"Quando olhais para uma árvore, pensais nas suas raízes? No
entanto, o seu tronco, os seus ramos, as suas flores e os seus
frutos não são outra coisa senão diferentes expressões das
raízes, que se manifestam através das formas, das cores, dos
perfumes, dos sabores. As raízes são negras, retorcidas, mas o
que sai delas é colorido, harmonioso, e se elas desaparecessem
não haveria mais nada, nem tronco, nem ramos, nem flores, nem
frutos. De futuro, quando olhardes para uma árvore, pensai um
pouco nas suas raízes, na força e na inteligência capazes de
dar origem a um tal esplendor. Como elas estão na sombra, nunca
se fala delas. Mas, se as destruirdes, a árvore morrerá. Ao
passo que, se as raízes permanecerem sãs, mesmo que os ramos
morram, a árvore pode continuar a viver. Eis uma questão sobre
a qual vale a pena refletir.
Em nós, as raízes são representadas pelo plexo solar: todas
as nossas manifestações têm origem no plexo solar."
"Por que é que tantas pessoas desejam tornar-se clarividentes?
Como se “ver” fosse o ponto culminante da vida espiritual! Os
ganhos de dinheiro, as falências, os futuros casamentos, os
divórcios, os inimigos, os amigos, as doenças, etc., – que
interesse tem ver sempre estas mesmas tragédias… ou estas
mesmas comédias? Será que não se vê suficientes coisas deste
género só com os olhos físicos? Quantas vezes, na vida
corrente, não se está já cansado, farto, de tudo aquilo que se
vê! Então, por que se há de querer ver mais e acabar por ficar
esmagado, doente? Será isso inteligente?
Ver… ver… mas ver o quê? É essa a questão. Todos esses
candidatos à clarividência devem ter consciência de que, ao
contrário do que imaginam, essa faculdade os impedirá de
evoluir, sobretudo se eles tentarem adquiri-la sem terem
desenvolvido as qualidades que lhes permitirão fazer alguma
coisa de útil com aquilo que veem. Não basta ver, é preciso
ser capaz de apreender e compreender aquilo que se descobre nos
planos subtis, mas também de enfrentar e suportar as visões do
inferno."
"Está escrito no Génesis que Deus criou o homem à sua imagem.
Mas como se pode dizer com precisão onde acaba o homem e onde
começa a Divindade nele? É impossível! A natureza humana e a
natureza divina estão tão intimamente ligadas, imbricadas uma
na outra, que não se pode delimitá-las. A Divindade habita em
todos os humanos, tanto nos seres mais vulgares como nos
Iniciados. A diferença entre eles está somente na consciência.
Aqueles que não conseguem sentir, aperceber-se de que a
Divindade habita neles impedem-n’A de se manifestar. Assim, há
seres e lugares que estão privados da presença divina, porque
eles não a recebem, não a aceitam.
Deus existe em cada um de nós e quer revelar-se em toda a sua
plenitude, em toda a sua beleza, em todo o seu poder, em toda a
sua luz, em todo o seu amor. Mas cabe-nos a nós, primeiro, tomar
consciência dessa presença para permitir que ela se revele e
possa agir."
"O mundo físico está feito de tal modo que não existe nada que
não acabe por receber, com o tempo, algumas poeiras ou algumas
sujidades. Uma casa, por mais bela que seja, é invadida pouco a
pouco pelo pó e pelas teias de aranha se não for limpa
regularmente. Acontece o mesmo com a casa que nós também somos,
a começar pelo nosso corpo físico, que precisa de ser limpo,
lavado, para que as poeiras e as teias de aranha de toda a
espécie não se oponham ao trabalho das entidades superiores que
vêm trazer-nos a vida do mundo divino.
Mas não basta preocupar-se com a manutenção em bom estado do
corpo físico. Todos os dias devemos preocupar-nos com essas
outras moradas que são os nossos corpos astral e mental. E
ocupar-se deles significa purificar os nossos pensamentos e os
nossos sentimentos, libertá-los de todos os elementos de
egoísmo, de agressividade, etc., que eles contêm, para que
possamos vibrar em harmonia com as regiões celestes."
"Aquilo a que se chama sensibilidade não passa, muitas vezes, de
uma tendência doentia que faz com que, às menores críticas,
às mínimas oposições, as pessoas se sintam agredidas,
feridas. Infelizmente, toda a gente tem esta sensibilidade, ela
é muito comum, mas não é a verdadeira sensibilidade.
