus braços para receber
e aceitar a minha tão sonhada Paz!
Texto de Silvia Schmidt