A verdadeira sensibilidade é ser capaz de perceber a presença
das realidades invisíveis à nossa volta, das correntes que
atravessam o espaço, das entidades que nos rodeiam e nos
visitam. Passam-se muito mais coisas no mundo psíquico do que no
mundo físico e, portanto, é aí, no mundo psíquico, que é
preciso exercitar-se a sentir as correntes, as presenças, tudo o
que é impalpável, subtil. A verdadeira sensibilidade é, pois,
a sensibilidade ao mundo invisível, mas sobretudo àquilo que o
mundo invisível tem de luminoso e de divino."
"Mesmo no ser humano aparentemente mais insignificante
encontram-se qualidades e virtudes que aguardam o momento de se
manifestar. Por isso, mais do que ocupar-se dos defeitos dos seus
discípulos, um Mestre procura fazer aparecer todas as suas
potencialidades divinas. É desta forma que eu trabalho sobre
vós e é também desta forma que vós deveis trabalhar,
alimentando pensamentos sagrados uns pelos outros. Ao alimentar
estes pensamentos sagrados, vós deixais de vos fixar nos
detalhes que não são muito gloriosos, para vos concentrardes no
Princípio Divino nos seres. Fazeis então um bom trabalho sobre
vós mesmos e ajudais também os outros. Ao passo que, se vos
ocupardes dos seus defeitos, é a vós próprios que começais
por fazer mal, porque é como se vos alimentásseis de sujidades,
e também impedis os outros de avançar.
Há imensas pessoas que imaginam que ajudarão os outros a
corrigir-se fazendo notar os seus defeitos. De modo nenhum! Pelo
contrário, só podemos ajudar os outros dirigindo a nossa
atenção para a sua natureza divina."
"Aparentemente, as crianças não têm qualquer poder, são
fracas… Pois bem, é justamente por isso que elas são
bem-sucedidas naquilo em que os poderosos falham. Elas obtêm
sucesso porque são espontâneas, vivas, naturais, e despertam
amor. Várias pessoas vêm apresentar um pedido a um ministro:
elas apresentam argumentos, explicam, insistem… Em vão, não
há nada a fazer. Mas eis que chega o seu filhote, abraça o pai,
sorri-lhe, acaricia-o, e obtém tudo o que pede. A criança faz
cair as carapaças, as barreiras, e abre os corações. Observai
também como age o Sol: ele brilha, envia o seu calor, e aquilo
que nem a tempestade nem o granizo, nem o vento, apesar da sua
força, conseguiram, ele consegue: os humanos começam a tirar as
suas roupas.
A conclusão a tirar destes exemplos é que, se nós formos
frios, altivos, violentos, dominadores, as almas que nos rodeiam
envolvem-se de carapaças. Nós batemos às portas e ninguém nos
responde. Mas se, pelo contrário, nós as aquecermos com os
raios do amor, elas deixam cair as suas carapaças e abrem-se
para nós. É com o calor que as flores se desenvolvem, não com
o frio."
"Quando dais um objeto a alguém, ficais sem ele, evidentemente.
Quando, em troca de um quilo de cerejas que comprais na
mercearia, entregais dinheiro, ficais com menos uns trocos no
vosso porta-moedas. Mas no plano psíquico é diferente: tudo o
que dais de bom e de luminoso enriquece-vos. Sim, e quando tendes
um sentimento de reconhecimento para com os humanos, mesmo que
eles não vos deem nada, vós recebeis alguma coisa. Isto
surpreende-vos? Não, não tem nada de surpreendente.
O reconhecimento é uma abertura do vosso coração e da vossa
alma e, abrindo-vos deste modo, vós recebeis tudo o que há de
belo na Natureza e na vida. Mesmo que esses presentes não vos
estejam particularmente destinados, vós é que os recebeis, ao
passo que aqueles que são ingratos, mesmo que devessem
recebê-los, não recebem nada. Manifestai reconhecimento e
tereis a sensação de que todo o Céu se abre para vós. Várias
vezes por dia, mesmo que não tenhais qualquer razão para
agradecer, dizei: «Obrigado, obrigado, obrigado, Senhor..."
"A vida é como uma combustão lenta. Devemos ter consciência de
que cada esforço físico, mas também cada sensação, cada
sentimento, cada efervescência interior, acarreta a combustão
de numerosos materiais em nós. A maior parte dos humanos
comportam-se como se as suas energias fossem inesgotáveis, não
sabem que tudo neles é medido. Quando uma criatura vem à terra,
é-lhe dada uma certa quantidade de energias e, se ela não for
sensata, se gastar as suas reservas, tanto pior para ela, não
lhe darão mais. Eis a prova: por vezes, faltaria a alguém uma
só gota de vida para poder terminar o seu trabalho, mas ela não
lhe é concedida.
Portanto, atenção: se tendes grandes projetos para realizar,
economizai as vossas energias, elas foram calculadas, pesadas. Se
não estiverdes atentos, no momento em que as vossas reservas
estiverem esgotadas não haverá nada a fazer, tereis de partir
antes de poderdes terminar a vossa tarefa."
"Pronunciar palavras de consagração produz mudanças nas
vibrações dos objetos e das criaturas. Nunca se deve esquecer
que, além do plano físico, existem outros planos mais subtis e
que aquilo que ocorre nesses planos subtis acaba por influenciar
o plano físico. Por isso, devemos, todos os dias, consagrar a
nossa vida a Deus, isto é, consagrar não só as nossas
atividades mas também todo o nosso corpo, com os nossos membros
e os nossos órgãos, para que eles se tornem depositários e
transmissores das correntes de energias puras.
Por que é que eu aconselho os pais a consagrarem os seus filhos
ao Senhor desde o nascimento? Para que, deste modo, eles gravem
na matéria psíquica dos filhos sulcos graças aos quais eles
serão atraídos para uma direção luminosa, divina. Eles
receberão correntes de forças benéficas, ao passo que as
correntes obscuras serão desviadas."
"Tudo o que acontece tem uma razão de ser. Um sábio tem a
certeza de que é assim, por isso nada pode fazê-lo perder a sua
luz e a sua alegria. Mesmo que continue a não conseguir explicar
muitos acontecimentos, ele sabe que um dia terá essas
explicações.
É verdade que a existência nos põe muitas vezes perante
factos e situações que, à primeira vista, nos parecem
incompreensíveis e até absurdas. Mas nada é mais terrível e
perigoso do que concluir daí que a vida é destituída de
sentido. Jamais o sábio pensará, como os pretensos filósofos,
que tudo não passa de acaso, caos e absurdo. Que orgulho o deles
ao afirmarem que não tem sentido aquilo que ainda não conseguem
compreender!"
"Para o bom desenvolvimento dos humanos, os sucessos nem sempre
são desejáveis. Evidentemente, é preferível que quem é fraco
e frágil não encontre obstáculos muito grandes no seu caminho,
porque, em caso de insucesso, não conseguirá re-erguer-se. Mas,
a alguém que é forte, os insucessos vão torná-lo ainda mais
forte; a adversidade e os inimigos dar-lhe-ão energias como se
fossem para ele um alimento, e um dia ele tornar-se-á
invencível.
Infelizmente, não há muitas pessoas que prossigam
corajosamente o seu caminho apesar dos obstáculos e da
adversidade: a maior parte fica desanimada, destroçada. Para se
extrair forças da adversidade é preciso ter já uma grande
riqueza interior. Por vezes, é mesmo o Céu que envia
provações a alguns seres, pois conhece a sua natureza: ele sabe
que, para eles chegarem ao topo, têm de ultrapassar as maiores
dificuldades. Ao passo que os outros, ele trata-os com cuidado,
senão depressa será o seu fim. Portanto, o Céu age de modo
diferente consoante os seres. Por isso, é difícil alguém
pronunciar-se sobre o destino dos humanos: muitas vezes, as suas
provações parecem ser entraves impostos pelo Céu, quando, pelo
contrário, se trata de condições favoráveis que ele lhes
proporciona para eles conseguirem elevar-se até ao topo."
"A vida pode apresentar-nos tantas situações diferentes! Por
isso, para podermos fazer face a elas, nós devemos aprender a
ser flexíveis. Há pessoas que, em todas as circunstâncias,
têm a mesma reação, utilizam o mesmo meio, o mesmo método;
mas, como cada problema exige uma solução particular, elas
estão sempre a chocar contra obstáculos. É preciso que sejam
um pouco mais flexíveis, que usem mais psicologia, que sejam
mais diplomatas; não diplomatas no sentido pejorativo, isto é,
hipócritas e manhosas, mas no sentido em que a diplomacia
subentende uma sabedoria.
O sábio, o verdadeiro sábio, é um diplomata, um psicólogo,
que, perante cada situação e cada indivíduo, sabe que método
escolher para fazer o bem. Ele reflete e encontra a melhor
maneira de manobrar, como o marinheiro que conhece as correntes,
os recifes, e que sabe onde e como conduzir o seu barco para não
naufragar. Ser flexível é, pois, ser sábio e psicólogo."
"As sete cores do prisma são consideradas pela ciência
iniciática como a expressão das virtudes divinas: ao violeta
corresponde o sacrifício; ao anil, a estabilidade; ao azul, a
verdade; ao verde, a esperança; ao amarelo, a sabedoria; ao
laranja, a santidade; ao vermelho, o amor. Concentrando-vos sobre
as diferentes cores, vós podeis obter poderes espirituais, mas
só obtereis verdadeiramente esses poderes se associardes aos
vossos exercícios de concentração a prática das virtudes
correspondentes. Caso contrário, não obtereis coisa nenhuma,
sereis como aqueles que imaginam que podem tornar-se grandes
magos fazendo um determinado ritual ou evocando espíritos sem
nada melhorarem na sua maneira de viver. As entidades superiores
do mundo invisível não cedem a essas tentativas; são apenas as
criaturas dos níveis inferiores, as larvas, os elementais, que
se apresentam junto deles.
Quereis atrair os anjos e os arcanjos? Será por intermédio das
vossas virtudes que o conseguireis. As entidades celestes só se
aproximam daqueles que sabem manifestar a verdadeira luz, ou
seja, a pureza, o desapego, a abnegação."
"Quando se trata de proporcionar felicidade ao povo, a
responsabilidade dos dirigentes é grande, evidentemente. Mas o
povo também tem alguma coisa a fazer para atrair dirigentes que
farão reinar a justiça, a prosperidade, a paz. É essa a
lição contida no conto seguinte.
Era uma vez um reino onde só aconteciam desgraças: fomes,
epidemias, motins… O rei, inquieto, sem saber o que fazer para
evitar aquelas calamidades que também ameaçavam o seu poder,
mandou vir um sábio. E o sábio disse-lhe: «Majestade, a causa
desta situação és tu: vives na indolência e na devassidão,
és muitas vezes duro, injusto, cruel, e é por isso que as
catástrofes estão sempre a afetar o teu povo.» Em seguida, o
sábio apresentou-se perante o povo e disse-lhe: «Se vós
sofreis, é porque o merecestes. Viveis com sensatez? Sois
honestos, pacientes e justos uns para com os outros? Não. Por
isso é que atraístes um monarca que é semelhante a vós.» É
assim que os sábios explicam as coisas. Quando um povo inteiro
decide viver na luz, o Céu envia-lhe dirigentes nobres e
honestos que só lhe trazem bênçãos. Mas, se um povo é
governado por pessoas incapazes de tomar decisões acertadas,
deve saber que é ele o principal responsável por isso."
"Um Mestre espiritual faz um grande sacrifício ao aceitar
instruir os humanos, pois despende com isso muito tempo e muitas
energias que poderia dedicar ao seu próprio desenvolvimento.
Vós direis: «Mas ele ainda não terminou o seu trabalho?» Ele
talvez tenha terminado um certo trabalho, mas há sempre um grau
superior a atingir, uma luz maior, há maiores poderes a
adquirir. E, como ele está sempre a ser ocupado pelos seus
discípulos, não tem muita liberdade para usar o seu tempo e
realizar as suas atividades.
E mesmo em relação ao trabalho que se propôs fazer com os
seus discípulos, um Mestre deve ser paciente. Por vezes, ele
detém-se um momento para esperar por eles, mas nunca volta
atrás. Quando os discípulos se juntam de novo a ele, ele fica
feliz e parte de novo para os levar até regiões mais elevadas.
Mas é novamente obrigado a parar… Quando ele é tentado a
prosseguir sozinho o seu caminho, o seu coração segreda-lhe:
«Sê paciente, espera mais um pouco.» E, mesmo que ele decida
ser severo, depressa o seu coração o impele a mostrar-se
indulgente."
"Pronunciai a palavra “sacrifício” e vereis imediatamente os
rostos a ficarem sombrios, porque, para a maioria dos humanos,
esta palavra está associada à ideia de privações e
sofrimentos. Para o espiritualista, pelo contrário, esta palavra
está associada à ideia de amor, de alegria, de beleza, porque
ele sabe que, ao renunciar a certas coisas que lhe agradam, que
lhe convêm, viverá satisfações muito maiores num plano superior.
O sacrifício é a transformação de uma matéria numa outra.
Sacrificar-se é ser como um pedaço de madeira morta que é
posto no fogo. Antes de entrar no fogo, esse pedaço de madeira
é feio e inútil. Mas, a partir do momento em que aceita entrar
no fogo para o alimentar, ele próprio se torna fogo, calor, luz,
beleza. Libertai-vos, pois, desse pensamento de que o sacrifício
é acompanhado de sofrimentos e privações, pois graças a ele
saireis da escuridão para vos tornardes luz."
"Ide junto de uma roseira em flor e olhai para ela com a
consciência de que estais perante criaturas vivas que desceram
do planeta Vénus. Ficareis a pensar como é possível as rosas
terem vindo de Vénus se as condições atmosféricas que lá
existem tornam impossível qualquer forma de vida… É verdade.
Mas, para a ciência iniciática, os planetas não são apenas os
corpos físicos, materiais, que a astronomia estuda; para a
ciência iniciática, os planetas são vias de passagem,
intermediários entre as correntes cósmicas e a terra. Por
intermédio dos planetas, a Terra recebe correntes, influências,
oriundas do próprio Deus. Foi por isso que, desde tempos
imemoriais, os Iniciados associaram os planetas a qualidades, a
virtudes: a Lua à pureza, Mercúrio à inteligência, Júpiter
à generosidade, etc.
Os planetas servem, pois, de reservatórios para as correntes
que percorrem o espaço e que, consoante a sua natureza, vêm
condensar-se na Terra neste ou naquele recetáculo. As rosas são
os recetáculos das correntes que vêm de Vénus, as correntes do
amor. Quando nos aproximamos delas, recebemos esse amor."
"Dar – eis um pensamento que deveis ter sempre presente. Sim,
habituai-vos a dar, e a dar o que possuís de melhor.
Evidentemente, esta filosofia não está muito disseminada entre
os humanos: por toda a parte, eles só pensam em apropriar-se, e
os seres só lhes interessam na medida em que podem obter deles
qualquer coisa. Mesmo quando vêm a uma escola iniciática,
alguns só pensam em “sacar”. Mas, ao fim de algum tempo,
como não há assim tantas coisas de que possam apropriar-se,
exceto verdades que não lhes interessam, eles aborrecem-se e
vão embora.
Então, de futuro é assim que deveis ver as coisas: pensai que
existe em vós uma terra magnífica, um jardim no qual cultivais
toda a espécie de flores e de frutos, e que levais a toda a
gente os produtos desse jardim. Graças a esse desejo de fazer
alguma coisa pelos outros, as portas abrir-se-ão perante vós,
tudo vos parecerá novo, fareis constantemente novas descobertas.
É quando quereis dar, levar alguma coisa aos outros, que a vida
começa a jorrar em vós."
"Um sábio estava no seu jardim a colher frutos. Subitamente,
ouviu um barulho e viu um homem a correr: «Onde vais tu tão
depressa?, perguntou ele. – O meu vizinho está a perseguir-me
com uma espingarda. Diz que fui eu que ateei fogo ao celeiro
dele. – Vai-te embora rapidamente, eu vou tratar disso.» Chega
o outro homem: «Para onde vais a correr?, perguntou o sábio.
Estás com um ar muito afogueado. Senta-te aí um instante. –
Não, tenho de apanhar um indivíduo que pôs fogo no meu
celeiro. Ele vai levar um corretivo que não esquecerá até ao
fim da vida. – Mas ele agora já deve estar longe. Olha para
estes frutos. Eles são deliciosos. Senta-te e prova-os.» O
homem acaba por sentar-se, regala-se com os frutos e o sábio
leva-o também a admirar as flores e as árvores do jardim, o
céu azul, etc. Esta pequena paragem mudou o seu humor, ele
desistiu de procurar o vizinho e propôs mesmo ao sábio
ajudá-lo a colher os seus frutos.
Vós direis que é uma história inverosímil. Não é assim
tanto… O sábio sabia que, se se atravessasse no caminho do
homem colérico e lhe dissesse: «Para, não vale a pena correres
assim», o outro ter-lhe-ia dado um empurrão sem querer ouvir
nada e ele teria sido obrigado a usar a força. Então, o que é
que ele fez? Desviou a sua atenção oferecendo-lhe frutos. Isto
significa que, para se impedir os humanos de fazer mal, mais do
que opor-se a eles, é preferível tentar desviar as suas
energias noutra direção."